Aplicação de sulfato ferroso em
área degradada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, reduziu
disponibilidade de nutrientes e conteve espécies exóticas, permitindo que
gramíneas próprias do bioma, adaptadas a solos pobres, crescessem novamenteAplicação de sulfato ferroso em área em restauração
na Chapada dos Veadeiros
foto: Demétrius Lira Martins
Em estudo publicado na revista Restoration
Ecology, um grupo liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) aponta um caminho promissor para a restauração do Cerrado.
Por meio de um experimento
realizado no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, os autores
demonstraram como, diferentemente do que fazem algumas iniciativas de
restauração convencionais, não se deve adicionar nutrientes ao solo quando se
trata do Cerrado, pelo contrário.
Em uma área em restauração
dentro do parque, os pesquisadores analisaram o crescimento de gramíneas
invasoras e de espécies nativas depois da aplicação de sulfato ferroso, que
torna o solo mais ácido e diminui a disponibilidade de nutrientes. Nos locais
em que o mineral foi aplicado, reduziu-se em quase 71% a ocorrência de
invasoras, sem que houvesse prejuízo para as nativas.
“As plantas do Cerrado têm uma
baixa demanda nutricional, são de crescimento lento. Enquanto as gramíneas
invasoras crescem rápido e demandam muitos nutrientes. O sulfato ferroso
devolve ao solo a condição mais próxima da original, favorecendo as nativas e
dificultando o crescimento das invasoras”, explica Demétrius Lira Martins, que conduziu o
trabalho durante seu pós-doutorado no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp,
com apoio da FAPESP.
A área de 50 hectares passou a
ser restaurada em 2016, após cerca de 30 anos como pastagem. Quatro anos depois
de retirado o capim exótico, feita a preparação do solo e a semeadura de
espécies nativas, o local foi novamente tomado pelas gramíneas africanas.
Em 2021, a restauração foi
retomada. Desta vez, foi estabelecido o experimento para verificar o efeito da
acidificação do solo na contenção do capim exótico. Os pesquisadores demarcaram
14 blocos de 100 metros quadrados (m2). Em cada um deles, separaram quatro blocos menores, de 1 m2 cada, separados em 10 metros de
distância entre si.
Em metade desses blocos, foi
aplicado sulfato ferroso no solo antes da semeadura de gramíneas e arbustos
nativos. Após quatro meses da última aplicação, foram coletadas e pesadas
amostras das plantas que cresceram em cada quadrado, tanto nativas quanto
exóticas.
Ao comparar os blocos,
observou-se uma redução de 70,7% na biomassa das espécies invasoras onde foi
realizada a acidificação, sem que houvesse prejuízo às espécies nativas.
“A acidificação aumentou os níveis de alumínio no solo, que é tóxico para plantas convencionais. Mas as espécies nativas lidam muito bem com isso. Não é à toa que a primeira coisa que se faz após desmatar uma área de Cerrado para lavoura ou pastagem é fazer a calagem [aplicação de calcário], que diminui a disponibilidade de alumínio e aumenta de outros nutrientes”, conta Martins.
André Julião
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/solo-mais-acido-diminui-capim-invasor-e-ajuda-a-restaurar-vegetacao-nativa-do-cerrado-aponta-estudo/53855
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