Frutos do mar, como camarão, devem ser consumidos em locais indicados para evitar contaminação. Crédito: iStock |
Médica da SBPC/ML dá orientações sobre como se
prevenir dessas infecções e quais exames fazer para identificá-las
Com o verão se aproximando, ficam mais comuns as contaminações alimentares, tanto por vírus, quanto por bactérias. O tempo quente pode permitir que esses organismos se proliferem com mais facilidade. De acordo com a médica infectologista e patologista clínica da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Carolina Lázari, as infecções virais desse período estão mais atreladas à contaminação de água e as bacterianas, à de alimentos, particularmente aqueles acondicionados sob refrigeração inadequada.
“Os
vírus mais frequentes são os norovírus e os rotavírus, especialmente nesta
época do ano, podendo ocorrer surtos dessas viroses, relacionados
principalmente à contaminação da água”, explica Lázari. Outro vírus para o qual
ela chama atenção é o da hepatite A. Além de poder ser transmitido pela água,
esse vírus pode estar presente também em alimentos. “Assim como outros vírus, é
bastante frequente em águas poluídas, em praias impróprias para banho e também
em piscinas, pois a pessoa infectada pode começar a eliminar o vírus da
hepatite A antes de apresentar qualquer sintoma”, alerta.
Em
relação às bactérias, segundo a infectologista, o mais comum é a ocorrência de
contaminação de alimentos armazenados de forma inadequada, a uma temperatura
mais alta que a recomendada. “Algumas bactérias, como Staphylococcus aureus
e Escherichia coli, produzem toxinas que contaminam os alimentos e podem
causar quadros de diarreia quando consumidos. Elas também podem estar na água,
mas essa contaminação é mais comum em alimentos.”
Ainda
segundo a médica, existem bactérias que, quando presentes nos alimentos
contaminados, ao serem ingeridas, proliferam-se no intestino, causando uma
infecção, a exemplo de vários tipos de Escherichia coli, Salmonella,
Shigella. Essas bactérias geralmente causam episódios autolimitados, porém
muito sintomáticos, de doença diarreica. Em crianças pequenas e idosos, pessoas
com algum tipo de imunodepressão ou doenças crônicas, entretanto, podem causar
doença grave, com acometimento sistêmico e, raramente, levar à morte. As
complicações ocorrem, particularmente, durante surtos de Salmonella,
relacionados à ingestão de carne de aves e ovos crus, ou de tipos específicos
de E. coli, que causam quadros graves com acometimento renal.
Quais são os sintomas dessas contaminações?
Carolina
Lázari explica que essas infecções habitualmente se manifestam com um quadro de
gastroenterocolites agudas. “Elas são processos inflamatórios
transitórios do estômago, do intestino delgado e do intestino grosso, podendo
acometer os três ou ser mais intensos em um, ou outro, provocando, devido ao
envolvimento do estômago, principalmente náuseas e vômitos, e, dos intestinos,
diarreia, com muitos episódios de evacuação por dia e fezes líquidas”,
esclarece.
Nos
quadros causados por bactérias, a diarreia aquosa pode vir acompanhada de muco
e sangue, denotando maior gravidade da inflamação intestinal, segundo a
patologista clínica da SBPC/ML. “A presença de muco e sangue nas fezes e,
eventualmente, de comprometimento do estado geral e febre, sobretudo em
crianças e em pessoas com comprometimento da imunidade, refletem maior
gravidade da doença, que pode requerer tratamento com antibióticos”, comenta.
Já
em um quadro de hepatite A, a médica explica que pode surgir um quadro típico
da doença, cujos sintomas são:
- Febre;
- Falta de apetite;
- Mal-estar;
- Náuseas podendo, ou não, haver vômitos
- Fezes esbranquiçadas;
- Urina escura
- Icterícia (coloração amarelada da pele e das mucosas).
