Segundo André Naves, dificuldades de
navegação em sites e redes sociais aumentam a discriminação contra os PcDs
Atualmente, é muito comum as pessoas manterem um perfil e acessar
diariamente as redes sociais, pelo celular ou computador, seja para entretenimento
ou em busca de informação. No entanto, para 17,2 milhões de pessoas com
deficiência - o que corresponde a 8,4% da população -, o acesso às redes não é
tão fácil assim.
Segundo o defensor público federal André Naves, especialista em
Direitos Humanos e Sociais, a pouca acessibilidade digital oferecida aos
portadores de deficiência no Brasil é consequência do descaso e preconceito da
sociedade com essas pessoas, o que favorece, inclusive, que esta situação se
perpetue, segregando essa parcela da população e diminuindo suas opções de
comunicação, bem como o entendimento de diferentes realidades e leituras de
mundo.
“As redes sociais são muito apoiadas na visão. As plataformas, em
geral, não oferecem recursos eficazes a quem tem alguma deficiência. Por isso,
é importante que haja mais investimentos para que os PcDs possam interagir nas
redes com mais facilidade. Audiodescrição e legendas em vídeos, por exemplo,
são recursos que auxiliam bastante, democratizando assim o acesso à informação
e à comunicação”, comentou.
Navegação mais difícil em sites e portais
De acordo com a Convenção Internacional sobre Direitos das
Pessoas com Deficiência, a acessibilidade deve ser trabalhada a partir da
identificação e eliminação de obstáculos e barreiras. Sendo assim, os meios de
comunicação que oferecem conteúdos digitais, segundo Naves, também devem
eliminar impedimentos à participação e acesso à informação das pessoas com
deficiência, considerando, inclusive, que “pessoas com a mesma deficiência
podem viver barreiras diferentes”, ao mesmo tempo em que, “pessoas com
deficiências distintas podem enfrentar uma mesma barreira”.
Para André Naves, além de lidar com preconceitos e dificuldades de
acesso aos meios digitais, pessoas com deficiência ainda têm seu poder de
compra subestimado, quando nos referimos, por exemplo, ao comércio eletrônico.
“Hoje, o comércio - e não apenas o eletrônico -, desatende estes
17,2 milhões de brasileiros aproximadamente, que não são considerados como
potenciais consumidores. Manter os olhos fechados para esta realidade traz
perdas não somente à essa parcela da população, mas representa inclusive um
prejuízo imenso para as empresas, em todo o mundo. Por isso, aconselho aos
empreendedores repensar seus modos de comercialização, se quiserem atingir mais
1 em cada 4 brasileiros”, ressaltou Naves.
Para o defensor público, já passou da hora de empresas e
organizações deixarem de lado a ideia de que investir em inclusão e
acessibilidade é algo secundário, pois o que temos visto a cada dia é que
iniciativas inclusivas têm se tornado fator vital para o sucesso das marcas. É
só verificar campanhas publicitárias de grandes marcas.
Para superar a segregação deste segmento da população, Naves
acredita que a conscientização sobre maior acessibilidade digital possa
incluir, até mesmo, “políticas de comunicação” que promovam “participação
direta” de pessoas com deficiência.
“Os PcDs precisam ser chamados para participar de discussões que
vão além de suas próprias questões e que envolvem todos os setores da
sociedade. É de fundamental importância a contratação destas pessoas, por
exemplo, para atuar em ambientes virtuais, incorporando intérpretes de libras
às rotinas de produção em vídeos, utilizando plataformas que geram legendagem
automática, oferecendo cursos de audiodescrição aos trabalhadores do meio
digital. São ações essenciais para promover a inclusão dos PcDs no mundo
digital", finalizou o defensor público.
Como tornar o mundo digital mais acessível?
- Com a audiodescrição (descrição de imagens por meio de áudio),
por exemplo, conteúdos em imagens tornam-se acessíveis para pessoas com
deficiência visual e para indivíduos com transtornos mentais (que podem
enfrentar dificuldades de leitura de símbolos);
- A legendagem é útil para pessoas surdas sinalizantes (que
utilizam a Língua Brasileira de Sinais), pessoas com deficiência auditiva
oralizadas (que utilizam a linguagem oral, leitura de lábios ou escrita) e
também ao deficiente intelectual;
- Para conteúdo de áudio, a orientação é que seja utilizada uma
fala mais lenta, além de suprimir várias falas ao mesmo tempo. Em “cards”, é
preciso evitar texto sobre imagem, com cores de pouco contraste ou com letras
de formato muito 'poluído';
- É importante as empresas pensarem na veiculação do mesmo
conteúdo em várias modalidades de comunicação, para que a mensagem seja
acessível a diferentes públicos;
- Apostar em leitores de tela para pessoas cegas;
- Ampliar a fabricação de telas com alto contraste para pessoas
com baixa visão;
- Mouses e teclados adaptados para pessoas com deficiência física;
- Ampliar a oferta de plataformas e/ou tradutores de Língua
Portuguesa para Libras para pessoas surdas, etc.
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