Outros fatores, como a falta de chuva, a baixa umidade no ar durante a estação favorecem o agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias
A poluição atmosférica é a quarta causa de mortes
no mundo, concorrendo com tabagismo (a principal), a hipertensão e os fatores
de risco dietético-nutricionais, sendo responsável por mais de 3,7 milhões de
óbitos entre homens e 3 milhões entre as mulheres.
No inverno, a baixa precipitação das chuvas e o
fenômeno da inversão térmica (retenção de uma camada de ar frio próxima à
superfície, que dificulta a dispersão de poluentes) estão historicamente
relacionados ao aumento da concentração de material particulado e gases tóxicos
no ar e, consequentemente ao aumento das admissões hospitalares por doenças
cardiovasculares (angina, infarto, arritmias e descompensação de insuficiência
cardíaca), cerebrovasculares (acidentes vasculares cerebrais) e respiratórias
(exacerbações de bronquite crônica, enfisema e asma).
Este aumento nas internações relacionado à poluição
não é um evento exclusivo das grandes metrópoles; ele também já foi constatado
em regiões rurais, onde incêndios florestais e queimadas aumentam
substancialmente a concentração de poluentes no ar, superando a origem
veicular, que predomina nos centros urbanos. Nas áreas onde a prática de
queimadas ainda ocorre, muitas vezes desrespeitando leis federais, estaduais e
protocolos ambientais, as internações hospitalares acompanham muito nitidamente
a curva de elevação da poluição no ar.
“Os riscos de infarto são maiores no inverno porque
chove menos e elevando os níveis de poluição. Isso significa que existem mais
partículas em suspensão e mais monóxido de carbono circulante. Todo esse
material é nocivo ao nosso organismo e aumenta o risco de desenvolver doenças
cardiovasculares e pulmonares”, explica Dr. Hélio Castello, cardiologista e
coordenador do serviço de hemodinâmica e cardiologia Intervencionista do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O especialista chama atenção também para o clima
frio, que faz com que os vasos sanguíneos se contraiam, diminuindo os calibres
em todo o corpo. “Esse tipo de estreitamento é especialmente preocupante para
pessoas que já têm algum grau de obstrução ou entupimento nas artérias do
coração, porque acaba deixando os vasos ainda menores, o que aumenta a chance
de um infarto”, ressalta.
A alimentação é outro fator que requer uma atenção
especial nesta época do ano, porque tende a ser mais calórica. “No inverno, é
comum abusarmos de comidas mais gordurosas e isso também afeta o coração, que
precisa trabalhar mais para fazer a digestão. Além disso, esse tipo de dieta
oferece mais colesterol, mais triglicérides e mais açúcar, substâncias que
acabam afetando negativamente a pressão arterial e o coração”.
A manutenção do uso de máscara também é
recomendada: “Usar máscara, uma prática que se tornou comum durante a pandemia,
pode ajudar a filtrar o material particulado do ar que fazem mal tanto para o
coração quanto para o pulmão, mas não impede a inalação de gás carbônico”, diz.
O especialista recomenda também a ingestão de líquidos, especialmente água.
Para minimizar as consequências que o inverno e a
poluição trazem para o nosso organismo, o especialista aconselha alguns
cuidados que podem ser adotados por pessoas de todas as idades e, em especial,
pelos idosos. “Devemos tomar todas as vacinas, não só as da Covid-19. A
vacinação contra a gripe, que previne contra vários tipos de Influenza, como o
H1N1, previne também contra a pneumonia. Essas doenças aumentam as chances de
infarto ou AVC porque levam o corpo a um estado inflamatório, que aumenta a
chance de coagular o sangue e de contrair os vasos que podem levar ao
entupimento das artérias e ao infarto”, esclarece.
O cardiologista alerta, inclusive, para a
manutenção do tratamento farmacêutico: “É importante não interromper a
medicação recomendada pelo seu médico, fazer controle dos níveis de pressão e
não descuidar da dieta. Temos que tomar cuidado para não comer alimentos
gordurosos com frequência e ficarmos atentos aos sinais do corpo. Se notar
alguma alteração importante, procure um médico”, aconselha.
