Cardiologista e psicóloga explicam como emoções intensas aumentam o risco de arritmias e infartos e indicam estratégias para prevenção
Saúde
Mental é, hoje, o principal problema de saúde enfrentado no país. Segundo o
último relatório global World Mental Health Day, 54% dos brasileiros afirmaram
se preocupar com o tema. Além disso, estamos cada vez mais cientes do aumento
do estresse na sociedade. Por isso, cerca de 77% da população – segundo o mesmo
levantamento - já refletiu sobre a importância dos cuidados com a mente.
A pauta é bastante oportuna, principalmente porque de acordo com especialistas, o impacto das emoções intensas — como estresse e raiva — pode interferir no funcionamento cardíaco.
Segundo a cardiologista Tati Guerra, professora do curso de Medicina do Centro Universitário UniBH - integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima - o estresse e a raiva afetam o funcionamento do coração principalmente por meio do aumento da liberação de hormônios, em momentos de tensão, como a noradrenalina e adrenalina, que promovem a ativação do sistema nervoso simpático. “Isso provoca elevação da frequência cardíaca, da pressão arterial e pode desestabilizar os cardiomiócitos (células cardíacas)”. Em situações mais extremas, ela explica, pode haver espasmo coronariano — o fechamento temporário de vasos que levam sangue ao músculo cardíaco — resultando em isquemia ou até quadro semelhante a infarto, fenômeno associado, em situações raras, à síndrome de Takotsubo (ou “coração partido”).
Tati
destaca que, embora emoções intensas possam funcionar como gatilhos para
problemas cardiovasculares, isso não ocorre em todas as pessoas, nem é a
principal causa de infartos ou arritmias. “Quem já possui fatores de risco —
hipertensão, colesterol elevado, placas ateroscleróticas ou predisposição
genética — apresenta maior vulnerabilidade”, afirma. E acrescenta: “o estresse
crônico, por sua vez, atua também como fator de risco cardiovascular, promovendo
inflamação sistêmica e disfunção endotelial, favorecendo o surgimento ou
progressão da aterosclerose”.
A professora do UniBH chama atenção ainda para alguns sinais que podem indicar que o coração está sob efeito adverso de estresse ou raiva exacerbada: Frequência cardíaca elevada em repouso, sensação de palpitações, falta de ar (sensação de abafamento), tremores e, em casos mais graves, dor no peito irradiada, enjoo, náusea e tontura. “Não há, obviamente, distinção clínica clara entre sintomas desencadeados por estresse emocional ou por causas físicas: o mais importante é que a manifestação desses sintomas demanda atendimento médico imediato para descartar infarto ou arritmia grave”.
A visão psicológica: não “engolir” emoções
Colega de Tati no quadro docente do UniBH, a psicóloga e psicanalista Camila
Grasseli afirma que o papel das emoções — especialmente aquelas não resolvidas
— é central no controle do estresse e do impacto cardíaco. “A raiva e o ódio
podem permanecer vivas dentro de nós quando não lidamos com elas ou as
escondemos ‘debaixo do tapete’”. A estratégia inicial, segundo a especialista,
é identificar esses focos emocionais, avaliar o que pode ser modificado a médio
e longo prazo, e traçar planos gradativos.
Camila
também reforça que atividade física regular e técnicas respiratórias são
fundamentais. “Biologicamente, o exercício libera substâncias que controlam o
cortisol, hormônio do estresse, e promove bem-estar, além de reflexão interna,
afinal os momentos de silêncio, auto escuta e introspecção durante as
atividades da academia, podem ser interessantes para uma limpeza mental”.
Outra
estratégia importante é o sono de qualidade. Grasseli explica que dormir mal
eleva ansiedade, irritabilidade e vulnerabilidade ao estresse assim como um dia
a dia desorganizado. “Uma prática simples sugerida é ajustar a rotina. Sair,
por exemplo, 10 minutos mais cedo para evitar trânsito, o que requer acordar 15
minutos antes, pode garantir menor desgaste emocional ao longo do dia”.

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