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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Polinização é ameaçada por desmatamento e agrotóxicos no Brasil


Declínio desse serviço ambiental, estimado em R$ 43 bilhões em 2018, põe em risco a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade brasileira, alertam autores do primeiro relatório sobre o tema no país (fotos: Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP))

Das 191 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas para a produção de alimentos no Brasil, com processo de polinização conhecido, 114 (60%) dependem da visita de polinizadores, como as abelhas, para se reproduzir. Entre esses cultivos estão alguns de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max), o café (Coffea), o feijão (Phaseolus vulgaris L.) e a laranja (Citrus sinensis).

Esse serviço ambiental (ecossistêmico), estimado em R$ 43 bilhões anuais, fundamental para garantir a segurança alimentar da população e a renda dos agricultores brasileiros, tem sido ameaçado por fatores como o desmatamento, as mudanças climáticas e o uso de agrotóxicos. A fim de combater essas ameaças, que colocam em risco a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade brasileira, são necessárias políticas públicas que integrem ações em diversas áreas, como a do meio ambiente, da agricultura e da ciência e tecnologia.

O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores autores do 1º Relatório Temático de Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil e de seu respectivo “Sumário para Tomadores de Decisão”, lançados quarta-feira (06/02), durante evento na FAPESP.

Resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, da sigla em inglês), apoiada pelo Programa BIOTA-FAPESP, e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP), o relatório foi elaborado nos últimos dois anos por um grupo de 12 pesquisadores e revisado por 11 especialistas.

O grupo de pesquisadores fez uma revisão sistemática de mais de 400 publicações de modo a sintetizar o conhecimento atual e os fatores de risco que afetam a polinização, os polinizadores e a produção de alimentos no Brasil, e apontar medidas para preservá-los.

“O relatório aponta que o serviço ecossistêmico de polinização tem uma importância não só do ponto de vista biológico, da conservação das espécies em si, como também econômica. É essa mensagem que pretendemos fazer chegar a quem toma decisões no agronegócio, no que se refere ao uso de substâncias de controle de pragas ou de uso da terra no país”, disse Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do programa BIOTA-FAPESP e membro da coordenação da BPBES, durante o evento.

O relatório indica que a lista de “visitantes” das culturas agrícolas supera 600 animais, dos quais, no mínimo, 250 têm potencial de polinizador. Entre eles estão borboletas, vespas, morcegos, percevejos e lagartos.

As abelhas predominam, participando da polinização de 91 (80%) das 114 culturas agrícolas que dependem da visita de polinizadores e são responsáveis pela polinização exclusiva de 74 (65%) delas.

Algumas plantas cultivadas ou silvestres dependem, contudo, exclusivamente ou primordialmente de outros animais para a realização desse serviço, como é o caso da polinização de flores de bacuri (Platonia insignis) por aves. Outros exemplos são da polinização de flores de pinha (Annona squamosa) e araticum (Annona montana) por besouros, de flores de mangaba (Hancornia speciosa) por mariposas e de flores de cacau (Theobroma cacao) por moscas.

“As plantas cultivadas ou silvestres visitadas por esses animais polinizadores enriquecem a nossa dieta ao prover frutas e vegetais que fornecem uma série de nutrientes importantes”, disse Marina Wolowski, professora da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e coordenadora do relatório. “Outras plantas cultivadas pelo vento, como o trigo e o arroz, por exemplo, estão mais na base da dieta”, comparou.

Os pesquisadores avaliaram o grau de dependência da polinização por animais de 91 plantas para a produção de frutas, hortaliças, legumes, grãos, oleaginosas e de outras partes dos cultivos usadas para consumo humano, como o palmito (Euterpe edulis) e a erva-mate (Ilex paraguariensis)

As análises revelaram que, para 76% delas (69), a ação desses polinizadores aumenta a quantidade ou a qualidade da produção agrícola. Nesse grupo de plantas, a dependência da polinização é essencial para 35% (32), alta para 24% (22), modesta para 10% (9) e pouca para 7% (6).

