Setembro é mês de conscientização sobre a síndrome dos ovários policísticos
A síndrome dos ovários policísticos
(SOP) é uma das desordens endocrinológicas mais comuns nas mulheres em idade
reprodutiva, afetando cerca de 10% delas, segundo a FEBRASGO (Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). De acordo com a
federação, estima-se que no Brasil haja 2 milhões de mulheres com essa
condição.
“A SOP é considerada uma das principais
causas de infertilidade feminina por fator ovulatório, sendo as principais
características desta síndrome a presença de hiperandrogenismo (aumento dos
hormônios masculinos) e a anovulação/ oligovulação crônica”, afirma Carlos
Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e
Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital
Albert Einstein, e em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia
pela FEBRASGO.
Já segundo a endocrinologista Claudia
Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); a SOP possui
relação com alterações metabólicas, presença de acne, queda de cabelos (alopecia
androgenética), aumento de pelos em áreas androgênio dependentes (hirsutismo),
resistência à ação da insulina (50-70% das pacientes), diabetes, hipertensão
arterial, entre outros.
“A obesidade tem relação direta com a
SOP, acometendo cerca de 50% das pacientes. Diante do quadro de resistência
insulínica, há maior chance do ganho de peso e maior dificuldade para
emagrecer. Sendo assim, a SOP é entendida hoje como uma doença metabólica, com
todas as suas implicações. O foco deixou de ser exclusivamente o sistema
reprodutivo, englobando o organismo como um todo”, explica Claudia Chang.
Síndrome pode dificultar gravidez
Mulheres portadoras de SOP podem ter
desde a diminuição até a parada dos ciclos ovulatórios e, consequentemente, da menstruação.
“Quem menstrua a cada 3 meses, por exemplo, ovula somente a cada 3 meses. Ou
seja, a mulher tem apenas 4 ovulações ao ano, dificultando as chances de
engravidar.
No entanto, a paciente com SOP só é
considerada infértil caso não menstrue (ciclos amenorreicos, o que quer dizer
que ela não ovula) ou que esteja tentando gestar há mais de um ano e não tenha
conseguido”, pontua Carlos Moraes.
Diagnóstico
A etiopatogenia da SOP é multifatorial
e não completamente conhecida e há várias outras doenças que cursam com a
presença de hiperandrogenismo (excesso do hormônio masculino) e podem mimetizar
o mesmo quadro clínico da SOP. De acordo com Claudia Chang, o ginecologista ou
endocrinologista precisa descartar essas doenças com quadros semelhantes, pois a
SOP é um diagnóstico de exclusão.
“É importante ressaltar que somente a
presença das características ultrassonográficas da SOP, isoladamente, não fecha
o diagnóstico da síndrome, assim como também não é obrigatória a sua presença.
O diagnóstico é realizado a partir da presença de, ao menos, dois dos três
critérios: oligo-amenorreia, hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial e
alterações ultrassonográficas”.
Segundo o ginecologista Carlos Moraes,
o que caracteriza os “ovários policísticos” no ultrassom transvaginal é a
presença de um número de folículos por ovário, maior do que 20 e/ou um volume
ovariano maior do que 10ml, garantindo a ausência de corpos lúteos, cistos ou
folículos dominantes.
Tratamento
A primeira linha de tratamento para SOP
inclui modificações no estilo de vida. “Para muitas mulheres que sofrem de SOP,
perder apenas 10% do peso corporal já pode restaurar os padrões menstruais
normais. Além de corrigir a dieta, adotar a prática de atividade física e
controlar o estresse auxiliam muito no tratamento”, diz a endocrinologista
Claudia Chang.
Os tratamentos farmacológicos abrangem
desde o uso de anticoncepcionais orais, antiandrogênios (medicações contra
hormônio masculino), sensibilizadores de insulina (metformina) e indutores
ovulatórios, para as mulheres que desejam gestar.
Já os anticoncepcionais hormonais
combinados são o manejo farmacológico de primeira linha para o tratamento de
irregularidade menstrual e hiperandrogenismo, sem recomendação específica de
preparações.
“Em casos mais
complexos, a cirurgia ovariana é indicada. É feita por laparoscopia, cujos
folículos são drenados com uma pequena agulha para ajudar a estimular a
ovulação. A cirurgia é realizada apenas se o tratamento médico falhar, pois os
ovários podem ser danificados se o procedimento não for feito corretamente”,
alerta o ginecologista Carlos Moraes.
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