Bondades do governo
vão consumir R$ 106 bilhões
Essa
é uma herança da qual o próximo governo, qualquer que seja ele, terá
dificuldades de se livrar num eventual processo de ajuste das contas públicas.
Isso porque estão na conta "bondades" como o corte dos tributos
federais sobre a cesta básica e a desoneração da folha salarial. No primeiro
caso, a reversão do benefício teria um custo político elevado demais em
comparação à economia proporcionada (0,17% do PIB).
Da
mesma forma, o futuro presidente não poderia acabar com o sistema de
desoneração da folha salarial sem enfrentar desgaste. Essa é, segundo avalia o
economista, uma medida de caráter estruturante e de longo prazo. "Eu diria
que potencialmente essas desonerações serão mantidas nos próximos anos."
O
que pode ser cortado, acredita Barros, são mais as medidas de curto prazo. É o
caso do que ele chama de "combo IPI", que são cortes de caráter
temporário do tributo cobrado sobre veículos, linha branca, construção civil e
bens de capital. "O fim da desoneração não deve piorar o desempenho desses
setores, porque por detrás da piora está a exaustão da demanda."
Outro exemplo de benefício "cortável" é a redução do Imposto sobre Operações Financeiras cobrado sobre operações de crédito para pessoas físicas. "O elevado comprometimento das famílias reduz o espaço para que esse benefício tenha alguma efetividade", acredita.
Outro exemplo de benefício "cortável" é a redução do Imposto sobre Operações Financeiras cobrado sobre operações de crédito para pessoas físicas. "O elevado comprometimento das famílias reduz o espaço para que esse benefício tenha alguma efetividade", acredita.
Com
pouca margem para cortar "bondades", aumenta o risco de o governo ter
de intensificar a cobrança de outros impostos e contribuições para compensar a
perda. "Creio que algum aumento da carga tributária deverá ocorrer nos
próximos anos, infelizmente."
Custo
e benefício. O principal problema do atual sistema de desonerações, diz o
economista, está na falta de acompanhamento de resultados. Embora prevista na
lei que criou alguns desses estímulos, não há uma avaliação de custo e
benefício dessas medidas. Ou seja, o governo não sabe se eles estão dando
resultados. Assim, fica difícil saber o que pode ou não ser eliminado.
O
principal argumento de defesa das desonerações é que, sem elas, a economia estaria
em situação pior. "A julgar pela deterioração dos investimentos agregados
não só neste, mas nos anos anteriores, me parece que a defesa cega da
manutenção desses regimes especiais é muito fraca", diz Barros.
Compromissos
assumidos por Dilma nesta reta final das eleições indicam pressão para mais
cortes tributários. Em junho, numa tentativa de se reaproximar do empresariado,
a presidente anunciou que o sistema de desoneração da folha salarial, antes
delimitada no tempo, será permanente - uma medida aplaudida pelo setor privado,
que se queixava de instabilidade de regras. Na mesma ocasião, perenizou o corte
do IPI sobre o material de construção e os bens de capital.
Dessa
reunião, ficou combinada uma agenda de discussões setoriais que, no curto
prazo, preveem menos tributação. O setor têxtil, por exemplo, propôs a criação
de uma versão do Simples, o sistema simplificado de impostos e contribuições,
para as confecções. Considerado o elo mais fraco daquela cadeia produtiva, as
confecções teriam direito à redução de impostos independentemente de seu
faturamento.
Na
semana passada, também atendendo a pedido dos industriais, Dilma concordou com
a criação de um conselho empresarial ligado diretamente à Presidência. É uma
proposta semelhante ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI),
criado no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi dele que saíram os
primeiros "pacotes de bondades".
Agência
Estado
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