"Do alto do
Olimpo, a deusa Nêmesis condenou Narciso, uma pessoa de extrema beleza, a
apaixonar-se pela própria imagem. Certo dia, cansado após um penoso dia de
caça, ele debruçou-se sobre um lago para tomar água e viu o seu reflexo
espelhado. O resultado: ficou apaixonado no mesmo instante. Narciso, então,
passou o resto de seus dias admirando a própria imagem refletida. Sem comer e
sem beber, ele definhou até morrer [...]".
Esse conto da
mitologia grega ajuda a compreender a extensão do amor próprio e a vaidade. Já
para a psicologia, o narcisismo é um transtorno de personalidade e suas
principais características são o padrão invasivo de grandiosidade, necessidade
de admiração e falta de empatia. São pessoas que superestimam suas capacidades
e exageram suas realizações, pois acreditam que são únicos e especiais. E, por
se limitarem ao que fazem e pensam, a maioria das pessoas significa pouco para
eles.
Já em suas relações sociais e
pessoais, a inveja é um sentimento muito característico entre os narcisistas.
Além de terem esse sentimento em relação às conquistas alheias, aqueles que
possuem o distúrbio acreditam que os demais também invejam suas conquistas.
Dessa forma, não são bons companheiros, pois sua falta de receptividade os
torna incapazes de ajudar os outros. E se, porventura, decidem estender a mão a
alguém, somente o fazem para obter notoriedade e aplausos.
Os narcisistas
também costumam se aproveitar dos outros, principalmente de pessoas bem
posicionadas perante a sociedade. Por isso, o narcisismo e poder estão
intrinsecamente conectados. Aliás, tudo o que está ligado a busca do poder é,
do ponto de vista caracterológico energético, uma condição narcisista.
A palavra
"poder" vem do latim Potere e significa "a capacidade de
fazer algo, bem como a posse de mando e da imposição da vontade". Poder,
portanto, é uma força que permeia as relações sociais desde o início da
sociedade humana, definidas por posições de autoridade. Focado na preservação
da vida, o biopoder também surge para estabelecer uma relação de dependência
entre indivíduos ou grupos em relação aos demais.
Em buscas cotidianas
de poder, os narcisistas são capazes de ultrapassar limites morais, éticos,
físicos e psicológicos para atingirem seus objetivos. Assim, não irão poupar
esforços para derrubar quem estiver em sua frente. Por isso, quando não
conseguem a atenção e o poder que desejam, podem reagir com sadismo,
agressividade e frieza.
Dito isso, é
importante impedir que a vaidade interfira na coletividade, a fim de evitar que
atitudes narcisistas exerçam um poder tóxico e destrutivo para um indivíduo e
para a sociedade. Hoje vivemos num momento histórico global em que a atitude de
um interfere na coletividade. O medo impera. Então, devemos refletir sobre como
podemos impedir que a fogueira de vaidades, marcadamente narcísica, exerça um
poder destrutivo no ambiente em que vivemos.
Sonia Pittigliani -
psicóloga da Telavita, plataforma de psicoterapia online, e conta com 40 anos
de experiência nas áreas de psicoterapia breve, psicologia hospitalar e
psicologia da saúde