Em conversa com dois amigos, levantei uma das
questões que me intrigam: por que o Brasil continua tão pobre e atrasado? Minha
indignação com a pobreza brasileira vem de alguns fatores. Primeiro, o país tem
recursos naturais abundantes. Segundo, a população brasileira é formada por
pessoas de origens diversas, entre elas imigrantes e descendentes vindos de
praticamente todos os países desenvolvidos e de várias culturas, portanto, com
facilidade para importar tecnologias, costumes e habilidades. Terceiro, o país
não tem resistência cultural na absorção do que o mundo inventa. Quarto, o sistema
econômico (capitalista), o regime político (democrático) e a Constituição
Federal são a favor da abertura ao comércio exterior e à inserção
internacional.
Apesar desses atributos, de um total de 193 países
(número oficial da Organização das Nações Unidas – ONU), o Brasil tem renda por
habitante de US$ 10.869/ano e ocupa a posição de número 64. Ou seja, há 63
países com renda pessoal anual média superior à do Brasil, muitos deles pobres
de recursos naturais, como é o caso do Japão, mas que mesmo assim conseguiram a
riqueza econômica. Convém lembrar que esses números e posições mudam
constantemente, e os dados dependem da data em que a comparação é feita.
O número de países considerados desenvolvidos não
passa de 30. Isso significa que há países pobres em posição melhor que a
brasileira em termos de renda por habitante. Daí se pode tirar outra pergunta:
por que há tão poucas nações desenvolvidas em relação ao total de 193 países?
No decorrer da conversa, uma amiga disse: “A excelência é a exceção; se não em
tudo, em quase tudo”. Na música, no esporte, na literatura, nas artes e na
ciência, a alta excelência é a exceção.
Fiquei pensando sobre o assunto. Quantos tenores há
no nível de um Luciano Pavarotti? Pouquíssimos. Quantos futebolistas houve ou
há no padrão de Pelé, Messi, Maradona? Praticamente, somente esses três mesmos.
Mas, baixando um pouco a régua, quantos houve no padrão de Zidane, Rivellino,
Ronaldo? Pouquíssimos. E tenistas no nível de Rafael Nadal, Andre Agassi e Pete
Sampras? Raríssimos, quase ninguém. E na literatura? Na pintura? A mesma coisa.
Realmente, parece que a excelência é exceção.
Claro, essa lista é aleatória, sem pretensão
científica. Mas o fato é que dá para afirmar que a excelência em alto nível é a
exceção. E aí me vem outra questão: se o destino do mundo é ser assim, então o
Brasil não chegará tão cedo – se é que um dia chegará – à condição de qualquer
dos 30 países desenvolvidos. Se bem que, para ter bom padrão de vida para
todos, bastaria ir até próximo dos US$ 26 mil/ano de renda por habitante, desde
que a desigualdade fosse reduzida. O Brasil tem amplas condições materiais e
humanas para chegar a esse nível de renda e só não consegue por causa de nossos
próprios defeitos políticos, econômicos e culturais.
O ministro Paulo Guedes vem dizendo que todos os
governos nos últimos 50 anos cometeram o mesmo equívoco: política fiscal
desastrosa, com déficits crônicos e explosão da dívida pública, e não
perceberam que o país caminhava celeremente para a atrofia do setor estatal.
Isso ocorreu nos 5.570 municípios, 26 estados, Distrito Federal e União
federal. Política fiscal deficitária e dívida governamental gigantesca provocam
sempre elevação de juros e aumento de tributos, fazendo o país ser um paraíso
para quem vive de juros, ao tempo em que inibe o espírito de iniciativa, sufoca
o empreendedorismo e desestimula os negócios.
Mesmo com uma carga tributária efetivamente
arrecadada na faixa dos 34% do PIB, a atrofia do setor estatal, a ineficiência
e a corrupção levaram a déficits que, acumulados, construíram uma dívida
pública bruta perto de 80% do PIB. Vale mencionar que esses 34% ingressados nos
cofres públicos ocorreram mesmo com inadimplência, sonegação, renúncias fiscais
e economia informal. Ou seja, em matéria de construir o monstro, todos os
partidos que estiveram no poder cometeram os mesmos erros. Outro amigo
pessimista costuma dizer: nenhuma pessoa que está viva hoje verá o Brasil
desenvolvido e sem pobreza. Se ele estiver certo, a esperança tem de ser
transferida para o século 22.
José Pio Martins -
economista, é reitor da Universidade Positivo.
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