Começou oficialmente no Brasil a temporada de
balanços 2020. As primeiras leituras já começam a apontar a direção que a economia
do país deve seguir nos próximos meses e o possível impacto da pandemia de
coronavírus nos principais setores da economia.
A CIELO (CIEL3), maior empresa de pagamentos do
Brasil, registrou uma contração do lucro líquido de 65,4% nos primeiros três
meses do ano no comparativo anual, totalizando R$ 202,6 milhões contra R$ 585,5
milhões em 2019. Já as despesas financeiras aumentaram 41,5%, em relação a
2019. “A Cielo está diretamente exposta à queda de consumo interrompida
bruscamente com o isolamento social”. Apesar dos números preocupantes, o pior
resultado ainda está por vir no segundo trimestre, quando os dados irão
retratar o período mais intenso do isolamento social.
O Banco Bradesco (BBDC4), segundo maior banco
privado do país, apresentou lucro recorrente de R$ 3,753 bilhões no
primeiro trimestre de 2020, registrando uma queda de 39,8% no comparativo
anual. Enquanto isso, as despesas líquidas com provisões para devedores
duvidosos (PDD) chegaram ao montante de R$ 6,708 bilhões, um salto de 86,1% no comparativo
anual.
Os resultados do banco ficaram mais concentrados ao
crédito PJ neste começo de ano, mas o que chama a atenção é o forte aumento das
provisões, indicando que o Bradesco está se preparando para uma disparada da
inadimplência.
Contudo, o cenário ainda não está claro para o
setor bancário. O banco espanhol Santander (SANB11) provisionou R$ 3,424
bilhões com despesas líquidas e provisões para devedores duvidosos (PDD), uma
alta de 19,2%, bem abaixo do Bradesco. Apesar de haver diferença na exposição
do crédito entre as instituições, a disparidade pode ser um forte indicador de
que os bancos dividem opinião sobre a oferta do crédito nos próximos
meses.
Na área das commodities, a mineradora Vale (VALE3)
registrou um lucro líquido de R$ 984 milhões neste começo do ano, uma
recuperação significativa se comparada ao prejuízo de R$ 6,4 bilhões em 2019
devido à tragédia de Brumadinho (MG). De acordo com a companhia, a melhora no
resultado aconteceu por conta do reconhecimento de despesas pontuais no 4º
trimestre de 2019, como baixas contábeis em ativos de níquel e carvão (R$ 17,3
bilhões) e provisões relacionadas a Brumadinho (R$ 3,7 bilhões).
Já a dívida líquida da Vale ficou estável em US$
4,8 bilhões em relação ao quarto trimestre de 2019, mas com forte queda no
comparativo anual, quando o endividamento chegou a US$ 12,031 bilhões. O
cenário da companhia reflete muito a expectativa da retomada econômica da
China, tornando-se uma referência para o que pode ser projetado nos próximos
meses quando a pandemia arrefecer por aqui.
Com tudo isso, conclui-se que a forte queda do
consumo local ainda é o maior inimigo dos setores do varejo e serviços
financeiros, enquanto o provável aumento no desemprego pressiona as provisões
de inadimplência dos bancos.
Já para as exportações, em especial para a Ásia,
uma frágil melhora de perspectiva começa a ser formada, ajudada principalmente
pela alta do dólar.
Por fim, fica cada vez mais claro que para que haja
melhora sistêmica nos setores, é necessária a flexibilização do isolamento
social. No entanto, o movimento pode ser arriscado, já que a flexibilização
abre espaço para a possibilidade de uma nova onda de contágio pelo coronavírus.
Capital
Research
Nenhum comentário:
Postar um comentário