Nos últimos anos a população idosa tem aumentado cada vez mais,
isso é uma conquista na marca da humanidade, mas também é um desafio em
proporcionar qualidade de vida para a terceira idade, que é considerada a
população com 60 anos ou mais. No Brasil segundo dados do IBGE são mais de 28
milhões de pessoas nessa faixa etária, o que representa 13% da população. No
último século, a esperança média de vida aumentou em média 30 anos nas regiões
desenvolvidas do mundo.
O envelhecimento deve ser entendido como um processo natural de
desgaste fisiológico dos sistemas do organismo. Tal desgaste pode ocasionar
diminuição das capacidades físicas e um aumento relativo da incapacidade para
realização de atividades cotidianas. Apesar de não estabelecido oficialmente, o
termo envelhecimento é frequentemente empregado para descrever as mudanças de
forma e função ao longo da vida, que ocorrem nos organismos após a maturação
sexual e que progressivamente comprometem a capacidade de resposta dos
indivíduos ao estresse ambiental e à manutenção da homeostasia.
O processo de envelhecimento pode ser dividido em envelhecimento
biomédico (focada na dicotomia saúde-doença) e psicossocial (capacidade de
manter a atividade mental e a vida social). O envelhecimento ativo mantém três
características, probabilidade baixa de doenças e de incapacidades relacionadas
às mesmas, alta capacidade funcional cognitiva e física e engajamento ativo com
a vida, as variáveis gênero, escolaridade, renda familiar e capacidade
funcional influenciam no envelhecimento saudável e ativo.
A transição demográfica acarreta a transição epidemiológica, o que
significa que o perfil de doenças da população muda de modo radical, pois
teremos que aprender a controlar as doenças do idoso. Em um país essencialmente
jovem, as doenças são caracterizadas por eventos causados por moléstias
infectocontagiosas, cujo modelo de resolução é baseado no dualismo cura/morte.
O perfil de doenças no idoso muda para o padrão de doenças crônicas, portanto,
o paradigma muda.
O envelhecimento populacional traz consigo problemas de saúde que
desafiam os sistemas de saúde e de previdência social. Envelhecer não significa
necessariamente adoecer. Os avanços no campo da saúde e da tecnologia
permitiram para a população com acesso a serviços públicos ou privados
adequados uma melhor qualidade de vida nessa fase.(KALACHE, 2008)
O envelhecer é um processo progressivo de diminuição de reserva
funcional, no caso, a senescência. No processo de envelhecimento é importante não apenas para entender
a etiologia associada aos processos degenerativos que lhe estão associados, mas
fundamentalmente para conhecer e desenvolver estratégias que atenuem os efeitos
da senescência. (LIENGME et al., 2015)
Para a Organização Mundial da Saúde a definição de velhice é
baseada na idade cronológica, na qual a definição de idoso inicia aos 65 anos
nos países desenvolvidos e aos 60 anos nos países em desenvolvimento. No
Brasil, de acordo com o Estatuto do Idoso (2003), as pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos são reconhecidas como idosas. Entretanto, alguns direitos
como a gratuidade no transporte coletivo público urbano e semiurbano só é
concedida aos maiores de 65 anos.
Com o processo de envelhecimento, ocorrem mudanças fisiológicas,
sociais/econômicas, psicológicas/emocionais entre outras. Tais mudanças não
raras vezes se apresentam acompanhadas de perda de papéis sociais, solidão,
perdas afetivas e aumento da vulnerabilidade. Também é característica dessa
fase a diminuição da capacidade de recuperação dos efeitos de eventos que
desequilibram o organismo e menor plasticidade neural. Todas as atitudes
tomadas ao longo da vida influenciam na velhice, como alimentação, sono,
exercícios físicos, exercícios mentais, vícios entre outros.
Socialmente, pode-se inferir que a pessoa é definida como idosa a
partir do momento em que deixa o mercado de trabalho, no entanto um indivíduo
pode ser mais velho ou mais jovem dependendo de como ele se comporta dentro de
uma classificação esperada para sua idade em uma sociedade ou cultura
particular.