A partir das taxas de dependência de polinização dessas 69 plantas, os pesquisadores estimaram o valor econômico do serviço ecossistêmico de polinização para a produção de alimentos no Brasil. O cálculo foi feito por meio da multiplicação da taxa de dependência de polinização por animais pela produção anual do cultivo.

Os resultados indicaram que o valor do serviço ecossistêmico de polinização para a produção de alimentos no país girou em torno de R$ 43 bilhões em 2018. 
Cerca de 80% desse valor está relacionado a quatro cultivos de grande importância agrícola: a soja, o café, a laranja e a maçã (Malus domestica).

“Esse valor ainda está subestimado, uma vez que esses 69 cultivos representam apenas 30% das plantas cultivadas ou silvestres usadas para produção de alimentos no Brasil”, ressaltou Wolowski.


Fatores de risco

O relatório também destaca que o serviço ecossistêmico de polinização no Brasil tem sido ameaçado por diversos fatores, tais como desmatamento, mudanças climáticas, poluição ambiental, agrotóxicos, espécies invasoras, doenças e patógenos.

O desmatamento leva à perda e à substituição de hábitats naturais por áreas urbanas. Essas alterações diminuem a oferta de locais para a construção de ninhos e reduzem os recursos alimentares utilizados por polinizadores.

Já as mudanças climáticas podem modificar o padrão de distribuição das espécies, a época de floração e o comportamento dos polinizadores. Também são capazes de ocasionar alterações nas interações, invasões biológicas, declínio e extinção de espécies de plantas das quais os polinizadores dependem como fonte alimentar e para construção de ninhos, e o surgimento de doenças e patógenos.

Por sua vez, a aplicação de agrotóxicos para controle de pragas e patógenos, com alta toxicidade para polinizadores e sem observar seus padrões e horários de visitas, pode provocar a morte, atuar como repelente e também causar efeitos tóxicos subletais, como desorientação do voo e redução na produção de prole. Além disso, o uso de pesticidas tende a suprimir ou encolher a produção de néctar e pólen em algumas plantas, restringindo a oferta de alimentos para polinizadores, ressaltam os autores do relatório.

“Como esses fatores de risco que ameaçam os polinizadores não ocorrem de maneira isolada é difícil atribuir o peso de cada um deles separadamente na questão da redução das populações de polinizadores que tem sido observada no mundo”, disse Wolowski.

Na avaliação dos pesquisadores, apesar do cenário adverso, há diversas oportunidades disponíveis para melhorar o serviço ecossistêmico de polinização, diminuir as ameaças aos polinizadores e aumentar o valor agregado dos produtos agrícolas associados a eles no Brasil.

Entre as ações voltadas à conservação e ao manejo do serviço ecossistêmico de polinização estão a intensificação ecológica da paisagem agrícola, formas alternativas de controle e manejo integrado de pragas e doenças, redução do deslocamento de agrotóxicos para fora das plantações, produção orgânica e certificação ambiental.

Uma política pública destinada aos polinizadores, à polinização e à produção de alimentos beneficiaria a conservação desse serviço ecossistêmico e promoveria a agricultura sustentável no país, estimam os pesquisadores.

“Esperamos que o relatório ajude a estabelecer planos estratégicos e políticas públicas voltadas à polinização, polinizadores e produção de alimentos em diferentes regiões do país”, afirmou Kayna Agostini, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e também coordenadora do estudo.

Na avaliação de Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, o relatório incorpora várias atividades que o programa BIOTA tem feito ao longo dos seus 20 anos de existência. Entre elas, a de fornecer subsídios para políticas públicas.

“O BIOTA-FAPESP participa ativamente da vida do Estado de São Paulo e do país ao fornecer subsídios científicos para as decisões governamentais e, ao mesmo tempo, realizar atividade de pesquisa da maior qualidade em uma área vital”, disse Zago na abertura do evento.

Também esteve presente na abertura do evento Fernando Dias Menezes de Almeida, diretor administrativo da FAPESP. 

