Entender como é a transmissão
comunitária, a infecção pelo coronavírus tipo 2 (SARs- Cov-2), como a doença
viral se manifesta e se comporta na população mundial são fundamentais nas decisões
a serem tomadas na flexibilização do isolamento social
Todos estão questionando como
e quando poderemos sair do isolamento social. Os números desta segunda-feira,
27/04, apresentam que há mais de
2,9 milhões de casos confirmados de coronavírus e mais de 206 mil mortes em
todo o mundo por complicações da Covid-19. O levantamento foi feito pela
universidade norte-americana
Johns Hopkins. No Brasil foram registradas 4,2 mil mortes provocadas pela
Covid-19 e 60 mil casos confirmados da doença em todo o país, segundo
o Ministério da Saúde.
Já sabemos que o coronavírus
ou a Covid-19 mostra um aumento crescente e difuso na população e que pode
levar a um número elevado de mortes.
Sabemos também que um longo tempo de
distanciamento social leva a um detrimento das condições físicas, mentais e
econômicas do indivíduo e da sociedade. Mas quando poderemos relaxar as
restrições?
Quem explica e nos fornece
algumas dessas respostas é o neurocirurgião Wanderley Cerqueira de Lima, que é
coordenador de uma das equipes de neurocirurgia da Rede D’or de Hospitais e
atua também no Hospital Israelita Albert Einstein, com mais de 30 anos de
experiência em neurologia e neurocirurgia.
Segundo doutor Wanderley, será
possível começar a relaxar algumas medidas de restrições quando “houver um
programa massivo e difundido para identificação de pessoas assintomáticas e ao
mesmo tempo existir um monitoramento do isolamento e da quarentena, que são de
responsabilidade dos estados e municípios”, diz o neurocirurgião.
Doutor Wanderley também alerta
que é necessário atenção especial na redução dos focos de transmissão
domiciliar, pois muitos casos acontecem dentro da família, principalmente
naquelas mais carentes e vulneráveis.
E o médico ainda aconselha que
a quarentena somente poderá ser reduzida quando os tratamentos propostos para
Covid-19 reduzirem o tempo de permanência nas UTIs em cerca de 20% a 30%, o que
gera um benefício para a capacidade do sistema de saúde público e privado,
podendo ser melhor administrado.
“Durante essa pandemia a
obtenção rigorosa e confiável de dados (estatísticos) é essencial para os
programas e medida a serem adotados nessa extensão e severidade da Covid-19,
levando com isso a respostas efetivas”, ressalta.
Nesta semana duas das mais
populosas cidades da China, Pequin e Xangai, voltaram às aulas, após quatro
meses de isolamento social e na Espanha, os parques foram reabertos. Ou seja, o
retorno à rotina próxima ao normal nesses lugares, após o pico da doença, está
se dando de forma gradativa.
As especialidades
Os hospitais de São Paulo
estão quase com suas capacidades de internação, principalmente UTIs, esgotadas.
Mesmo assim, médicos de diversas especialidades continuam atendendo nos
hospitais, clínicas e em seus consultórios.
“Estamos atuando normalmente
nos centros médicos para consultas, realizações de exames complementares,
fornecendo tratamentos e neurocirurgias, se necessárias, no meu caso como
neurologista e neurocirurgião. Estamos tomando todos os cuidados, obedecendo
protocolos rigorosos, a fim de nos protegermos para proteger o paciente e seus
familiares. Não é possível que o paciente adie uma consulta ou um tratamento
para o seu problema neurológico, por exemplo. Mas, isso vale para todas as
especialidades; sei que meus colegas cardiologistas, pediatras e de todas as
áreas da Medicina estão trabalhando para atender aquele paciente que têm um problema
específico nessas áreas.
Há doenças que não podem ter
seus tratamentos interrompidos, como por exemplo, as aplicações de
quimioterapia em pacientes com algum tipo de câncer, ou aqueles que necessitam
fazer constantemente hemodiálise. Esses pacientes devem continuar seus
tratamentos normalmente e as unidades de saúde estão atendendo para este fim.
O que vem a ser o novo coranavírus Sars-Cov-2?
Doutor Wanderley explica que
nunca é demais saber sobre o vírus e suas formas de transmissão, multiplicação,
infecção, mutação e até mesmo reinfecção.
O conhecimento está no
conjunto de milhões de componentes no nosso organismo, como bactérias, fungos e
vírus que estão em constante equilíbrio saudável naquilo que chamamos
“microbioma. Em um desiquilíbrio eles afetam de várias maneiras a nossa saúde”.
Nessa diversidade entre os
componentes do microbioma, quando os diferentes números e tipos se alteram,
alguns desses agentes podem se tornar dominantes, por exemplo, quando há uma
alteração na flora intestinal e nas vias aéreas respiratórias, ou seja, o
microbioma intestinal e nas vias aéreas, respectivamente.
A transmissão e a infecção
viral das vias aéreas e dos pulmões na Covid-19 ocorrem por meio de pequenas
gotículas de pessoa para pessoa, contendo uma quantidade enorme de cargas
virais, transmitidas ao falar, tossir e espirrar, por isso se dá importância a
utilização de máscaras de proteção individual.
“Pode haver também a
transmissão por meio de objetos e superfícies de contato, como no uso de copos,
talheres, no toque de maçanetas, botões de elevadores, corrimões, dispositivos
de biometria, no aperto de mãos e outros, assim é fundamental lavar, limpar e
desinfectar”, diz doutor Wanderley.
A transmissão pode ocorrer por meio de gotículas
ainda menores, chamadas aerossóis, que ocorrem em algumas circunstâncias
especiais. “Elas ocorrem durante a intubação “orotraqueal” de pacientes na UTI,
nas aspirações de secreções, naqueles pacientes que necessitam de mudança de
posição no leito, naqueles submetidos à broncoscopia, nas traqueostomias
realizadas nos centros cirúrgicos, nas extubações e também nas manobras de
ressuscitação cardiopulmonar – por isso o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção
Individual) mais específicos no ambiente hospitalar e nas UTIs”, explica o
doutor Wanderley Cerqueira de Lima.
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