A relação existente entre afeto e emoção é fundamental na vida, o
que indica a necessidade de se investir na afetividade para a construção de
relações interpessoais mais harmoniosas; a velhice é uma época de muitas
carências e, sujeita a preconceitos que limitam as possibilidades dos idosos. O
lazer é visualizado como uma possibilidade de melhoria da qualidade de vida das
pessoas, que permite ao idoso a ressignificação emocional de seu lazer,
favorecendo sua inclusão na vida social e afetiva novamente, fazendo com que a pessoa
se sinta acolhida e útil novamente.
A perspectiva Life-Span colabora para mudar a concepção de que o
idoso é um ser passivo e doente, ressaltando a possibilidade de desenvolvimento
durante todo o curso da vida e enfatiza a importância de atividades para a
manutenção do envelhecimento saudável. A aquisição de novas aprendizagens tem
sido considerada uma tarefa importante nesse sentido, uma vez que pode otimizar
as capacidades cognitivas e favorecer a rede de suporte social do idoso. A
criação de oportunidades de lazer, de socialização e, principalmente, de
educação mostra-se fundamental nessa fase da vida, permitindo equilibrar os
declínios inerentes ao envelhecimento e os benefícios proporcionados por essas
atividades.
O envelhecimento é caracterizado por um declínio das funções
orgânicas que ocasiona diversas modificações em todo o organismo, levando a uma
redução da capacidade funcional. O sistema nervoso central é extremamente
afetado pelos processos de envelhecimento, que são caracterizados por
alterações morfofuncionais, histológicas e nos sistemas de neurotransmissores
que levam a várias mudanças na fisiologia cerebral. Todas as alterações
fisiológicas relacionadas ao envelhecimento são consequências de mudanças nos
processos bioquímicos associados a estes sistemas. Uma importante alteração
seria a neurodegeneração, perda progressiva da estrutura ou funcionamento dos
neurônios, incluindo a morte celular, vide apoptose dessas células.
A plasticidade neural pode ser definida como uma mudança
adaptativa na estrutura e nas funções do sistema nervoso, como função de
interações com o ambiente interno ou externo ou, ainda, como resultado de
injúrias, de traumatismos ou de lesões que afetam o ambiente neural. Na investigação
das relações entre plasticidade neural e comportamento, verificam-se diferentes
níveis de análise comportamental, incluindo desde a análise de respostas
específicas que são aprendidas e memorizadas, até a avaliação de padrões
comportamentais mais complexos, envolvidos na recuperação de função, ou seja,
neuroplasticidade é a capacidade de o cérebro se adaptar a mudanças.
O processo de envelhecimento neurológico pode trazer junto consigo
as demências, que são explicadas como um déficit na função cognitiva de modo
que afete a vida social, profissional ou acadêmica da pessoa, sendo a doença de
Alzheimer a mais prevalente. A demência relacionada com o envelhecimento
normalmente tem um início lento e gradual, com a atrofia hipocampal sendo
manifestada após vários anos de início dos sintomas clínicos. A doença de DA é
uma doença neurodegenerativa progressiva que emergiu como a forma mais
prevalente de demência tardia em humanos. A produção de β amilóide a partir da
proteína precursora de amilóide e seu subsequente acúmulo, agregação e
deposição no cérebro são eventos centrais na patogênese do Alzheimer.
No envelhecimento são perdidos 50% dos neurônios, essa
perda tem sido apontada como o principal fator relacionado à idade para
explicar a diminuição do córtex cerebral, no entanto foi concluído que a idade
não acarretaria uma perda significativa de neurônios no córtex cerebral humano.
As mudanças decorrentes do envelhecimento nos corpos celulares dos
oligodendrócitos, poderiam estar relacionadas à perda de fibras mielinizadas
nos cérebros velhos.
As perdas de sinapses durante o envelhecimento humano são
específicas por região e as alterações podem variar nos diferentes tipos de
sinapses. Existe mais de um fenômeno compensatório para manter a função sináptica
cortical normal, pois a perda de sinapses e as mudanças nas estruturas
pré-sinápticas parecem ser acompanhadas por um aumento na extensão média da
zona pós-sináptica ativa, observando que muitas sinapses contendo
neurotransmissores excitatórios como o glutamato, estabelecem contatos sobre as
espinhas dendríticas, a perda significativa de estruturas dendríticas pode
limitar a disponibilidade de substrato pós-sináptico para conexões sinápticas
nos cérebros velhos.
