Os avanços em Inteligência Artificial (IA) têm intensificado o debate sobre a capacidade das inovações tecnológicas substituírem funções e cargos profissionais. Para se ter uma ideia, o interesse no uso da IA cresceu consideravelmente nos últimos seis anos. De acordo com a pesquisa “The state of AI in early 2024: Gen AI adoption spikes and starts to generate value”, da McKinsey, 72% das empresas globais já aplicam a tecnologia, um avanço considerável se comparado aos 55% em 2023. A IA generativa — ramo da IA que cria novos conteúdos — também acompanha esse crescimento, saltando de 33% em 2023 para 65% no ano passado. Como acontece com toda inovação disruptiva, as discussões sobre seus impactos estão em alta.
Há quem afirme que a IA possui habilidades
superiores às dos humanos em diversos aspectos, como adaptabilidade, aumento da
produtividade por meio da automação, capacidade de processamento para
identificar padrões e análise de contextos envolvendo grandes volumes de dados.
Além disso, a IA tem o potencial de reduzir custos operacionais. O Fórum
Econômico Mundial, inclusive, prevê que a IA substituirá 85 milhões de empregos
até 2025. A boa notícia é que o relatório Future of Jobs Report 2025,
indica a criação de 170 milhões de novos postos de trabalho até 2030,
impulsionados por áreas como IA, big data, redes, cibersegurança e
alfabetização digital.
Ao meu ver, é essencial analisar a questão com
prudência. A ascensão de softwares e dispositivos com IA embarcada é
inevitável, mas, em vez de substitutos, essas tecnologias precisam ser vistas
como assistentes pessoais, ampliando as competências das pessoas e
transformando a dinâmica do trabalho. Hoje, grande parte das tarefas
padronizadas, que envolvem grandes volumes de dados complexos, já podem ser
realizadas com igual ou melhor desempenho e a um custo quase zero por IA e
robôs. Ferramentas de aprendizado de máquina, robótica, automação e internet
das coisas já impulsionam ganhos importantes de produtividade.
Este cenário se mostra positivo: ao automatizar
tarefas simples e de baixo valor agregado, a IA permite que as pessoas dediquem
seu tempo a atividades mais criativas, estratégicas e que demandam habilidades
exclusivamente humanas, como pensamento crítico, criatividade, empatia, feeling
e tomada de decisões éticas.
A insegurança diante dessas mudanças é
compreensível, e o momento exige cautela e adaptação. As empresas buscam
profissionais dispostos a expandir suas competências em uma jornada contínua de
aprendizado. A IA desafia os profissionais a superarem o receio de mudanças e
os convida a adotarem uma visão mais positiva sobre o futuro e as oportunidades
que competências expandidas podem trazer para suas carreiras. Estamos diante da
era da inteligência, e é perceptível que estamos evoluindo e aprendendo
nesta construção de uma nova fase de relacionamento entre o homem e a máquina,
na qual o fator humano será essencial. Novas funções estão surgindo
rapidamente, exigindo conhecimento técnico e habilidades específicas para
garantir o funcionamento dessas tecnologias de acordo com as necessidades do
mercado.
Um ponto de atenção é o acesso desigual à IA, que
pode ampliar as distâncias sociais e econômicas. Organizações e países que não
investirem no aprendizado e aplicação dessas tecnologias enfrentarão desafios
na competitividade e inclusão, tanto no mercado de trabalho quanto no contexto
pessoal. Esse problema tende a se agravar nos próximos anos, com o rápido
avanço da IA.
Destaco que esse novo colaborador — ou, como já são
chamados, os super workers — é formado com muito mais do que um treinamento ou
reciclagem profissional. Trata-se de uma mudança de mindset, na qual o
profissional assume um papel ativo na inovação. Cabe às empresas estimularem
esse desejo de evolução, promovendo o acesso facilitado à tecnologia e
orientando para que seu uso seja direcionado à busca de novas competências.
Profissionais curiosos, inclinados ao aprendizado contínuo e capazes de
transformar conhecimento em resultados coletivos serão cada vez mais
valorizados.
Acredito que o conceito de unique human intelligence
(UHI), ou inteligência única do ser humano, ganha ainda mais relevância nesse
contexto. A colaboração entre a IA e a expertise humana tem o potencial de
refinar e potencializar talentos, criando um ambiente onde ambos se
complementam. Assim, características como a proatividade, criatividade, foco em
resultado e capacidade de construir relacionamento com propósito serão
essenciais. Até porque, para os mais céticos, vale lembrar de que mesmo com
toda a revolução tecnológica que ainda está por vir, não há substituto para o
bom senso, a ética, o relacionamento e a sabedoria humana.
Jussara Dutra —
Diretora-executiva de Pessoas e Organização da Senior Sistemas
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