Mesmo com disponibilidade, pessoas com
hemofilia não recebem medicamento que inibe hemorragias
No Dia Nacional de Luta por Medicamento, 8
de setembro, a Federação Brasileira de Hemofilia informa que fatores de
coagulação não chegam ao paciente por falta de repasse das gestões estaduais e
municipais
As pessoas com hemofilia no Brasil poderiam ter um dos
melhores tratamentos do mundo para conter as hemorragias, dores e sequelas que
o transtorno genético acarreta a no dia a dia desses pacientes, mas isto ainda
não é uma realidade.
Desde 2011, o Ministério da Saúde disponibiliza doses
suficientes de Fator VIII e fator IX de coagulação para uso preventivo, o que
inibe os sangramentos que, se não socorridos a tempo, podem levar a sequelas
irreversíveis e até a morte.
A Federação Brasileira de Hemofilia (FBH) alerta que
nem todos os pacientes recebem o fator para uso preventivo devido à gestão
inadequada dos estados e municípios aos cumprirem suas responsabilidades dentro
da Hemorrede.
O Ministério da Saúde disponibiliza 4 unidades per
capita do Fator de coagulação, quantidade que é acima da recomendada pela
Federação Mundial de Hemofilia e OMS, estipulada em três como mínimo para
proporcionar a integridade articular. “A profilaxia, como é chamado o tratamento preventivo, é a única
forma das pessoas com hemofilia terem suas articulações preservadas e exercerem
a cidadania com independência e autonomia e serem inseridas na sociedade com as
oportunidades de qualquer cidadão brasileiro”, afirma a presidente da FBH,
Tania Pietrobelli
A hemofilia é um transtorno genético que afeta a
coagulação do sangue. Trata-se de um defeito na produção em um dos 13 fatores
responsáveis pela coagulação. Na hemofilia A há deficiência de Fator VIII e na
Hemofilia B, deficiência do Fator XI.Ambas podem ser classificadas em leve,
moderada ou grave. A profilaxia é a aplicação do fator que não é produzido
pelo organismo de modo preventivo, o que possibilita a criança ou
adulto ter uma vida normal e exercer atividades do dia a dia, inclusive
exercícios físicos e esportes.
Guilherme Genovez, ex-coordenador-geral de Sangue e
Hemoderivados (CGSH) do Ministério da Saúde, explica que a distribuição dos
Fatores até o paciente é feita pelos estados e municípios, responsáveis pela
gestão dos hemocentros, locais que tratam e atendem as pessoas com hemofilia no
Brasil. Hoje, há quantidade de fatores de coagulação disponível para promover a
profilaxia em todos os pacientes com hemofilia grave ou com sintomas de grave,
o que não acontece é uma política local de saúde.
“Para a prescrição da profilaxia é preciso que uma
equipe multidisciplinar acompanhe o paciente com enfermeira para instruir a
aplicação do fator em casa, uma assistente social para checar se na casa há
condições adequadas de armazenamento do fator, que precisa ser refrigerado, o
próprio médico hematologista para acompanhamento e fisioterapeuta para
indicação de exercícios para fortalecimento muscular”, esclarece Genovez, que é
médico hematologista. Além disso, a equipe multi profissional também conta com
psicólogo, odontólogo e ortopedista, para os casos em que estes forem
necessários.
No período anterior a 2011, quando a quantidade de
fator era insuficiente para o tratamento profilático, essa articulação da
estrutura multi profissional não era necessária, pois os atendimentos eram
apenas emergenciais e de acompanhamento, já para a profilaxia, é necessária
grande responsabilidade e organização dentro das equipes dos Hemocentros.
Para Mariana Battazza
Freire, vice-presidente da FBH,“estes
problemas ocorrem pois esta é uma patologia rara, complexa, e um novo
tratamento exige muita capacitação para os profissionais envolvidos e uma
articulação harmoniosa entre todas as esferas da Hemorrede. As
informações relativas ao tratamento devem ser repassadas insistentemente
aos pacientes e esta responsabilidade é das equipes tratadoras.”
A profilaxia é realizada através a aplicação do
fator via endovenosa e pode ser realizada em casa pelo próprio paciente, ou
responsável, que é capacitado a puncionar a veia e realizar a infusão.
A principal luta da FBH é que todas as
pessoas com hemofilia tenham acesso ao tratamento preventivo e de preferência
que seja realizado em seu domicílio ou o mais próximo possível de sua casa,
permitindo que todas as pessoas com hemofilia tenham uma vida plena e saudável
para que possam cumprir seus papéis como cidadãos na sociedade como qualquer
pessoa.
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