A prática se popularizou pela suposta eficiência na perda de gordura corporal, mas não existe consenso médico a respeito do tema
Treinar em jejum pode ser apenas um hábito para
quem acorda apressado e não tem tempo de comer antes do exercício ou um plano
para perda de gordura corporal – sim, existem estudos científicos que
demonstram se tratar de uma estratégia eficiente.
Mas como quase tudo na vida, os efeitos do jejum são sentidos de maneira
diferente em cada organismo. E é assim porque o tipo de corpo, a genética, a
idade e o nível de atividade física têm forte influência em como o corpo reage
ao exercício em jejum.
Resumidamente, quando uma pessoa se exercita em jejum ela está praticando
atividade física com níveis baixos de glicogênio no fígado e no tecido
muscular. O glicogênio, por sua vez, é responsável por armazenar os
carboidratos, ou seja, a energia.
Ok, mas como isso é convertido em perda de gordura? Se o corpo está em
movimento com pouco carboidrato, ele precisa buscar outra fonte de energia. A
gordura seria esse combustível alternativo. Um estudo realizado na Northumbria
University, na Inglaterra, demonstrou que fazer cardio em jejum pode queimar
até 20% a mais de gordura do que fazê-lo após o café da manhã.
No entanto, realizar um treino em jejum, principalmente se ele for de alta
intensidade, pode ser excessivamente desgastante. Alguns estudiosos defendem
que, na falta de carboidratos, o organismo quebra a massa muscular a fim de
fornecer o combustível demandado. E perder músculos definitivamente não é um
bom negócio.
Uma pessoa que deseja aumentar sua massa muscular até pode optar por treinos em
jejum, mas eles precisam estar dentro de uma estratégia macro, explica
Guilherme Michesky, gerente técnico da Smart Fit. “Nesse caso, o jejum atua
como fator gerador de estresse que tira o corpo da zona de conforto e
estabelece um novo patamar de performance. Mas essa estratégia só faz sentido
se for dentro de um ciclo limitado e em pessoas com nível bastante avançado de
treino.”
Michesky lembra que qualquer mudança de comportamento na rotina de atividade
gera impacto na aptidão física. Portanto, uma pessoa sedentária que começa a treinar
já está gerando estresse suficiente para o organismo. Ele vai se adaptar a esse
novo normal e se ajustar a um novo parâmetro de performance.
Existem várias peças no quebra-cabeça da perda de peso saudável: alimentação
adequada, qualidade do sono, níveis de estresse controlados e treino, claro.
Então, antes de aderir à trend do momento, é mais eficiente avaliar se você
está fazendo bem o básico.
Deu check nos itens anteriores e pretende testar os treinos em jejum? Antes de
começar, tenha em mente que:
1. Treinar em jejum é seguro?
Para a maioria das pessoas saudáveis, sim. Treinos leves ou moderados não
tendem a gerar nenhum risco. Se a sessão for intensa e longa, o jejum tem
potencial de diminuir o nível de açúcar no sangue e causar desidratação, tontura,
enjoo, fraqueza e até mesmo desmaio.
2. Existem benefícios em treinar em jejum?
O benefício mais atrelado à prática é a queima de gordura. Isso porque o baixo
nível de glicose no corpo em estado de jejum levaria ao uso da gordura como
fonte alternativa de energia. Alguns estudos ainda mostraram um desempenho
metabólico pós-treino melhor em quem treina de estômago vazio.
3. Treinar em jejum ajuda a perder peso?
Esse não é um resultado pacificado dentro da comunidade acadêmica. Enquanto
alguns estudos demonstram ganho de eficiência de até 20% na queima de
gordura, outros afirmam não se tratar de uma diferença tão relevante assim. Uma
revisão de 27 artigos científicos publicada no British Journal of Nutrition em
2016 concluiu que exercícios aeróbicos realizados em jejum levam a maior
oxidação de gordura. A mesma pesquisa diz que, em termos de queima de calorias
dentro de uma janela de 24 horas, essa perda é praticamente desprezível.
4. E os prejuízos, quais são?
Na falta de carboidratos, que são a fonte básica de energia, o corpo inicia um
processo chamado gliconeogênese, que converte proteínas em combustível. Esse
processo atrapalha a construção de massa muscular. O desempenho do treino
também pode ser comprometido, especialmente em exercícios de alta intensidade,
como HIIT, boot camp ou musculação.
5. Quem deveria evitar treinar em jejum?
Qualquer pessoa com uma condição médica que afeta o nível de açúcar e pressão
no sangue, grávidas e crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário