Contencioso é a alternativa litigiosa para tentar
solucionar conflitos de interesse envolvendo questões jurídicas (cíveis,
tributárias, ambientais, penais, administrativas, dentre outras). Pode ser (i)
judicial, quando instaurado perante o Poder Judiciário, (ii) arbitral, quando
instaurado perante uma Câmara Arbitral, ou ainda (iii) administrativo, quando o
trâmite se dá no âmbito da administração pública.
No Brasil, a alternativa contenciosa é, via de
regra, a escolhida para tentar solucionar os conflitos existentes. Ocorre que
as questões litigiosas podem ser desgastantes para a imagem de uma empresa,
demorar para alcançar uma decisão final ou ainda onerar sobremaneira as
atividades comerciais desenvolvida pelo cliente.
Com efeito, a questão que se pretende colocar em
discussão é: como qualificar este contencioso como uma unidade de negócios da
sua empresa, que o auxiliará na eficácia dos recursos, redução de custos e que
poderá inclusive facilitar novos investimentos? Essa é uma questão extremamente
pertinente e é um desafio atual tanto para a empresa e quanto para os
advogados.
Como creditar ao contencioso uma oportunidade de
negócios?
Para grande maioria dos advogados, estagiários e
demais membros do mundo jurídico, não é tão simples a análise desta questão. Em
regra, as Faculdades de Direito focam no ensino de doutrinas e teses
estritamente jurídicas, considerando o Direito quase que exclusivamente como
meio de pacificação social.
Não que isso esteja errado, muito pelo contrário, o
conhecimento técnico das leis, doutrina e jurisprudência é, e sempre será, de
salutar importância. Contudo, uma vez obtido com maestria o conhecimento
acadêmico, o advogado deve dar um passo além e aprimorar a sua tecnicidade com
uma visão 360º das atividades comerciais desenvolvidas pelo cliente,
compreendendo efetivamente quais são as dores que impactam o dia a dia dos
empresários.
Essa visão para o advogado é imprescindível e
mudará o paradigma de como o setor jurídico é visto dentro da empresa. Hoje há
várias técnicas e recursos que auxiliam nessa nova forma de enxergar os
processos judiciais e administrativos.
Sem a menor intenção de esgotar o tema, destacamos
abaixo algumas das técnicas para a implementação de um contencioso
estratégico:
1- O advogado deve querer entregar mais resultados: ao lado da
impecabilidade de suas petições, o advogado deve estar estruturado com
mecanismos que auxiliem na busca constante pela desburocratização e
simplificação das empresas, no diálogo com outros setores, na revisão de
contratos e na orientação para evitar os litígios;
2- Uso de tecnologias: o
desenvolvimento de inovações para melhorar o trabalho humano é crescente. Essas
tecnologias não devem ser vistas como uma ameaça, mas sim como ferramentas que
auxiliará o advogado a focar a sua energia no que realmente traz resultados
para a empresa. O uso de inteligência artificial, lawtechs e legaltechs deve
ser uma realidade para o jurídico das empresas e dos escritórios para
incrementar a qualidade e eficiência do seu trabalho;
3- Equipe engajada e com conhecimento do
negócio e suas principais dificuldades: o jurídico
não pode ficar isolado com a única preocupação de cumprir prazos, fazer
petições, audiências e protocolos. Ao lado das rotinas inerentes de todo
departamento jurídico, deve estar a participação ativa na vida empresarial, até
mesmo para que o advogado aprenda a analisar os resultados obtidos;
4- Estudo das principais questões jurídicas
da empresa: as teses que vale a pena manter a discussão
judicial ou administrativa devem ser selecionadas e segregadas das que não
valem. Uma política que busca a negociação extrajudicial e a composição entre
as partes também deve ser bem vista pelos departamentos jurídicos.
5- Não esperar citações para agir: manter uma
rotina de pesquisa constante sobre a distribuição de novas ações é
imprescindível. Isso vai dar uma margem maior de negociação e oportunizará a
redução do número de demandas ativas contra a empresa.
6- Análise de riscos: Aqui está
um dos maiores desafios, pois a insegurança jurídica é uma realidade no Direito
brasileiro. Contudo, a vida do empresário é justamente a gestão de riscos. Como
conciliar o risco intrínseco da atividade empresarial com a segurança jurídica?
Pois é, trata-se de um grande desafio, porém, são exatamente nessas situações
desafiadoras que as inovações e novas oportunidades de negócios aparecem.
O contencioso estratégico é
uma ótima oportunidade de aumentar a eficiência dos recursos da empresa, evitar
custos desnecessários com litígios sem chance de êxito, compreender (parametrizar)
a origem das demandas a fim de evitá-las ou, no mínimo, diminuí-las.
Ressaltamos que absolutamente toda empresa tem a oportunidade de se valer do
contencioso estratégico, seja através de um jurídico interno capacitado ou
escritório externo que possua experiência no segmento.
A boa notícia é que cada vez mais o cenário
jurídico está se familiarizando com a visão estratégica do contencioso, até
mesmo porque essa visão permite ao advogado analisar quais são os riscos
efetivamente envolvidos e propor as melhores e mais criativas estratégias ao
cliente, independentemente da complexidade envolvida.
Juliana Gonçales - sócia do Silveira Advogados e
especialista em Direito tributário (www.silveiralaw.com.br)
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