Vários líderes mundiais, sejam políticos ou
empresariais, advertiram nas últimas semanas sobre os efeitos econômicos das
políticas de saúde colocadas em prática face ao novo Coronavírus. Muitos
recomendam ainda não ser possível ou sustentável aplicar um remédio cujo
resultado seja pior que o da disseminação da doença. A lógica do argumento é
que o distanciamento social estaria causando mais danos se comparado com outras
formas de combate à doença. Isso levou muitos a crerem na existência de um
dilema entre a saúde e a economia, como se fosse possível escolher ou um ou
outro. Salvar a economia e os empregos ou a saúde da população?
Como o Estudo dos Dilemas ou trade-offs
é central na análise econômica, pode causar espanto a disseminação de opiniões desconsiderando
a disciplina. Talvez a explicação seja na falta de confiança nos economistas.
Ainda antes da crise causada pela Covid-19, os economistas já tinham reputação
desfavorável. Conforme pesquisas recentes publicadas pelos vencedores do Nobel
em Economia em 2019, o indiano Abhijit Banerjeee a francesa Esther Duflo, a
opinião pública em relação aos profissionais está entre as piores entre todas
categorias pesquisadas. Em alguns países, só é superior justamente a dos
políticos.
De toda forma, é impossível propor ideias sobre
como enfrentar o problema ou como ele deveria ser enfrentado sem analisar as
escolhas alternativas. Em outras palavras, a comparação de custos e benefícios
das opções é condição necessária para se advogar por uma escolha “ótima”. E é
nesse sentido que hoje os especialistas convergem para a necessidade de
quarentenas para preparar e evitar o colapso dos sistemas de saúde, tendo em
vista um contágio de altas proporções, algo aparentemente inevitável.
As escolhas alternativas, como relaxamento dessas
medidas, parecem desconsiderar a catástrofe social e dos sistemas de saúde na
atividade econômica causado por um número mais elevado de internações e mortes.
A escolha de não realizar medidas e preservar a atividade econômica pode acabar
nos levando não atingir nem o que se deseja na saúde nem na economia. Além de
tudo, meias medidas podem elevar ainda mais as incertezas de consumo e
investimento.
A Universidade de Chicago organiza há mais de dois
anos um painel de experts em economia para informar à sociedade em geral sobre
até que ponto os economistas concordam ou discordam sobre questões importantes
relativas às políticas públicas. Ao contrário do que se possa imaginar, há um
consenso muito interessante em torno do tema e medidas contra a propagação da
doença. Quando perguntados se uma resposta política abrangente e coerente ao
Coronavírus envolve suportar uma grave crise econômica até que a propagação de
infecções caia significativamente, 88% concordaram, e nenhum discordou. Em
sequência, sobre se abandonar quarentenas severas em um momento em que a
probabilidade de ressurgimento de novas infecções permanece alta leva a um dano
econômico total maior do que sustentar os bloqueios para eliminar o risco de
ressurgimento. Nessa afirmação, 80% dos entrevistados concordaram, e o restante
incertos. Nenhum discordou. Quando a questão foi sobre se otimamente seria
desejável acelerar investimentos na saúde, entre infraestrutura, equipamentos e
pesquisas, todas as respostas foram positivas.
Sobre a necessidade urgente de aumentar a testagem,
mesmo que aleatória, antes de tomar qualquer decisão sobre o encerramento das
quarentenas, 84% concordaram, 7% estavam incertos e apenas 5% discordavam.
Sobre a volta após as quarentenas, 93% concordaram que a testagem massiva e
estratégias coerentes de prevenção são condições necessárias para a retomada
econômica.
Em comunicado conjunto recente dirigido às
autoridades internacionais, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, e o
diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Adhanom
Ghebreyesus, escreveram que “controlar a propagação do vírus é antes de tudo um
pré-requisito para salvar as economias”, rejeitando o dilema de saúde versus
economia. É necessário, portanto, que os sistemas de saúde estejam preparados
para a crise, com mais investimentos e políticas coerentes, baseadas em métodos
científicos. Às pessoas e aos negócios que estão sofrendo com essa paralisação
da sociedade e da economia, a ajuda precisa chegar. De forma coordenada e mais
rápida.
Eduardo Trapp Santarosssa - economista, consultor e
professor do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG)
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