As modificações dendríticas relacionadas à idade incluem o
encurtamento e a diminuição das ramificações dos dendritos. Considerando-se, no
entanto, que o número de neurônios permanece praticamente estável no córtex
cerebral velho, a redução significativa de conexões interneuronais no cérebro seria
resultante da perda de estruturas pré e pós-sinápticas.
Enquanto a capacidade de processar informações do hipocampo pode
se deteriorar no decorrer do envelhecimento normal sem que haja perda
significativa de neurônios, as alterações específicas dos circuitos
relacionados com os receptores NMDA podem realçar danos na memória no idoso. O
hipocampo tem um papel fundamental na aprendizagem e na formação e consolidação
da memória e está criticamente envolvido na regulação da emoção, medo,
ansiedade e estresse, sendo uma das primeiras regiões envolvidas no Alzheimer.
O envelhecimento cerebral é um processo inevitável, porém
postergável, através de exercícios físicos e mentais, hábitos saudáveis e
terapias alternativas. Dentro das terapias alternativas, os canabinoides (CB)
vêm se mostrando eficazes na inibição de formação de placas beta amiloides, a
partir do seu papel anti inflamatório e antioxidante.
O primeiro registro de uso de cannabis na história da Medicina é
datado de 2737 AC na China, onde prescrevia-se chá de maconha para o tratamento
da gota, reumatismo, malária e memória fraca. Na Índia, usavam maconha para
fins religiosos e alívio do estresse. Médicos da antiguidade prescreviam
maconha para tudo, desde o alívio para dor de ouvido, até para as dores do
parto. O médico Pedânio Dioscórides, greco-romano, considerado o fundador da
farmacologia, publicou em sua obra “De Materia Medica”, a principal fonte de
informação sobre drogas medicinais, que a maconha medicinal era indicada como
tratamento eficaz para dores articulares e inflamações.
Em 1464 houve o primeiro relato considerando a maconha para
tratamento de epilepsia, em Bagdá. Em 1839, na Índia, a maconha medicinal era o
remédio anticonvulsivante de maior valor.
As notícias se espalharam pela Ásia, Europa e chegaram aos EUA, onde em
1889 consolidou-se como medicamento. Em 1924 a discussão, em âmbito mundial
levou a tese de que o consumo da maconha era um mal, devendo ser, portanto,
proibida. Hoje a discussão ainda permanece.
O canabidiol (CBD) é o principal canabinóide não psicotomimético
derivado da cannabis. O CBD é desprovido de atividade direta dos receptores CB1
e CB2, mas exerce uma série de efeitos importantes no cérebro. Aqui, tentamos
resumir as descobertas atuais sobre os efeitos do CBD na atividade dos
astrócitos e, dessa maneira, nas funções do sistema nervoso central, em vários
modelos e neuropatologias testados. Os dados coletados mostram que o aumento da
atividade dos astrócitos é suprimido na presença de CBD em modelos de isquemia,
doenças neurodegenerativas, epilepsia e esquizofrenia. Além disso, o CBD
demonstrou diminuir as funções pró-inflamatórias e a sinalização nos
astrócitos, importante célula nervosa para geração de neuroplasticidade.
O CBD age em diversos sistemas neuronais
e também no sistema endocanabinóide (GABA, serotonina, glutamato, entre
outros), exercendo uma ampla variedade de ação farmacológica sem interação com
o sistema dopaminérgico e, portanto, não causando euforia, agitação ou eventos
motores quaisquer. Em modelos de lesão aguda do sistema nervoso central, o CBD
diminui a neuroinflamação através da estimulação do receptor de adenosina e
também, reduzindo a transmigração de leucócitos e regulando a expressão da
molécula-1 de adesão celular vascular (VCAM-1). Adicionalmente, foi observada
uma ativação reduzida da micróglia com a administração de CBD, reduzindo
significativamente a morte celular neuronal induzida por β amiloide.
A literatura é ainda escassa,
portanto inconclusiva, no entanto, os trabalhos apresentam uma grande
expectativa no tratamento do Alzheimer com o uso do CBD impedindo o acúmulo de
placas beta amiloides mesmo com a produção acelerada devido a alterações
gênicas que levam à hiperatividade neural, aumentando o acúmulo de beta
amiloide
Sandra
Regina Mota Ortiz - diretora de pesquisa na USJT
Aline
Gavioli - Analista na Cientifica LAB