De acordo com a FecomercioSP, apesar de o otimismo ser pontual, há cautela estrutural
Pagamento do décimo terceiro e festas de fim de ano
aumentaram o fluxo do varejo e as contratações temporárias, bem como
estimularam o consumo na capital paulista em novembro. Segundo a Federação do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a Intenção de
Consumo das Famílias (ICF) — que mede o humor e a propensão imediata ao
consumo — sinalizou alta de 2,6% em relação a outubro e alcançou 109,8 pontos
em novembro [gráfico 1]. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que
reflete percepções sobre o ambiente econômico e as expectativas de longo prazo,
também avançou, registrando 4,4% frente a outubro, marcando 118,7 pontos
[gráfico 2].
[GRÁFICO
1]
Intenção de
Consumo das Famílias (ICF)
Série Histórica —
13 meses
Fonte:
FecomercioSP
[GRÁFICO
2]
Índice de
Confiança do Consumidor (ICC)
Série histórica —
13 meses
Fonte:
FecomercioSP
Segundo a FecomercioSP, os dados refletem, de forma
significativa, que há otimismo pontual, mas ainda cautela estrutural. Os
estímulos de curto prazo favorecem principalmente as compras de menor valor, a
reposição básica e o pagamento de dívidas, mas não alteram o quadro marcado por
crédito caro, juros elevados e renda real ainda limitada.
Melhoria da intenção de
consumo em relação ao ano passado
O ICF avançou 4,1% em relação ao mesmo período do
ano passado, indicando melhoria moderada na disposição imediata dos lares para
consumir. Esse resultado foi impulsionado pelo décimo terceiro e pelas
expectativas de contratações temporárias e vendas natalinas, reforçando a
sensação de estabilidade de renda.
[TABELA
1]
Índice de
Confiança do Consumidor (ICF) — renda, gênero e idade
Fonte:
FecomercioSP
No entanto, dois dos sete indicadores do ICF permaneceram na zona de pessimismo: momento para duráveis (75,3 pontos) e nível de consumo atual (86,8 pontos). Esses dados mostram que o consumidor está evitando compromissos financeiros prolongados, em razão da inflação acima da meta, a Selic em 15% ao ano e as incertezas fiscais quanto a 2026.
No comparativo anual, dois indicadores também registraram queda: renda atual (-1,4%) e momento para duráveis (-1,2%), reforçando que, apesar de haver melhoria na percepção, as condições objetivas para consumir permanecem limitadas.
Na análise por faixa de renda, para as famílias com até dez salários mínimos, a alta foi de 3% no mês, registrando 108,2 pontos — no comparativo anual, o crescimento foi de 8% —, apontando resiliência relativa, favorecida por ganho marginal de renda real e pelo efeito do décimo terceiro salário. Contudo, o endividamento elevado e o crédito caro continuam limitando uma recuperação mais firme.
Já para as famílias com mais de dez salário
-mínimos, houve queda de 5,3% em relação a outubro, chegando a 114,4 pontos. No
comparativo anual, porém, apresentou uma alta de 1,8%. Essas famílias são mais
sensíveis ao cenário macroeconômico e refletem expectativas negativas em
relação a volatilidade internacional, desaceleração do Produto Interno Bruto
(PIB) e dúvidas sobre o próximo ano.
Melhoria na intenção de
consumo em comparação com 0o ano passado
O ICC registrou queda de 4,3% em relação a novembro
de 2024 — sendo a 16º retração interanual —, sinal de que, apesar do
alívio recente, o cenário de longo prazo permanece deteriorado. A melhoria
mensal está associada ao ambiente típico de fim de ano, quando a injeção do
décimo terceiro e as datas sazonais de mais consumo, como Black Friday e Natal,
reforçam o otimismo imediato das famílias.
[GRÁFICO
3]
Subíndices do
Índice de Confiança do Consumidor (ICC)
Série histórica — 13
meses
Fonte:
FecomercioSP
Dentre os indicadores do ICC, o Índice de Confiança
Econômica das Famílias (ICEA) avançou 4,2% em novembro e alcançou 114 pontos,
sinalizando uma percepção mais favorável sobre o momento presente. A injeção do
décimo terceiro também contribuiu para ampliar a liquidez dos lares,
favorecendo tanto o consumo imediato quanto a quitação de dívidas. Apesar do
avanço mensal, o índice registrou queda anual de 1,5%, refletindo o alto nível
de endividamento.
O Índice de Expectativas do Consumidor (IEC), por sua vez, também registrou alta (4,6%) em novembro, atingindo 121,8 pontos. Mesmo com o avanço mensal, no comparativo interanual houve queda de 5,9%, sinalizando uma revisão das projeções de médio prazo. O descompasso entre a melhoria de curto prazo e a fragilidade estrutural resulta em um consumidor mais seletivo, prudente e focado em necessidades imediatas.
Estratégias para o Varejo
O comportamento do consumidor em novembro revela
uma conjuntura de oportunidades no curto prazo, impulsionada pela sazonalidade
de fim de ano, mas marcada por maior racionalidade nas decisões de compra. Para
aproveitar esse momento, a FecomercioSP indica que o varejo deve intensificar
promoções e condições atrativas de parcelamento, garantir uma experiência
fluida entre canais físico e digital e reforçar operações logísticas para
atender à demanda de forma rápida e eficiente. As estratégias baseadas em dados
também ganham relevância, permitindo campanhas personalizadas que conversem
diretamente com o momento e o perfil de cada público.
Em médio e longo prazos, porém, a cautela do
cliente diante de fundamentos econômicos ainda frágeis exige ações voltadas
para a retenção e a construção de confiança. Nesse sentido, programas de
fidelização, investimentos em produtividade e digitalização, crédito
responsável e sortimentos ajustados ao novo padrão de consumo tornam-se
essenciais. A atenção a indicadores como Selic, inflação e custo do crédito
também será determinante para orientar decisões estratégicas em um ambiente que
ainda carece de fortes sinais de recuperação.
Diante disso, a Federação aponta que as
perspectivas para o Comércio seja de um fim de ano moderado, sustentado pelas
festividades, mas ainda condicionado por um cenário estrutural desafiador.
Sendo assim, as empresas que apostarem em eficiência, personalização e
relacionamento terão vantagem competitiva em um mercado cada vez mais seletivo.
Nota
metodológica
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado
mensalmente pela FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com
aproximadamente 2,1 mil consumidores no município de São Paulo. O objetivo é
identificar o sentimento dos consumidores levando em conta suas condições
econômicas atuais e suas expectativas quanto à situação econômica futura. Esses
dados são segmentados por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero
(pessimismo total) a 200 (otimismo total). Sua composição, além do índice
geral, se apresenta como: Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e
Índice das Expectativas do Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como
um balizador para decisões de investimento e para formação de estoques por
parte dos varejistas, bem como para outros tipos de investimento das empresas.
ICF
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias
(ICF)
é apurado mensalmente pela FecomercioSP, desde janeiro de 2010, com dados de
2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete
itens: Emprego Atual; Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito;
Nível de Consumo; Perspectiva de Consumo; e Momento para Duráveis. O índice vai
de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de cem pontos é considerado
insatisfatório, e acima de cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é
ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível — a
partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos
econométricos — que seja uma ferramenta poderosa para o varejo, para os
fabricantes, para as consultorias, assim como para as instituições financeiras.
FecomercioSP




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