 



Elton Alisson

Agência FAPESP



Estado de São Paulo bate novo recorde na vacinação contra a brucelose


Dados do sistema informatizado Gestão de Defesa Animal e Vegetal (Gedave), vinculado à Coordenadoria de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostram que o índice de vacinação contra a brucelose durante o ano de 2018 foi de 94,23% das fêmeas bovídeas (bovinas e bubalinas) com idade entre três e oito meses. O índice anterior foi de 2017, com 93,50%.

Em relação ao ano anterior, houve redução no número de fêmeas na faixa etária de vacinação obrigatória. Em 2017, foi registrado um total de 923.620 fêmeas e, em 2018, esse número reduziu para 887.357 fêmeas.



Dados do segundo semestre

Durante o segundo semestre de 2018, estavam aptas a receber a vacinação contra a brucelose 392.796 fêmeas bovídeas. A cobertura vacinal foi de 93,55%. O sistema recebeu no semestre a declaração de 39.368 propriedades, representando 85,62% do total de propriedades com fêmeas bovídeas com idade entre três a oito meses.

O médico veterinário da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Klaus Saldanha Hellwig, que junto à Coordenadoria de Defesa Agropecuária responde pelo Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose (PECEBT) disse que “a vacinação contra a brucelose é realizada uma única vez na vida das fêmeas, quando elas estão com idade entre 3 e 8 meses, mas o criador deve estar atento ao calendário estabelecido no Estado”. Fêmeas vacinadas entre dezembro e maio devem ser declaradas no sistema Gedave até o dia 7 de junho, e as vacinadas entre os meses de junho e novembro devem ser informadas até o dia 7 de dezembro.

Os criadores que deixaram de vacinar, ou deixaram de informar, foram notificados pelo órgão oficial de Defesa Agropecuária.  A autuação pelo descumprimento da legislação é de 5 Ufesps por cabeça por deixar de vacinar e 3 Ufesps por cabeça por deixar de comunicar.

O valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (Ufesp) para 2019 é de 26,53 reais.
 

Brucelose - É uma zoonose (doença que acomete os animais e o homem) infecto-contagiosa causada pela bactéria Brucella abortus. Nos bovinos pode causar aborto; nascimento de bezerros fracos; retenção de placenta; repetição de cio e descargas uterinas com grande eliminação da bactéria, além de inflamação nos testículos.

Na relação abaixo estão: o quantitativo de bovídeos com idade entre 3 a 8 meses existentes no segundo semestre de 2018; o número de animais vacinados; e o índice de imunização em cada regional de Defesa Agropecuária (EDA).

