A menstruação, fenômeno universal entre as
mulheres, permanece cercada de mitos e crenças sobre alimentação, humor,
sangramento e dor. O ciclo mensal é acompanhado de sintomas físicos e
psíquicos, tais como: inchaço, cansaço, dor nas pernas, irritabilidade,
cólicas, entre outros decorrentes das variações hormonais (estrogênio e
progesterona) e da sua distribuição pelos órgãos da mulher, como o sistema
nervoso, ossos, mamas e vasos sanguíneos.
Entre a primeira (menarca) e a última menstruação
(menopausa), a maioria da população feminina fica à mercê das flutuações e
alterações hormonais, como cólicas intensas e sangramento aumentado. Tais distúrbios
levam ao comprometimento da qualidade de vida das mulheres e pode causar
absenteísmo no trabalho e na escola, resultando em perda de produtividade e
prejuízos em várias esferas.
Infelizmente, há pouco investimento e interesse em
pesquisas sobre saúde menstrual, embora várias doenças benignas que afetam a
saúde feminina tenham sua origem nas disfunções do ciclo menstrual, como a
endometriose, o sangramento uterino anormal e a infertilidade. Na verdade,
infelizmente parece haver um acordo silencioso para relegar os sintomas
menstruais como “normais” e com os quais as mulheres devem aceitar conviver sem
reclamar.
Ciclos menstruais regulares a cada 25 a 35 dias,
com duração de três a oito dias de sangramento são considerados normais, mas
não garantem saúde e fertilidade. Obviamente que a irregularidade menstrual
deve ser avaliada, pois em geral está associada a alterações como a síndrome
dos ovários policísticos, endometriose, doenças da tireoide, entre outras.
Aspectos como duração do ciclo, sangramento excessivo
e idade da menarca podem indicar o potencial de fertilidade das tentantes.
Estudos mostram que ciclos curtos podem refletir no envelhecimento ovariano ou
numa “janela fértil” estreita, com maior risco de anovulação e menor chance de
sucesso reprodutivo, medidos pela capacidade de engravidar e ter um bebê a
termo.
Um estudo recente com cerca de 400 mil mulheres
revela que o atraso na primeira menstruação e a redução na duração do
sangramento podem estar associados à infertilidade. É possível que mulheres que
tiveram menarca após os 13 anos tenham baixa reserva ovariana (quantidade de
folículos no ovário), o que compromete as chances de gravidez, principalmente
após os 35 anos.
Tais achados são alertas de que ainda sabemos pouco
sobre a relação entre ciclo menstrual e fertilidade. É preciso investir em
pesquisas e em políticas públicas educativas sobre saúde menstrual e garantir o
acesso à avaliação médica e tratamentos adequados.
A infertilidade afeta uma em cada seis pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Reconhecer os distúrbios menstruais como fatores associados à infertilidade pode ajudar a identificar precocemente mulheres que precisam de avaliação especializada e planejamento reprodutivo.
Márcia Mendonça Carneiro - Diretora científica Clínica Origen BH e professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG.
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