“Nas
gastroenterocolites agudas, a icterícia não costuma acontecer, é um sintoma
correlacionado às hepatites. Na hepatite A, o quadro clássico, com icterícia, é
mais comum nos adultos que nas crianças. Assim, crianças não vacinadas podem
ter hepatite A apenas com apenas febre, náuseas e vômitos, sem necessariamente
apresentar a coloração amarelada da pele”, afirma. Por outro lado, podem
ocorrer as infecções assintomáticas, situação em que as pessoas eliminam os
vírus e podem transmitir a doença sem apresentar nenhum sintoma aparente.
Diagnóstico médico
Lázari
argumenta que: “Existem exames laboratoriais que conseguem fazer o diagnóstico
diferencial entre as causas das doenças diarreicas, contudo, a necessidade de
realizá-los depende da avaliação médica”.
Nos
quadros leves, a infectologista explica que não é necessário fazer exames
laboratoriais. “Se não houver muitas evacuações diárias, se o paciente tiver
condições de se hidratar em casa, sem necessidade de hidratação intravenosa, e
se o problema tiver começado recentemente, em até dois ou três dias, o clínico
pode optar por dar orientações sem solicitar exames”, ratifica.
No
entanto, se os sintomas se agravarem a ponto do paciente não conseguir se
hidratar apenas por via oral ou então, caso haja muitos vômitos, os quais não
permitem que a hidratação permaneça no estômago, a indicação da médica é
investigar por meio de exames/testes, para direcionar melhor o tratamento. O
mesmo vale para crianças muito pequenas, idosos e/ou pessoas imunossuprimidas.
“Para
a suspeita de diarreia viral, existem testes rápidos realizados nas fezes, como
os testes rápidos para rotavírus e adenovírus. Para bactérias, pode-se
solicitar cultura de fezes. Atualmente, existem amplos painéis moleculares que
pesquisam simultaneamente vírus, bactérias e parasitas que podem ser causadores
de diarreia aguda, que geralmente são reservados para os casos mais complexos”,
revela.
Já
para a hepatite A, em uma situação de suspeita, o diagnóstico é feito por
sorologia (por meio de exame de sangue), com a pesquisa dos anticorpos
específicos para o vírus da hepatite A.
Prevenção das contaminações alimentares
Segundo
a patologista clínica, a forma de evitar essas infecções seria tomar cuidado
com a ingestão de alimentos e líquidos no geral. “O ideal é comer em lugares
conhecidos e que garantam a procedência e a conservação dos alimentos, de
preferência em locais que tenham refrigeração. Alimentos vendidos por
ambulantes com isopor, por exemplo, geralmente ficam expostos ao sol por muito
tempo, sem reposição de gelo, e tendem a ficar em temperaturas inadequadas para
conservação”, adverte a especialista.
Ela
também cita alguns alimentos e bebidas que devemos evitar ou, ao menos, prestar
mais atenção quando estivermos fora de casa, como:
- Peixes, crustáceos e ostras, por exemplo, se deterioram mais
rápido, devido à natureza das proteínas, e devem ser consumidos em locais
conhecidos ou indicados para evitar contaminação.
- Alimentos consumidos crus, especialmente quando preparados em
locais sem água corrente – “Alimentos como saladas, maionese (feita com
ovos crus), entre outros, precisam ser bem refrigerados e as verduras
lavadas adequadamente com imersão em solução de hipoclorito (água
sanitária). Se forem preparados em locais sem água corrente, podem não ser
bem higienizados e favorecer a contaminação”;
- Água e sucos – “O ideal é beber apenas água mineral e lembrar-se
dos sucos, que também podem ser preparados com água contaminada ou gelo de
procedência duvidosa”.
Por fim, ela lembra da contaminação que pode ocorrer com os chuveiros de barracas de praia, que podem utilizar água de procedência duvidosa e assim, ser uma fonte de contaminação. “Ao tomar uma ducha, é possível ingerir ou inalar alguma quantidade de água contaminada, o que pode ser suficiente para causar infecção, dependendo da qualidade da água”, ressalta Lázari.
Nenhum comentário:
Postar um comentário