Poluição e frio afetam também
o sistema respiratório
Além do material particulado e de gases como os
óxidos de enxofre emitidos pelos escapamentos dos carros, temos também o
ozônio, um gás considerado poluente secundário, isto é, uma substância nociva
que se forma a partir de reações químicas entre outros poluentes, como os
óxidos do nitrogênio e os compostos orgânicos voláteis, com o oxigênio do ar.
Essas reações, facilitadas pela radiação ultravioleta da luz solar, são
particularmente mais intensas em locais de alta concentração de veículos
automotores e em dias e horários mais ensolarados, como frequentemente presenciamos
no inverno. O ozônio, tão importante em camadas mais altas (a partir de 20.000
metros) da atmosfera por bloquear radiação ultravioleta, aqui no nosso meio é
considerado um poluente, causando inflamação nas vias aéreas e contribuindo
para o adoecimento e mortalidade por doenças respiratórias.
As variações bruscas de temperatura podem trazer
ainda mais preocupação por reduzir os mecanismos de defesa do sistema
respiratório. Segundo o Dr. Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, essa amplitude térmica que temos enfrentado nos últimos dias
prejudica o batimento dos “cílios” das células que revestem o aparelho
respiratório. “Os cílios fazem um batimento, como se fossem remos de uma
embarcação, empurrando qualquer impureza, como material particulado e secreção,
em direção às vias de saída, que são boca e nariz. Quedas bruscas de
temperatura paralisam temporariamente essa atividade ciliar e isso favorece
acúmulo de material particulado, impurezas e secreção, podendo causar
inflamações e infecções no trato respiratório”, esclarece.
Cuidados com o tempo seco
O especialista destaca ainda a importância de tomar
algumas precauções em épocas de tempo seco. “Quando o tempo está seco e temos
que lidar com uma maior concentração de poluentes no ar, como gases e material
particulado, temos mais chance de favorecer uma desidratação das vias áreas
levando a alterações nas características da secreção respiratória, que fica
mais espessa e com maior tendência a acúmulo”, elucida e complementa: “Nesses
casos é importante lavar as narinas com soro fisiológico, que além de limpar,
hidrata a mucosa nasal, o que traz mais conforto”.
Outra dica do pneumologista é evitar ambientes
fechados sem ventilação e com maior concentração de pessoas, que favorecem a transmissão
de infecções respiratórias, como gripes e resfriados, além da própria Covid-19.
“Para minimizar os efeitos da poluição nessa época do ano alguns cuidados podem
ajudar, como maior ventilação dos ambientes, manutenção preventiva de aparelhos
de ar-condicionado, manter-se bem hidratado, fazer uma alimentação saudável e
praticar esportes regularmente. Para as pessoas com doenças respiratórias,
aconselho manter um cuidado redobrado em relação à aderência do tratamento
proposto pelo médico. Não relaxem no uso dos medicamentos, nem nos cuidados
gerais”, orienta.
O pneumologista traz ainda dicas importantes para
os praticantes de exercício à céu aberto. “Do mesmo jeito que o surfista olha a
tábua de marés antes de ir à praia, quem faz exercícios na rua precisa também
acompanhar a qualidade do ar e procurar fazer essa atividade, minimizando a
inalação de poluentes de origem automotiva. Para quem pode escolher quando se
exercitar, evite os horários do rush, entre 7h e 8h da manhã e entre 5h e 6h da
tarde, além do horário do almoço, que, por causa da maior incidência de
radiação solar, é o horário de maior concentração de Ozônio, um poluente que
provoca inflamação nas vias aéreas e exacerbação de doenças respiratórias.
Sempre também é importante dar preferência a ruas secundárias, evitando grandes
vias de tráfego de veículos.”, recomenda.
Hospital Alemão
Oswaldo Cruz
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