Um dia desses, saí de casa e fui até o centro de São Paulo numa sapataria que faz sapatos especiais para o meu pé, só que eu tive que ir de carona, não posso dirigir porque estou usando uma sandália que não permite que eu dirija. Durante o trajeto fiquei em silêncio, no meu canto, observando a cidade que passava pela janela do carro. Vi a Juscelino Kubitschek com as grandezas de seus prédios, passei pela Brigadeiro Luiz Antônio e reparei como a cidade pulsa no seu ir e vim dos pedestres.
Quanto mais o carro chegava perto do centro da
cidade, mais contrastes eu ia observando, até que o automóvel parou no farol
vermelho e da janela observei um homem, ele tinha mais ou menos 35 anos, era
alto e de cor negra. Enquanto esperava o sinal abrir vi o homem se aproximar de
três latões grandes de lixo, ele tirou as tampas dos latões como se
procurasse por alguma coisa, até que tirou de dentro de um algo parecido com um
bloco, enfiou o dedo, tirou um pedaço de algo que não consigo descrever e
comeu.
Aquela cena me gerou uma certa revolta, a situação
vivida por aquele homem representa o último estágio da pobreza e isso me causou
indignação porque me lembrou que tudo que está no planejamento dos comandantes
do nosso país consiste no enriquecimento deles. A intenção dos nossos
representantes é que a pobreza seja generalizada para assim ser perpetuada.
Tenho a impressão de que eles não medem o tamanho
da pobreza da população, mas sim o tamanho do bolso deles, ou seja, cada vez
mais eles pedem para seus alfaiates fazerem calças com bolso mais fundo para
que possam receber mais propinas.
É fácil fazer as contas. Um exemplo disso é um
deputado que trabalha por dois mandatos, cerca de oito anos, e aposenta com
salário integral. Hoje, um cidadão comum não consegue se aposentar com salário
integral. Eu, por exemplo, trabalhei por cerca de 35 anos e ao me aposentar
recebia, inicialmente, cerca de R$ 4.500.
Porém, um colega de escola que prestou concurso e
foi ser promotor público, ganha cerca de 128 mil reais de aposentadoria. E ele
só precisou trabalhar cerca de 20 anos. Isso é inaceitável. Existem
professores, engenheiros, médicos que trabalham a vida toda e ao aposentar são
obrigados a continuar trabalhando porque a aposentadoria de um profissional
desse é em torno de R$: 5.000 e se ele parar de trabalhar e viver de
aposentadoria, talvez não consiga nem comer um sanduiche.
Mas eu pergunto: por que essa situação não muda? A
resposta é simples: porque eles não querem. Existem diversas propostas de
reforma na câmara e no senado, elas estão lá há 20 anos e não são votadas. Elas
retorcem e distorcem as reformas, mas eles não votam, porque se eles votarem
elas podem piorar. Mas ela não vai piorar a vida do cidadão, ela vai piorar o
bolso deles.
Eu já dei exemplo aqui que é necessário que haja
vontade política, a vontade do povo por mais importante que seja, ela não faz
diferença. É urgente alguém que faça um esforço e faça algo para o bem do
Brasil e da pátria. Porque ultimamente eles só pensam no bolso deles.
E enquanto os responsáveis pelo Brasil continuarem
a pensar no bolso do deputado, do senador ou do Ministro do Supremo tribunal
federal, cenas como a descrita acima, onde um homem precisa revirar o lixo em uma
das principais avenidas de São Paulo, serão comuns.
Por fim, não posso deixar de mencionar que
começamos a fazer algo quando gritamos para o mundo que se roubar vai preso,
porém, quando um ex-presidente condenado por corrupção é solto percebemos que
não temos moral, não temos judiciário, pois todos que estão no poder são
ladrões. Todos são repetitivos, sem moral.
Ao ver essa cena me dei conta que tenho 70 anos, e
que já vi de tudo e que assistir ao Lula ser condenado e depois liberado, dá
uma sensação de impotência e que nossos governantes nunca pensam no povo
sofrido e no empresário extorquido. Aqui nós temos empresários que são
extorquidos, temos um povo sofrido e sem nada. Precisamos tentar mudar
isso nas próximas eleições, analisando com mais critérios em quem votamos.
J.A.Puppio - empresário e autor do livro
“Impossível é o que não se tentou”
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