Como pode uma condição que muitas vezes se anuncia
sem alarde representar uma das maiores urgências na medicina moderna? A
trombose venosa profunda (TVP) é uma resposta a esse questionamento. Essa
presença silenciosa carrega um potencial devastador. Quando um coágulo se forma
nas veias profundas, geralmente dos membros inferiores, inicia-se uma corrida
contra o tempo. O verdadeiro perigo está na jornada desse trombo: ao se
desprender, ele viaja pela corrente sanguínea até alcançar os pulmões, onde
desencadeia a embolia pulmonar. Esse evento, parte da entidade clínica
conhecida como tromboembolismo venoso (TEV), exige uma resposta médica
imediata, na qual cada minuto conta para preservar a vida e evitar sequelas
incapacitantes.
A dimensão do desafio para a saúde pública se
revela em números que impressionam pela magnitude. Dados compilados pela
Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, apresentam um quadro
que também exige atenção. Entre 2012 e 2023, o Sistema Único de Saúde
contabilizou quase 490 mil internações por trombose venosa, uma média que
supera 165 casos a cada dia. Um olhar sobre um período de doze anos, de 2010 a
2021, revela uma realidade ainda mais severa: mais de 520 mil hospitalizações
por TEV e um saldo trágico de 67 mil óbitos. Segundo a pesquisa,
aproximadamente um terço dos pacientes com TEV morre de forma súbita, sem
sequer receber a chance de um tratamento. Então, quantas dessas vidas poderiam
ser salvas com maior conhecimento e ação precoce? A frequência de casos aumenta
com a idade, que salta de 1 caso a cada 10.000 pessoas com menos de 40 anos
para 1 a cada 100 indivíduos acima dos 75 anos, um indicativo de como o
envelhecimento vascular fragiliza o organismo.
A formação do coágulo obedece a um princípio antigo
e ainda plenamente vigente: a estagnação do fluxo sanguíneo, as alterações na
coagulação do e uma lesão na parede do vaso. Quando estes elementos convergem,
o trombo se instala. Se ele se liberta, a embolia pulmonar se apresenta com uma
sintomatologia aguda e aterradora — dor torácica penetrante, falta de ar
incapacitante e uma sensação iminente de fim.
Detectar a TVP nos estágios iniciais é decisivo
para evitar desfechos graves. Os sinais do corpo são nítidos, ainda que muitas
vezes subestimados. Inchaço assimétrico em uma perna, dor contínua na panturrilha,
aquecimento localizado ou mudança de coloração cutânea para tons avermelhados
ou arroxeados indicam comprometimento da circulação. Não são simples
desconfortos, pois revelam uma condição vascular que já perdeu o equilíbrio.
Adiar a avaliação médica, nesse cenário, significa correr riscos
desnecessários.
Alguns grupos estão mais vulneráveis. Permanecer
imóvel por longos períodos — seja após cirurgias, em internações prolongadas ou
em viagens extensas — aumenta o risco de forma significativa. Histórico familiar
ou pessoal de trombose, tratamento oncológico, tabagismo e uso de hormônios
sintéticos também elevam essa suscetibilidade. Idade avançada, excesso de peso
e predisposição genética completam o quadro. Esses fatores, quando combinados,
criam um ambiente propício à formação de trombos.
Como se proteger? A resposta começa com atitudes
simples, mas de efeito promissor. Movimentar o corpo com frequência ativa a
musculatura da panturrilha, considerada um motor auxiliar do retorno venoso.
Manter a hidratação favorece a fluidez do sangue e reduz o risco de coagulação
excessiva. Em situações clínicas específicas, a medicina dispõe de recursos
eficazes, como meias de compressão, anticoagulantes profiláticos e dispositivos
de compressão mecânica.
A trajetória entre o primeiro sintoma e o
diagnóstico exige atenção imediata. Exames como o Doppler vascular, somados à
conduta clínica correta, mudam o curso da doença. A demora, por outro lado,
pode deixar cicatrizes permanentes — ou mesmo abreviar uma vida.
A trombose é, assim, uma adversária sorrateira, mas não invencível. E o conhecimento, neste caso, salva. Ampliar o entendimento sobre essa condição é uma forma de reduzir seu impacto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário