Proximidade entre estruturas do ouvido
e do cérebro pode facilitar a disseminação de infecções graves, alerta
especialista 
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Você já teve, conhece alguém ou ouviu falar em
meningite? A meningite é uma inflamação das meninges — as três membranas que
envolvem o cérebro e a medula espinhal — e pode ter diferentes causas, sendo as
mais comuns as infecções por vírus e bactérias. As formas virais tendem a ser
menos graves, enquanto as bacterianas exigem atenção imediata devido ao seu
potencial letal. O que pouca gente sabe é que essa condição também pode surgir
como uma complicação de infecções aparentemente simples, como as otites médias
— infecções do ouvido médio.
De acordo com a Dra. Kátia Virginia, otorrinolaringologista do
HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, há uma conexão direta entre infecções
do ouvido e meningite. “A meningite pode ser uma complicação grave das otites
médias agudas ou crônicas mal tratadas. A relação está na proximidade
anatômica, pois a orelha média guarda limites bem próximos com o crânio e as
meninges, podendo haver disseminação da infecção por contiguidade, através do
osso, ou pela corrente sanguínea”, explica a especialista.
Entre os principais riscos estão as otites médias com perfuração
da membrana timpânica, especialmente quando não recebem tratamento adequado.
Essas infecções podem evoluir e atingir as estruturas intracranianas,
resultando em quadros graves de meningite. “O tratamento precoce e adequado
dessas otites é fundamental para evitar esse desfecho, que embora raro,
acontece em alguns casos e pode deixar sequelas para a audição e o sistema
neurológico”, alerta a médica.
Os sintomas que podem indicar que uma infecção de ouvido está
evoluindo para meningite vão além da dor local. “Febre alta persistente, dor de
cabeça intensa, sonolência, confusão, rigidez de nuca, vômitos em jato,
convulsões e hipersensibilidade à luz são sinais de alerta. Em crianças
menores, observar a fontanela abaulada, irritabilidade acentuada e choro
inconsolável é essencial”, explica a otorrinolaringologista. Entre os sinais
auditivos que devem acender o alerta estão dor intensa e persistente, saída de
pus ou sangue pelo ouvido, inchaço atrás da orelha, paralisia facial e perda
auditiva súbita.
A prevenção passa pela atenção aos sinais iniciais de infecção e
pelo acompanhamento com um especialista. “Toda dor ou infecção de ouvido
precisa ser avaliada, tratada e conduzida adequadamente por um
otorrinolaringologista. No caso das otites médias agudas, é importante oferecer
um bom suporte durante infecções respiratórias virais e buscar avaliação médica
precoce. Já nas otites crônicas com perfuração do tímpano, o cuidado deve ser
redobrado para evitar a entrada de água, especialmente em piscinas, mar ou
rios”, orienta a médica.
As consequências da falta de tratamento vão além da meningite.
Sequelas auditivas como zumbido, perda de audição e tontura são comuns, além de
possíveis abscessos cerebrais e comprometimentos neurológicos. “Essas
complicações podem deixar sequelas neurológicas e cognitivas importantes,
comprometendo a qualidade de vida do paciente”, afirma a Dra. Kátia.
O diagnóstico da meningite com origem em infecção otológica é
clínico e complementar, podendo incluir exames de imagem como tomografia e
ressonância magnética, além da punção lombar para análise do líquor e exames de
sangue. O tratamento é hospitalar, com administração de antibióticos por via
endovenosa, anti-inflamatórios para reduzir o inchaço nas meninges, analgésicos
e, em alguns casos, cirurgia nos ouvidos para controlar a infecção de origem.
Os cuidados devem ser redobrados com grupos mais vulneráveis, como
crianças pequenas, gestantes, idosos e pessoas imunocomprometidas — seja por
doenças autoimunes, quimioterapia ou uso de imunossupressores como corticoides.
“Pais e cuidadores devem ficar atentos a qualquer queixa auditiva, como
sensação de ouvido tampado, zumbido e dor de ouvido, principalmente durante
gripes e resfriados. A avaliação médica precoce é crucial para evitar
complicações”, discorre a especialista.
“Meningite é uma emergência médica, e embora nem todos os casos estejam relacionados a infecções de ouvido, esse é um fator de risco real e, na maioria das vezes, prevenível. A conscientização sobre os sinais de alerta e a busca por atendimento especializado são as principais formas de proteger a saúde auditiva e neurológica, especialmente em populações mais suscetíveis”, finaliza a médica
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