Com várias possibilidades de tratamentos, a
enfermidade precisa ser investigada e acompanhada por especialista para evitar
evolução para algo mais grave
A dor tem sido
companheira diária de muitos brasileiros e aparece em diversas áreas do corpo,
podendo se tornar crônica após três meses do início. De acordo com a Sociedade
Brasileira de Estudos da Dor (SBED), ao menos 37% da população brasileira,
cerca de 60 milhões de pessoas, relatam sentir dor de forma
crônica.
Entre as dores mais comuns está a enxaqueca, que só no Brasil atinge 34 milhões
de pessoas, ou seja, uma em cada sete. Já a popular dor nas costas é
responsável por mais 10,54% dos afastamentos do trabalho e pedido de entrada no
benefício do INSS. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que 80% dos adultos
irão sofrer pelo menos uma crise aguda de dor nas costas durante a vida, sendo
que 90% das pessoas poderão ter mais de uma
vez.
E como essa dor evolui e se torna crônica? Diante de tantos números e áreas do
corpo humano afetadas, a enfermidade está associada à redução da qualidade de
vida e custo financeiro para o indivíduo e sociedade. O anestesiologista e
especialista em Dor da NeuroAnchieta, Dr. Leandro Tonhá de Castro, explica como
a dor pode evoluir e o que fazer.
-Quando uma dor é considerada crônica? É possível conviver com dores
crônicas e/ou agudas?
A dor é considerada crônica quando ela dura ou é recorrente pelo menos durante
três meses. Hoje existem diversas opções de tratamento que melhoram muita a
qualidade de vida desses pacientes. Portanto, é inadmissível que ainda existam
profissionais de saúde que afirmem para seus pacientes “você tem que aprender a
conviver com essa dor”.
- Qual a diferença entre dor aguda e dor crônica?
Basicamente pela duração da dor, aquela que dura menos de três meses é
considerada aguda, já a com duração maior que três meses é considerada crônica.
Porém, existem alguns fatores que aumentam a chance dessa dor cronicar, por
isso é importante que a dor aguda seja tratada adequadamente para diminuir a chance
de se tornar
crônica.
- Os brasileiros ainda praticam bastante a automedicação,
principalmente em casos de dor. Como isso pode afetar o nosso corpo? Qual a
recomendação para o caso de
dor?
A prática da automedicação deve ser sempre condenada e contra indicada. Todas
as medicações podem apresentar algum efeito colateral que pode ser leve ou até
mesmo fatal. É importante que qualquer tratamento seja sempre feito sob
orientação médica e de maneira individualizada, levando em consideração as
características de cada
paciente.
- Quais tratamentos são realizados hoje? A morfina ainda é o
medicamento mais utilizado para dores?
Existem vários tipos de tratamento para dores, com medicamentos que vão dos
analgésicos comuns, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, alguns
anticonvulsivantes e antidepressivos. Há também tratamento não medicamentoso
com fisioterapias, prática de atividades física, terapia com psicólogos,
acupunturas e os procedimentos minimamente invasivos realizados através de
bloqueios guiados por radioscopia e ultrassonografia. A morfina é uma excelente
medicação para algumas dores, porém não é a mais utilizada.
- Quais doenças a dor é frequente e não tem
cura?
Em praticamente todas as doenças a dor se faz presente como sintoma. Porém, em
certas doenças a dor é mais frequente e intensa, como, por exemplo, no câncer.
Em algumas situações a dor é considerada a própria doença, como na enxaqueca,
neuralgia pós-herpética e na neuralgia do trigêmeo. As cefaleias e as
lombalgias são as dores mais comuns.
- Quando uma dor deve ser investigada para não se tornar algo mais
grave? Tratamentos caseiros, como compressas quentes, gelo, chás, arnica,
ajudam ou mascaram possíveis sintomas e complicações?
A dor é sempre um sinal de alerta, deve sempre ser investigada e o tratamento
realizado com orientação médica. O problema desses tratamentos caseiros é o
atraso na procura do atendimento
médico.
- Quando a dor muscular é causada por uma determinada atividade
física, realizar novamente o exercício, ou seja, malhar aquela mesma região
ajuda na recuperação ou isso é mito?
Atividade física quando feita de forma adequada e com orientação de um
profissional de atividade física dificilmente causa dor. Caso haja dor é
necessária uma investigação e o profissional deverá ser informado para
readequação da atividade física.
- O senhor tem alguma estatística de dor no Brasil?
No Brasil e no mundo a prevalência de dores crônicas gira em torno de 30% da
população, ou seja, em cada 10 pessoas três apresentam algum tipo de dor
crônica.