Brasil
Nas últimas semanas o mercado financeiro sugeriu uma melhora no ambiente
econômico e maior otimismo nos negócios, isso em decorrência da desaceleração
da inflação, a queda do dólar e as boas expectativas com a proposta de
arcabouço fiscal.
Os investidores esperam que, uma recente melhora no
ambiente macroeconômico possa ajudar a abrir espaço para a queda dos juros
antes do que o mercado vinha projetando. A expectativa é de que a Selic (taxa
básica de juros que hoje está em 13,75% ao ano) tenha a primeira redução em
agosto, em vez de apenas no quarto trimestre, como era o esperado.
As duas razões para o otimismo são o resultado da inflação de março, de 0,71%,
que foi bem abaixo do esperado, e o câmbio mais favorável, o que ajuda a conter
os preços e o índice inflacionário. Nessa semana, o dólar fechou no menor
patamar desde junho do ano passado.
Outra surpresa positiva é o recebimento positivo do
mercado com relação à nova regra fiscal proposta pelo governo, com os últimos
ajustes, se demonstra mais restritiva do ponto de vista do gasto público. A
versão apresentada foi bem recebida porque tem controle dos gastos, mas ainda
existem dúvidas com relação a tramitação no Congresso. Dá até para dizer que a
redução dos juros em junho já é mais provável, mas ainda não é tão claro que
esse movimento possa acontecer no primeiro semestre.
Sobretudo, é preciso ver como isso vai impactar em
inflação mais baixa. O BC tem que aguardar para avaliar os efeitos concretos,
tanto do arcabouço fiscal quanto da apreciação do real sobre a dinâmica da
inflação.
Apesar da melhora no cenário macroeconômico,
existem incertezas que permanecem no horizonte e que precisarão ser
monitoradas, já que podem impactar na política monetária.
Entre eles, tem o debate sobre a meta de inflação
que é válido, mas é complicado pela forma como tem sido conduzido, além da
transição dos diretores do Banco Central, cujos nomes indicados devem ser
conhecidos em breve. A dúvida é se será um nome que vai contrapor as ideias do
presidente do BC.
Câmbio
O dólar acumulou baixa de -2% na semana passada, atingindo seu menor patamar
desde junho de 2022. A moeda americana está refletindo o resultado da inflação
menor que a esperada
A perspectiva de fim da alta de juros nos EUA é um
dos principais fatores de impacto para essa queda forte. Esse fator externo se
intensificou com a crise bancária em meados de março e com uma sequência de
dados mais fracos da economia americana, culminando na quarta-feira com a taxa
de inflação dos EUA (CPI) em uma tendência de desaceleração.
Isso impacta diretamente o câmbio porque juros mais
altos nos EUA atraem capital ao país, valorizando a moeda americana. Assim, o
fim da alta favorece as moedas de países emergentes, como o real, no Brasil.
Um segundo fator externo é a redução da aversão ao
risco após a crise bancária que afetou Silicon Valley Bank (SVB), Signature
Bank e Credit Suisse. Quando uma crise dessa magnitude acontece, todo mundo
foge de investimentos de risco, porque ninguém sabe o que pode acontecer.
O dólar se fortalece em momentos de aversão ao
risco, mesmo quando o risco vem dos Estados Unidos. Mas, agora, há uma
percepção de que essa crise não vai se tornar sistêmica, porque os reguladores
agiram rápido e não houve quebradeira.
Um terceiro fator externo é a recuperação da China,
que tem impulsionado o preço das commodities brasileiras e, consequentemente, a
entrada de dólares no país. Basicamente, é uma questão de oferta e demanda. Se
tem mais moeda estrangeira, ela vale menos.
No Brasil, o arcabouço fiscal é o principal fator
para o fortalecimento da moeda brasileira. De modo geral, ainda que tenham
alguns problemas, o arcabouço veio melhor do que se imaginava.
Existia nos investidores muito temor em relação a
um risco de descontrole de gastos e, consequentemente, um descontrole da dívida
pública. Mas o arcabouço trouxe de fato um mecanismo de limitação de despesas,
que era a grande preocupação do mercado.
Contudo, lá fora ainda não está claro se o Fed
realmente vai ter espaço para reduzir juros tão cedo. Aqui, o arcabouço tem um
lado positivo, mas ainda tem toda a tramitação no Congresso, e ainda há muito
ruído na relação entre governo e Banco Central.
Além destes riscos, a mudança da meta de inflação,
a nomeação do futuro presidente do BC em 2024, a política de preços da
Petrobras e a atuação do BNDES, são fatores de atenção para o real brasileiro.
Mesmo com as últimas boas notícias, ainda tem muito
risco no ar: o arcabouço ainda nem foi apresentado ao Congresso, não sabemos o
que tem exatamente dentro da regra, as taxas de juros nos EUA ainda não
começaram a cair e ainda não há dados concretos sobre a economia da China. Em
poucas palavras, ainda tem muita água para rolar.
Luiz Felipe Bazzo - CEO do transferbank
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