EDA de Andradina - 17.212 - 17.196 - 99,91%
EDA de Araçatuba - 12.956 - 12.913 - 99,67%
EDA de Araraquara - 5.117 - 4.983 - 97,38%
EDA de Assis - 8.007 - 7.637 - 95,38%
EDA de Avaré - 9.901 - 9.578 - 96,74%
EDA de Barretos - 4.155 - 3.401 - 81,85%
EDA de Bauru - 13.808 - 13.264 - 96,06%
EDA de Botucatu - 9.820 - 8.831 - 89,93%
EDA de Bragança Paulista - 7.275 - 5.523 - 75,92%
EDA de Campinas - 4.580 - 3.826 - 83,54%
EDA de Catanduva - 3.041 - 2.760 - 90,76%
EDA de Dracena - 15.620 - 15.491 - 99,17%
EDA de Fernandópolis - 9.018 - 8.959 - 99,35%
EDA de Franca - 7.421 - 5.528 -74,49%
EDA de General Salgado - 13.822 - 13.016 - 94,17%
EDA de Guaratinguetá - 14.875 - 14.714 - 98,92%
EDA de Itapetininga - 12.191 - 10.685 - 87,65%
EDA de Itapeva - 8.679 - 6.724 - 77,47%
EDA de Jaboticabal - 3.155 - 2.876 - 91,16%
EDA de Jales - 15.500  - 15.471 - 99,81%
EDA de Jaú - 4.424 - 4.375 - 98,89%
EDA de Limeira - 4.876 - 4.553 - 93,38%
EDA de Lins - 13.491 - 13.286 - 98,48%
EDA de Marília - 15.746 - 15.740 - 99,96%
EDA de Mogi das Cruzes - 1.084 – 657 - 60,61%
EDA de Mogi-Mirim - 3.121 - 2.493 - 79,88%
EDA de Orlândia - 2.916 - 2.604 - 89,30%
EDA de Ourinhos - 9.810 - 9.801 - 99,91%
EDA de Pindamonhangaba - 15.391 - 13.444 - 87,35%
EDA de Piracicaba - 6.515 - 5.807 - 89,13%
EDA de Presidente Prudente - 25.856 - 23.729 - 91,77%
EDA de Presidente Venceslau - 27.114 - 26.084 - 96,20%
EDA de Registro - 5.198 - 4.841 - 93,13%
EDA de Ribeirão Preto - 4.575 - 3.588 - 78,43%
EDA de São João da Boa Vista - 13.929 - 13.865 - 99,54%
EDA de São José do Rio Preto - 14.423 - 12.120 - 84,03%
EDA de São Paulo - 267 - 99 - 37,08%
EDA de Sorocaba - 6.214 - 5.366 - 86,35%
EDA de Tupã - 14.054 - 14.054 - 100,00%
EDA de Votuporanga - 7.639 - 7.562 - 98,99%
TOTAL DO ESTADO - 392.796 - 367.455 - 93,55%




Teresa Paranhos

 

Aprovado plano que protege seis espécies de mamíferos da Amazônia

WCS Brasil, que atua diretamente em projetos  de conservação focados na Bacia Amazônica, comemora a medida: “toda a biodiversidade da Amazônia se beneficiará com esta medida, que se agrega a outras iniciativas em curso pela proteção da maior Bacia Hidrográfica do Planeta”, destaca Organização

 

Foi aprovado, nesta semana, o Plano de Ação Nacional para Conservação de Mamíferos Aquáticos Amazônicos Ameaçados de Extinção (PAN Mamíferos Aquáticos Amazônicos), que contempla seis espécies: boto-cor-de-rosa, peixe-boi-da-amazônia, ariranha, lontra, tucuxi e boto-do-araguaia. A iniciativa, que será coordenada pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), do ICMBio, tem como objetivo reduzir e mitigar as pressões do homem e aumentar o conhecimento sobre os mamíferos aquáticos da Amazônia, visando a sua conservação até 2024.

O PAN estabelece estratégias prioritárias de conservação para três espécies ameaçadas de extinção constantes da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, sendo uma classificada na categoria EN (em perigo) Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e duas classificadas na categoria VU (vulnerável) peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) e ariranha (Pteronura brasiliensis). Em paralelo, serão traçadas ainda estratégias para conservação de outras três espécies, sendo duas espécies classificadas como NT (quase ameaçada) Tucuxi (Sotalia fluviatilis) e lontra (Lontra longicaudis) e uma espécie de considerada ameaçada de extinção no segundo ciclo de avaliação do estado de conservação de mamíferos aquáticos (2016-2020), o boto-do-araguaia (Inia araguaiaensis).

Para Carlos Durigan, diretor executivo da WCS Brasil, que atua desde 2004 na Amazônia e lidera a iniciativa Águas Amazônicas (IAA), apesar de focar em seis espécies, toda a biodiversidade da Amazônia se beneficiará desta medida, principalmente as espécies e ecossistemas aquáticos da região. “Tradicionalmente, os ecossistemas terrestres têm sido priorizados em medidas de conservação e manejo na Amazônia, porém a vulnerabilidade dessas espécies mostra a importância de ações como o PAN e a IAA e como elas podem se complementar para efetivamente evitar que a vida na região como a conhecemos não seja mais tão afetada”, destacou.

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