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| IMAGEM: karina Lignelli/DC |
Enquanto a arrecadação estimada pelo
Impostômetro totaliza R$ 2,88 trilhões, os gastos públicos, acompanhados pelo
Gasto Brasil, somam R$ 3,84 trilhões
Os governos federal, estaduais
e municipais já gastaram cerca de R$ 1 trilhão a mais do que arrecadaram no
ano, até o mês de setembro, de acordo com o cruzamento dos dados do Gasto
Brasil e do Impostômetro, ambas
ferramentas das associações comerciais que estimam em tempo real os recursos
que entram e saem dos caixas do setor público.
Enquanto a arrecadação estimada
pelo Impostômetro, do início do ano até esta sexta-feira, 26/09, é de R$ 2,88
trilhões, os gastos públicos, acompanhados pelo Gasto Brasil, somam R$
3,84 trilhões - sendo R$ 1,64 trilhão saídos dos caixas do governo
federal, R$ 1,08 trilhão dos estados e R$ 1,11 trilhão dos municípios.
Quando o Gasto Brasil foi
lançado, em abril deste ano, ele registrava R$ 1,6 trilhão, enquanto, à época,
o Impostômetro marcava R$ 1,2 trilhão, uma diferença de R$ 400 bilhões. Em
cinco meses, as despesas dos governos cresceram 139%.
Segundo Marcel Solimeo,
economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o aumento
dos gastos públicos pode levar o Brasil a um cenário incerto nos próximos
meses, com o aumento da dívida pública, dos precatórios - garantia judicial de
que um ente público irá pagar uma dívida - e elevação da taxa básica de juros,
o que reduziria o crescimento da economia e afastaria investimentos.
Solimeo explica que, à
medida que o governo gasta além do orçamento, a dívida pública aumenta, assim
como a emissão de precatórios, o que gera mais dívidas. “A dívida pública no
final do ano estará em 80% do PIB, é muito alta considerando a taxa de juros
que temos”, diz o economista.
No caso do governo federal,
considerando o cenário fiscal atual, Solimeo diz que restarão poucas opções: dar
o calote nos credores ou vender títulos públicos e emitir mais moedas, aumentando
a circulação de dinheiro dentro do país, o que pode levar a um aumento da
inflação.
Neste cenário, explica Ulisses
Ruiz de Gamboa, também economista da ACSP, é provável que o Banco Central
mantenha a taxa de juros no patamar atual, de 15% ao ano, ou a aumente, com
base nas expectativas para a inflação. “Para 2026, temos visto uma
inflação teimosa, sem expectativa de queda. No final, as despesas do governo
aumentam e exigem uma carga tributária maior, e isso se torna uma bola de
neve”, diz Ruiz de Gamboa.
Maiores
gastos
O Gasto Brasil aponta que,
entre as principais despesas do governo federal, se destacam 11 categorias que
representam 96% do total. As maiores despesas neste grupo são com a
Previdência, Despesas com Pessoal e Encargos Sociais, sendo que essas três
categorias correspondem a cerca de 60% daquele R$ 1,64 trilhão saído dos cofres
da União no ano até setembro. Os gastos federais com a Previdência no ano de
2025 somam, pelos dados do Gasto Brasil, R$ 791 bilhões.
A previdência social é um problema
macroeconômico, explica Solimeo, que deve ser sentido pelas futuras gerações.
“O sistema é baseado na contribuição dos empregados, que funciona quando há
mais pessoas entrando no mercado de trabalho do que pessoas se aposentando.
Quando a expectativa de vida da população aumenta, isso faz com que o governo
tenha que achar outra fonte de financiamento para a Previdência”, diz.
Essa também é a posição de
Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e
Empresariais do Brasil (CACB), que diz ser necessário mudar o sistema
previdenciário para os ingressantes no mercado de trabalho. “Mais de 100
milhões de brasileiros vivem de benefícios do Estado, 45 milhões estão na
Previdência, 80% deles recebem um salário mínimo, 51% recebem benefícios como
Bolsa Família e outros programas sociais. Logo vai faltar dinheiro”, afirma
Cotait.
Para o dirigente da CACB,
"é preciso preparar o país para a geração de renda, para que a população
não dependa somente de benefícios do governo. Mas, para isso, é
necessário investimentos em educação e um crescimento econômico
sustentável."
Cotait também critica os gastos
exagerados com o funcionalismo público, que hoje abriga 12 milhões de pessoas.
Para o presidente da CACB, "com a tecnologia e o surgimento da
inteligência artificial, muitas demandas que exigiam um quadro maior de pessoal
podem ser reformuladas e simplificadas, reduzindo as despesas
governamentais."
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/setor-publico-ja-gastou-r-1-trilhao-a-mais-do-que-arrecadou-no-ano

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