Símbolos reforçam empatia e pertencimento de pessoas com
deficiências ocultas; startup Stardust Zone explica a diferença dos desenhos,
legislação nacional e reconhecimento internacional
Um simples cordão pode mudar tudo. No pescoço de uma pessoa autista, o adereço
comunica sem palavras, pede empatia, respeito e paciência e têm força como
instrumento de inclusão, acessibilidade e pertencimento. Seja com desenhos de
girassol, infinito multicolorido ou de quebra-cabeças, eles ajudam a
identificar as pessoas com deficiências ocultas de forma discreta e respeitosa,
promovendo um ambiente mais compreensivo e acolhedor. Mais do que facilitar a
comunicação, esses elementos são também um ato político: reforçam que a pessoa
autista tem o direito de existir no mundo do seu jeito — com suas necessidades
específicas, tempo próprio, preferências e sensibilidades.
“O uso dos cordões é voluntário e viabiliza o acesso a atendimentos prioritários, auxílio na locomoção, informações detalhadas sobre produtos e serviços, por exemplo. O acessório serve como um sinal complementar para que a pessoa possa receber atendimento adequado e humanizado, conforme os direitos previstos em lei, mas não dispensa a apresentação de documentos que comprovem a deficiência”, observa Sarah Fernn, CEO da startup de inclusão de neurodivergentes Stardust Zone. Diagnosticada autista e TDAH, ela explica o significado de cada símbolo, a história por trás desses itens, a legislação brasileira e o reconhecimento internacional.
As fitas coloridas funcionam
como um sinal visual de que o indivíduo pode precisar de apoio ou de
compreensão diante de interações sociais, barulhos intensos, filas ou outras
situações sensoriais. A proposta não é rotular, mas permitir que as pessoas ao
redor ajustem sua abordagem, evitando interpretações equivocadas dos autistas,
que somam 1,2% da população brasileira, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) no recém-divulgado “Censo Demográfico 2022: Pessoas
com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista -
Resultados preliminares da amostra”.
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Quebra-cabeças - O adereço de
quebra-cabeças colorido foi o primeiro a ser criado, em 1963, por Gerald
Gasson, da National Autistic Society do Reino Unido, para representar as
dificuldades de compreensão enfrentadas por pessoas com autismo. “Na época, havia
pouco conhecimento sobre a condição e a imagem de quebra-cabeça simbolizava o
mistério e a complexidade do autismo. Com o avanço das pesquisas, o modelo vem
sido progressivamente substituído, por conter conotações e estigmas de ‘peça
faltando’, ‘quebrada’ ou de algo que precisa ser ‘encaixado’ – ou seja,
mensagens que contradizem a valorização da neurodiversidade como parte legítima
da condição humana”, aponta Sarah.
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Girassóis - Já o cordão de girassóis ganhou força por transmitir felicidade, positividade, crescimento e confiança – inspirado na flor que se orienta buscando a luz. Verde e com girassóis amarelos, ele foi criado em 2016 no aeroporto de Gatwick, no Reino Unido, para ajudar funcionários a identificar passageiros com deficiências não visíveis que pudessem necessitar de assistência adicional. Desde então, tornou-se um símbolo internacional de identificação de deficiências ocultas e representa resiliência, autonomia e busca por acolhimento.
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Infinito - Outro desenho muito utilizado é o de infinito colorido em degradê das cores do arco-íris, conhecido como o logotipo da neurodiversidade. “Ele representa a diversidade de ser, com todas as suas nuances, cores e intensidades, simboliza o espectro autista e a nossa diversidade de ser, nos expressar e processar informações”, diz a CEO da Stardust Zone valoriza e inclui neurodivergentes ao mercado de trabalho através da treinamento técnico e socioemocional em STEAM e da educação corporativa.
No Brasil, somente o cordão de girassol é legalmente reconhecido, autorizado/instituído pela Lei nº 14.624, de 17 de julho de 2023, que o institui como símbolo nacional de identificação para pessoas com deficiências ocultas, incluindo autismo, epilepsia, ansiedade e outras deficiências não aparentes. É fundamental, no entanto, a comprovação por meio de laudos médicos, atestados ou documentos oficiais quando solicitado por atendentes ou autoridades em espaços públicos e privados. O uso de forma indevida – sem ter o diagnóstico – pode configurar crime de falsidade ideológica ou estelionato.
O estudo do IBGE revelou que
cerca de 2.4 milhões de brasileiros têm transtorno do espectro autista (TEA),
sendo 1,4 milhões de homens e 1 milhão de mulheres. Há maior prevalência em
jovens de 0 a 14 anos, que totalizam 1,1 milhão de autistas, enquanto os demais
grupos etários somam o restante. Independentemente do gênero e da idade, se
todos usarem seus cordões, o planeta será mais inclusivo, acessível e colorido.



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