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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Brasil está 53% abaixo da taxa de cobertura de mamografia recomendada pela OMS

Estudo revela que após a pandemia o país piorou nos principais indicadores de atenção ao câncer de mama

 

Dados apontam que no ano passado o Brasil registrou a menor taxa de cobertura mamográfica para mulheres entre 50 e 69 anos, atingindo a marca de 17% de alcance, ainda menor que em 2019, quando o percentual era de 23%. Esse e outros indicadores preocupantes foram levantados pelo Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde, que avaliou procedimentos de detecção e tratamento da doença entre 2015 e 2021. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 70% da população feminina a partir dos 40 anos realize o exame anualmente. No Brasil, a faixa etária rastreada está restrita ao grupo entre 50 e 69 anos.

Idealizado pelo Instituto Avon - organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos fundamentais das mulheres - e pelo Observatório de Oncologia, o estudo analisou dados de rastreamento mamográfico - taxa que mede a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em atender a população alvo de exames de rastreamento de câncer de mama -- índices de diagnósticos e acesso aos tratamentos no Brasil, com base no DATASUS, com o objetivo de colaborar com políticas públicas de saúde que visem a descoberta precoce, acesso rápido às terapêuticas e a tomada de decisões baseadas em evidências. Entre 2015 e 2021, mais de 437 mil mulheres realizaram procedimentos quimioterápicos no país.

A pior taxa de cobertura mamográfica pertence ao Distrito Federal -- DF, chegando a apenas 4% no período analisado. Seguido pelos estados brasileiros do Tocantins, Acre e Roraima com só 6%.

“Ao observarmos dados tão alarmantes que revelam a deficiência de políticas públicas para a saúde das mamas durante a Covid-19, podemos prever que mais mulheres chegarão ao Sistema Único de Saúde com diagnósticos avançados, menores chances de cura e de qualidade de vida. Os impactos desta pandemia entre 2020 e 2021 aliados à falta de priorização em investimentos na saúde feminina se traduzem em números que vão prejudicar diretamente a saúde das brasileiras pelos próximos anos”, afirma Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. “O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no país e quando descoberto em estágio inicial tem 95% de chances de cura”, completa.

Além da taxa de cobertura, os dados de produção de exames apresentaram queda ao serem comparados com o período anterior. Em 2020, a baixa foi de 40% na realização de mamografias e, em 2021, mesmo com a vacina e a retomada de diversas atividades, a redução ainda representou 18% na média nacional.

Em 2020, a região com maior redução de exames foi a Centro-Oeste (50%) e, em 2021, foi a Região Sul (23%). A redução na cobertura e produção de mamografias, principal exame de rastreamento e diagnóstico de câncer de mama, faz com que, consequentemente, a população feminina chegue ao diagnóstico tardiamente. 

“Conhecer o cenário local é fundamental para direcionamento de ações. O Panorama tem esse papel e é um grande aliado do gestor de saúde, tanto da esfera municipal quanto estadual para agir de maneira mais eficaz. O câncer de mama já tinha desafios relacionados ao diagnóstico e acesso ao tratamento e que foram potencializados com a pandemia de Covid-19. Divulgar essas informações alarmantes tanto nacionalmente como regionalmente é de fundamental importância”, analisa Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia.


Diagnóstico e tratamento

Adicionalmente, a pesquisa apontou que entre 2015 e 2021 os diagnósticos avançados da doença no Brasil representaram 42% dos casos, em 2020 especificamente chegamos a 43% dos casos avançados que receberam os procedimentos de tratamento no ano e em 2021 chegamos a 45% do total de casos de mulheres que receberam os procedimentos de tratamento nos estágios III e IV. O volume é alto e toma proporções maiores na análise dos estados, como por exemplo, Acre, Pará e Ceará contabilizam mais de 55% dos tratamentos em estágios avançados da doença no período.

Entre as mulheres que fizeram quimioterapia em 2021 para câncer de mama, 45% delas receberam o diagnóstico em estágio avançado, representando 157 mil casos em estadiamento III e IV. Mais de 28 mil brasileiras fizeram radioterapia para o câncer de mama nas mesmas fases da doença.

Mais de 60% de todas as mulheres diagnosticadas no país iniciaram as terapêuticas após o prazo que determina a Lei 12.732/12, que garante às pacientes o início do primeiro tratamento em até 60 dias a partir da confirmação do câncer. O tempo médio no país em 2020 foi de 174 dias entre a confirmação do diagnóstico e o início do primeiro tratamento. As pessoas esperaram 114 dias a mais do que o previsto na lei para iniciar seus tratamentos.

Na análise de perfil étnico racial, a principal constatação é de que mulheres negras correspondem a 47% dos diagnósticos avançados, enquanto apenas 24% dos exames de imagem das mamas foram realizados neste público. Os resultados para mulheres brancas foram de 37% das mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o resultado de diagnósticos avançados também apresenta melhores números nesta população - 39%. Portanto, ainda percebemos importantes diferenças na atenção ao câncer de mama quando refletimos sobre as diferenças entre mulheres brancas e negras.

O levantamento Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde pode ser acessado na íntegra aqui.


NOTA METODOLÓGICA: O estudo foi realizado a partir dos dados publicados no DATASUS e algumas bases apresentam números atualizados até 2020 enquanto outras já trazem informações até 2021.
 

Instituto Avon

 

 Sobre o Observatório de Oncologia

Plataforma online de Dados Abertos para transformação social, idealizada pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.


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