Entidade faz alerta sobre o uso desenfreado de antibióticos e dá 10 orientações para a utilização correta deste tipo de medicamento
Algumas
atitudes comuns ao utilizar medicamentos — como não respeitar os intervalos ou
tempo de tratamento e fazer escolhas por conta própria — podem ocasionar
problemas de saúde.
No
caso específico dos antibióticos, há uma consequência ainda mais grave quando não
seguimos exatamente a prescrição médica: o desenvolvimento de bactérias
super-resistentes.
“Quando
se usa antibiótico sem necessidade, há um risco alto de resistência
bacteriana”, explica Letícia Teles, gerente corporativa de Atenção Farmacêutica
da Pró-Saúde, entidade filantrópica de gestão hospitalar.
“Essa
resistência diminui as opções de tratamento e faz com que o paciente passe a
utilizar antibióticos potentes para infecções que poderiam ser tratadas com
antibióticos menos agressivos”, acrescenta.
Desde
2015, há uma crescente no desenvolvimento de resistência das bactérias aos
antibióticos, fator potencializado durante a crise de saúde pública causada
pelo novo coronavírus.
“Muitas
pessoas têm usado os antibióticos para tratar infecções virais, como os
resfriados. Nestes casos, por exemplo, é necessário comprovar que o desconforto
causado nas vias aéreas é provocado por uma bactéria, para que o paciente
utilize este tipo de tratamento”, destaca Letícia.
Pesquisas
sugerem uma prescrição exagerada de antibióticos durante a pandemia também em
hospitais.
Um
estudo internacional apontou que 70% dos pacientes internados por covid-19
foram tratados com antibióticos — mas a presença de coinfecções causadas por
bactérias foi estimada em apenas 8% dos casos.
Ou
seja, a maior parte dos pacientes que receberam antibióticos não tinham sinais
de infecção por bactérias.
Paralelamente,
dados do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo
Cruz (IOC/Fiocruz), do Brasil, mostram que entre 2019 e 2021, o índice de
amostras de bactérias resistentes a antibióticos enviadas para análise no local
aumentou mais de três vezes.
O
alerta acontece na semana do Dia Mundial da Sepse (13/9). De acordo com o
Ministério da Saúde, a Sepse, também conhecida como como infecção generalizada,
é a principal responsável por óbitos dentro de hospitais. São cerca de 670 mil
mortes no Brasil a cada ano.
A
doença, tratada principalmente por antibióticos — quando causada por bactéria
—, se torna, a cada dia, mais perigosa, já que muitos medicamentos conhecidos
deixam de ser eficazes.
Nas
mais de 20 unidades gerenciadas pela Pró-Saúde no país, que vão desde grandes
centros urbanos até locais remotos, como a Amazônia brasileira, são
desenvolvidas iniciativas voltadas para o uso racional de medicamentos, com
destaque para o Programa Stewardship, focado no gerenciamento e
intervenção no uso de antimicrobianos.
Com
trabalho conjunto do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), médicos
infectologistas, enfermeiros, microbiologistas e farmacêuticos clínicos, foram
mapeadas oportunidades de adequação nas prescrições.
Esse
trabalho refletiu na melhoria contínua e expertise no
tratamento de infecções e, por consequência, reduziu custos para o serviço. Somente
nos primeiros seis meses deste ano, a iniciativa já resultou na economia de
mais de R$ 746 mil reais.
“Administrar
o uso e compreender as influências dos antibióticos são preocupações permanentes”,
diz Letícia. Ela explica que “indicadores como
infecção hospitalar e mortalidade” estão diretamente associados às ações que
são implementadas para redução de riscos no ambiente hospitalar”.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que superbactérias causam cerca de
700 mil mortes anualmente, número que pode chegar a 10 milhões até 2050.
“A
ampliação dessa resistência aos antibióticos é uma ameaça global, pois
interfere diretamente na capacidade de tratar as infecções. Ainda hoje podemos
destacar que o antibiótico é uma das maiores conquistas da medicina. Por isso,
precisamos preservar sua efetividade”, complementa Letícia.
Por
isso, ela acrescenta, que o uso e a indicação adequadas do antibiótico devem
ser promovidos, não apenas pelos pacientes em casa, mas também pelos
profissionais da saúde.
