A palavra perdão está historicamente associada à religião. É algo que sempre vigorou nos registros cristãos. Segundo a bíblia, Jesus foi o primeiro a dizer que devemos perdoar setenta vezes sete. A contraponto desse ensino, nos tempos antigos também era muito pregada a Lei de Talião, que consiste em uma rigorosa reciprocidade de crimes e que trouxe até os dias de hoje o ditado “olho por olho, dente por dente”. Com todo esse contexto histórico, que está presente e enraizado na construção de quem somos, ainda perdura nos nossos relacionamentos, com o outro e conosco, a falta do amadurecimento sobre o perdão e o autoperdão. Inclusive, ambos são indispensáveis quando falamos de vida profissional e carreira.
A saúde mental é advinda do autoconhecimento e
autorresponsabilidade, e traz resgates e desmistificações de emoções como o
perdão, que pode ser considerado o pai de algumas mágoas e rigidez que afetam a
nossa vida como um todo, em todas as áreas, e trazem continuamente outros
sentimentos e atitudes negativos que atrapalham a nossa evolução profissional,
como o pensamento “eu não sou capaz”.
Na minha vivência, o perdão revolucionou a maneira
com que eu me relacionava com todo o meu entorno. Quando eu perdoei a mim mesma
e as pessoas que me atingiram negativamente, consegui ter clareza para fazer
escolhas diferentes, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Por isso,
inclusive, decidi escrever exclusivamente sobre o tema. No meu livro “Perdão, a
revolução que falta” eu falo sobre como é inteligente perdoar e quais as
maravilhas que isso traz para nossas vidas.
Curiosamente, o hábito de perdoar vem do sentimento
de compaixão, e compaixão é o profundo pesar pela dor ou sofrimento de uma
pessoa, acompanhado pelo sincero desejo de aliviar a causa desse sofrimento.
Muitas vezes, não conseguimos olhar para nossos colegas de trabalho com esse
sentimento e não compreendemos que tudo o que somos é resultado da nossa história,
e que não temos o menor controle e consciência disso, seja por estarmos no modo
compulsivo ou automático.
Afinal de contas, temos que ter em mente que
ninguém é o que é porque quer e ninguém faz algo ruim com plena consciência dos
atos. Com a busca pelo sucesso cada vez mais voraz, as pessoas estão num
esforço enorme para alcançar a felicidade, “dando certo” na vida. A maioria não
imagina que sem o perdão, continuamos a história de algoz e vítima.
No lugar de reclamar e tentar agir de modo
vingativo, a partir de uma situação que não agradou, seja um feedback negativo,
críticas ou palavras duras, é possível escolher perdoar e seguir em frente.
Importante frisar que escolher os pensamentos que norteiam nosso cotidiano não
é o mesmo que viver uma positividade tóxica. O que não podemos é deixar fluir a
contínua obsessão por remoer uma, duas ou infinitas vezes algo ruim, como se
tivesse acabado de acontecer, isso não é saudável, atrapalha as relações
interpessoais e o ciclo de carreira.
Muitos de nós carregamos esses padrões e, veja bem,
antes de vivermos esses comportamentos em relação ao outro, nós vivemos em
relação a nós mesmos. Já reparou nisso? Muitas vezes, a dor que sentimos por
não sermos perfeitos é tão profunda que exigimos demais de nós mesmos, somos o
nosso pior algoz: cobramos, exigimos, queremos de alguma sorte completar aquilo
que os nossos pais não deram conta. Uma bagagem que vem desde o início da nossa
história e começa a refletir agora, na vida adulta.
Lembrando que nascemos duais, com a sombra e com a
luz, e se pudéssemos compreender isso e parar de nos criticar tanto, exigindo
perfeição, usaríamos nosso tempo para inovar, criar, mudar de ponto de vista,
aprender, e, enfim, evoluir, tanto no âmbito pessoal, quanto profissional.
Existe um mundo de possibilidades e caminhos para seguir se acabarmos com este
excesso de cobrança e exigência inúteis. Quer uma verdade? Nós continuaremos
falíveis, seja lá o que a gente fizer conosco.
Deixo claro que não podemos viver relações abusivas
em hipótese nenhuma e presta atenção: a responsabilidade não é de quem abusa
apenas, é também da vítima. Sim, você tem obrigação de olhar para o seu 50% de
responsabilidade em um relacionamento. Qual é a sua parte? O perdão e o
autoperdão entram nessa questão.
Se você é abusivo, seja em um cargo de chefia ou
como colega de trabalho, cuide-se em relação a esse comportamento, que é
aprendido e absorvido pelas suas vivências desde a infância e que tem como
causa principal a falta do perdão e autoperdão. Além disso, pode trazer para
sua carreira uma rede de relações sofridas e desgastadas que atrapalharão você
em algum momento.
Em todos os casos, com o perdão, aprendemos a dizer
não e ter posicionamento. Perdão é liberdade, é a revolução que falta!
Liberte-se desse círculo vicioso da dor, da raiva e da vingança, entre no
círculo virtuoso do perdão e caminhe com autonomia, consciência e clareza,
observando cada passo e situação que você encontrará no caminho profissional, e
saiba que o perdão é uma das ferramentas para o sucesso.
Heloísa Capelas - Mentora de líderes, mestre na
metodologia Hoffman, escritora, palestrante e especialista em inteligência
emocional.
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