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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Novembro Roxo: Câncer de pâncreas tem chance de cura quando há rotina de exames anuais

Quando o paciente recebe o tratamento adequado para o
 câncer de pâncreas, há boas chances de cura e ótima qualidade de vida.
 Pexels
O câncer de pâncreas é uma doença silenciosa e com diagnóstico frequentemente tardio. Mas não significa que seja uma sentença de morte. Pelo contrário, é uma doença que tem chances de cura e o paciente pode ter muita qualidade de vida. Tudo vai depender de exames de monitoramento. E é para conscientizar sobre o tema que o Novembro Roxo é o mês de prevenção ao câncer de pâncreas, doença que já acometeu famosos como o ator Jackson Antunes e o bilionário da Apple, Steve Jobs. 

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tumor no pâncreas é um dos cânceres com maior taxa de mortalidade devido ao diagnóstico tardio. No Brasil, são estimados cerca de 10.980 novos casos anuais entre 2023 e 2025, com uma prevalência maior entre homens e mulheres acima de 65 anos. Entre os principais fatores de risco estão a idade avançada, genética e condições como obesidade, diabetes e hábitos como tabagismo.

 

Histórias de superação

O economista e administrador aposentado Gustavo Kastrup, 90 anos, é um exemplo de superação. Em 2020, descobriu um tumor na cabeça do pâncreas. “Eu fui ao cardiologista porque eu tinha uma dor insistente. Ele me fez todos os exames cardiológicos possíveis e não encontrava nada. Até que me mandou para uma ecografia abdominal e lá estava o câncer, do tamanho de uma laranja”, contou Gustavo, acometido por adenocarcinoma de pâncreas. 

Aos 86 anos, o aposentado foi submetido a uma cirurgia de alta complexidade que durou nove horas, realizada logo após ele se recuperar de Covid. “A recuperação foi desafiadora, porque além da idade, eu uso marcapasso e tenho três stents no coração. E a cirurgia foi muito delicada porque na região do pâncreas que estava o tumor passam muitas artérias. O cirurgião precisou de habilidade para lidar com elas”, disse o paciente. 

“Hoje estou curado do câncer, sem nenhum sinal de recidiva. Levo uma vida ativa, normal. Como minha feijoada e tomo o vinho que gosto”, comentou o paciente, emocionado ao relatar que sua família, com três filhas, sete netos e bisnetos, tem sido sua motivação. 

“Não importa a idade. E esse caso do Gustavo é emblemático. Mostra que, procurando o tratamento adequado, o paciente pode ser curado”, comentou o cirurgião Eduardo Ramos, do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), localizado no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), que operou o paciente. 

Maria Daria Lima, de 77 anos, teve também um adenocarcinoma de pâncreas, e obteve cura após cirurgia e quimioterapia. E a cura veio da insistência de Maria, que sentia dor abdominal e seu diagnóstico era sempre o de gastrite. Inconformada, buscou outros especialistas, até que um deles detectou o cisto na cabeça do pâncreas e metástases no corpo. O câncer foi descoberto em 2015 e permanece sem doença até os dias de hoje. 

“A minha insistência e descoberta precoce fez a diferença. Hoje vivo normalmente, sem nenhuma sequela. É preciso ficar alerta ao menor sinal de que algo não vai bem. Diante de um diagnóstico ruim, não entre em pânico, siga à risca as orientações do médico e mantenha a fé”, aconselha Maria. 

Assim como Gustavo, ela também fez quimioterapia antes da cirurgia para reduzir o tumor e as metástases, o que ajudou muito no processo cirúrgico. Isso, explica o médico, mostra que nem sempre a ordem cirurgia e depois quimio ou radioterapia são a sequência correta para todos os pacientes.

 

Desafios no diagnóstico do câncer de pâncreas

De acordo com o Eduardo, exames de imagem como ultrassonografias e tomografias muitas vezes não detectam o câncer de pâncreas em estágio inicial. Isso ocorre devido à localização anatômica da glândula e a profissionais que não possuem o olhar apurado para interpretar os sinais sutis da doença. “Esse tipo de câncer é de difícil detecção e é um exame operador-dependente, ou seja, depende que o radiologista saiba detectar o câncer nas imagens. Isso reforça a importância de um acompanhamento contínuo e especializado”, alerta Eduardo. 

Para os pacientes que recebem o diagnóstico, o tratamento depende da fase em que o câncer é descoberto. O cirurgião explica que, na maioria dos casos, a cirurgia combinada com quimioterapia é o caminho mais indicado para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida. E a quimio pode ser usada tanto antes, como após a cirurgia.

 

Por que Steve Jobs não se curou do câncer?

Mesmo dono de uma fortuna bilionária, capaz de pagar por qualquer tipo de tratamento no planeta, muitos se perguntam por que Steve Jobs não conseguiu se salvar de um câncer de pâncreas. Conforme Eduardo, o câncer que o bilionário teve é um tumor neuroendócrino, que afeta de 5% a 10% dos pacientes. É diferente do adenocarcinoma, que é mais comum.

O tumor neuroendócrino de Jobs é de crescimento lento e tende a ter uma sobrevida muito maior. E há diversos tratamentos: injeções, quimio e cirurgia. Porém, como é silencioso, quando se descobre já pode ter metástases hepáticas. No caso de Jobs, o diagnóstico já tinha lesão pancreática e metástase hepática. Chegou a operar pâncreas, fez até transplante hepático por causa das metástases, mas acabou falecendo do tumor, por causa do diagnóstico tardio”, lamentou o médico, alertando a importância de se realizar exames e consultas de rotina, anualmente, para se localizar tumores de forma precoce.

 

Novas tecnologias e vacina experimental

Apesar das dificuldades no diagnóstico e no tratamento do câncer de pâncreas, pesquisas recentes trazem esperança. A vacina experimental desenvolvida pela BioNTech, usando tecnologia de mRNA semelhante à das vacinas contra a Covid-19, está em fase inicial de testes, com resultados animadores que indicam uma resposta imunológica duradoura em alguns pacientes. 

“Estamos otimistas e esperançosos de que, no futuro, novas terapias possam aumentar a taxa de cura e melhorar a qualidade de vida de nossos pacientes”, conclui o cirurgião do Cighep, alertando que o acompanhamento médico rotineiro, e que leva ao diagnóstico precoce, não seja esquecido. Eduardo e sua equipe operam cerca de 80 a 100 pacientes por ano com câncer de pâncreas e de fígado. Uma grande parte deles tem sucesso no tratamento. 



Cighep
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