Confira
10 orientações essenciais para o consumo correto e consciente dos antibióticos:
Nunca
use antibióticos sem indicação médica
Além
dos riscos comuns como intoxicação, o uso indiscriminado de antibióticos
colabora para o desenvolvimento de bactérias super-resistentes. Desde 2010, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realiza o controle de
medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos, a fim de
evitar a automedicação.
Não
reaproveite medicamentos de tratamento anteriores
Esse
tipo de medicamento atua apenas contra infecções causadas por bactérias
sensíveis ao fármaco específico, que atua exterminando ou interrompendo
sua produção ou seu metabolismo. Assim, utilizar antibióticos de tratamentos
anteriores não é recomendado. Infecções causadas por outros organismos, como
vírus, parasitas, fungos e germes, não podem ser tratadas com o mesmo fármaco.
Faça
o tratamento até o fim
No
início do tratamento, parte das bactérias começam a ser eliminadas, ocasionando
melhora pontual dos sintomas e a falsa impressão de que a medicação não é mais
necessária. No entanto, após a suspenção do tratamento, as bactérias mais
fortes começam a se multiplicar novamente, agora com o mapeamento do
antibiótico utilizado, o que as torna mais resistentes.
Respeite
os horários programados
Também
é extremamente importante respeitar os horários de administração dos antibióticos.
Após o horário, há risco de desenvolvimento da resistência bacteriana e retorno
dos sintomas; e antes do horário, o paciente pode desencadear sintomas de
intoxicação. Por isso, busque sempre orientação com médico ou farmacêutico.
Cuidado
ao misturar medicamentos
Existem
diversas classes de medicamentos que podem interagir de forma negativa com
antibióticos. Por exemplo, o uso de antiácido pode diminuir a eficácia do
antibiótico, já a combinação com anti-inflamatórios pode ocasionar problemas
gástricos, como dores estomacais. Outro ponto é que alguns antibióticos podem
diminuir ou cortar o efeito dos anticoncepcionais, já que interferem na
absorção do medicamento.
Atenção
na ingestão com alimentos e bebidas
O
líquido mais indicado para ingestão dos antibióticos é a água. Utilizar leite,
sucos, refrigerantes, chás ou café, pode comprometer a eficácia do medicamento.
Além disso, alguns tipos têm sua absorção diminuída quando consumidos junto às
refeições, por isso, é importante seguir as orientações da bula.
Cuidado
com as bebidas alcóolicas
A
interação com bebidas alcóolicas pode levar à diminuição da eficácia do
medicamento ou torná-lo tóxico, já que ambos são metabolizados no fígado. O
álcool pode tanto neutralizar, quanto potencializar o efeito do fármaco. Essa
interação pode desencadear também o “efeito dissulfiram”, com sintomas como
vômito, palpitações, suor excessivo, calor, hipertensão, cefaleia intensa e
dificuldade respiratória.
Atenção
ao armazenamento
Para
que o medicamento conserve sua efetividade, deve ser devidamente armazenado. As
apresentações em cápsula e comprimidos devem ser armazenadas em lugares sem
ação direta de sol, calor e humidade. Os em suspensão, após reconstituído,
devem ser armazenados em local com temperatura ambiente, entre 15° a 30°C,
sempre longe de banheiro e cozinhas. Os que precisam de refrigeração após
aberto, em temperatura de 2° a 8°C, devem ficar isolados dentro da geladeira,
para evitar contaminação cruzada com alimentos.
Faça
o descarte correto dos medicamentos
Após
término do tratamento o indicado é descartar a sobras. Algumas farmácias
comunitárias e postos de saúde fazem esse recolhimento, contudo o ideal é
verificar com o serviço de saúde da sua região como é feita esta coleta.
Observe
a evolução dos sintomas
Ao
iniciar o uso de antibióticos deve-se observar possíveis reações alérgicas,
como coceiras, erupções na pele, manchas vermelhas e dificuldade respiratória.
Neste caso o indivíduo deve procurar imediatamente um médico, já que a demora
pode agravar ainda mais o quadro. O médico poderá avaliar a continuidade ou
substituição da medicação.
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