Por quê?
Dados da FecomercioSP mostram ainda que valor médio das dívidas, nas capitais, caiu 7,5% em dois anos; quase um terço dos rendimentos é destinado a pagar essas despesas
Praticamente um terço (29,6%) dos rendimentos mensais das famílias que vivem nas capitais está comprometido com o pagamento de dívidas, aponta um grande estudo sobre o tema realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A taxa se mantém estável há dois anos: em 2022, era de 30,4%, e no ano passado, de 29,7% —, mostrando-se bastante desigual na comparação entre as cidades.
Em Teresina, por exemplo, quase metade (43%) da renda dos lares é direcionada para arcar com despesas do tipo, a maior taxa entre todas as capitais do País. Em Macapá, essa margem é de 36%, enquanto, em Natal, atinge 35%. A situação é semelhante em Florianópolis, com 34%, e em Curitiba, com 33%, todas acima da média nacional [gráfico 1].
Na avaliação da FecomercioSP, realidades como essas são perniciosas às economias locais e à própria saúde econômica do País, na medida em que quanto mais endividadas, maior a restrição das famílias não somente para consumir, mas também para investir a médio e longo prazos — ou mesmo para reunir recursos para possíveis emergências. Esses efeitos negativos ainda se somam a particularidades locais que podem ser observadas mais de perto.
Em Boa Vista, por exemplo, embora o valor médio das dívidas [tabela 1] de cada família seja um dos menores entre as capitais (R$ 1.879), o fato de a cidade ter uma renda média baixa em comparação a outros locais do País torna esse comprometimento do orçamento particularmente perigoso. Em compensação, em Teresina, chama a atenção justamente o montante elevado dessas despesas (R$ 4.654) na composição total dos gastos domésticos.
Nesse caso, o endividamento pode ser considerado um fator positivo, pois
mostra que a população tem mais acesso ao crédito e pode consumir mais, tanto
no varejo, como no turismo e nos serviços. No entanto, também traz riscos: se
mal gerido, pode levar à inadimplência e excluir pessoas do mercado. A
FecomercioSP destaca que é importante olhar esses dados sob os dois ângulos,
buscando formas de tornar o consumo mais seguro e proteger o orçamento das
famílias, especialmente as de menor renda.
[GRÁFICO
1]
Capitais brasileiras com orçamentos familiares mais
comprometidos para pagamento de dívidas, em % (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
[GRÁFICO
2]
Capitais brasileiras com orçamentos familiares
menos comprometidos
para pagamento de dívidas, em % (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
No oposto desse espectro, em João Pessoa, penas 12% da renda das famílias é comprometida com dívidas, o que a coloca 31 pontos porcentuais (p.p.) abaixo de Teresina, a capital mais endividada. A cidade se destaca até mesmo em relação a outras com baixo endividamento, como Distrito Federal (22%) e Campo Grande (25%) [gráfico 2].
Os dados da FecomercioSP permitem observar que, na capital paraibana, há um uso mais conservador do crédito — e, não à toa, é no município onde estão também as taxas mais baixas de inadimplência (6% das famílias).
No geral, é possível dizer que a estabilidade do comprometimento médio das dívidas nas capitais indica que as famílias, a despeito das conjunturas cambiantes, têm conseguido manter o controle dos gastos, mesmo frente a algumas situações mais alarmantes, como as de Teresina, Florianópolis e Natal.
VALOR DAS DÍVIDAS EM QUEDA
Tão importante quanto observar a parcela do orçamento entregue às dívidas é analisar o valor médio dessas despesas contraídas pelas famílias [tabela
1]. Os resultados do estudo da Federação mostram que esse número está em queda há dois anos — de R$ 4.157, em 2022, para R$ 3.981, no ano passado. Agora, chegou a R$ 3.842, uma retração de 7,5% em dois anos. Contudo, ainda assim, o fenômeno se deu de forma desigual entre as capitais.
[TABELA
1]
Valor médio das dívidas na composição do orçamento das
famílias nas capitais do Brasil, em números absolutos (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
Florianópolis tem o maior valor médio de dívidas entre as capitais (R$ 5.745). Com 34% do orçamento familiar comprometido, o município enfrenta uma situação complexa. Segundo a FecomercioSP, esse resultado sugere que os lares estão acessando crédito com custos mais altos, tanto para adquirir itens caros quanto para cobrir despesas do dia a dia, o que aumenta os riscos. O valor médio das dívidas na cidade supera o de São Paulo (R$ 5.021).
João Pessoa, por sua vez, apresenta o menor valor médio de dívidas entre as capitais (R$ 1.078), bem abaixo da segunda colocada, Boa Vista (R$ 1.879), refletindo o baixo comprometimento da renda familiar com dívidas na cidade.
No total, de acordo com a pesquisa, hoje, as famílias das capitais brasileiras, juntas, devem quase R$ 50 bilhões em empréstimos, faturas de cartão de crédito, boletos do varejo ou financiamentos de carros e imóveis, entre outras modalidades. Em 2022, esse valor era de R$ 46,9 bilhões.
FecomercioSP
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