Opinião
O G20, ou Grupo dos 20, é um fórum internacional
formado pelas principais economias do mundo, que reúne tanto economias
avançadas quanto emergentes. Criado em 1999 em resposta às crises financeiras
dos anos 1990, especialmente a crise asiática de 1997, o G20 inclui 19 países e
a União Europeia, representando aproximadamente 85% do PIB mundial, 75% do
comércio internacional e cerca de dois terços da população global. Seus membros
são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil,
Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália,
Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia.
O G20 tem como principal objetivo promover a
cooperação econômica internacional e discutir temas que impactam a estabilidade
econômica e financeira global. Embora o grupo não possua um secretariado fixo
ou sede permanente, suas atividades ocorrem por meio de reuniões anuais entre
chefes de Estado dos países membros, além de encontros entre ministros de finanças
e presidentes de bancos centrais. O G20 opera com uma presidência rotativa
anual, na qual o país anfitrião define a agenda de discussões. Essa estrutura
informal e sem exigências jurídicas rígidas permite que o G20 responda
rapidamente a crises e questões emergentes na economia global, tornando-o um
fórum estratégico para negociações.
De dezembro de 2023 a dezembro de 2024, a
presidência do grupo está a cargo do Brasil. Na pauta, Brasília colocou como
temas centrais o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, o desenvolvimento
sustentável e a reforma da governança global. Essas prioridades refletem as
posições e preocupações do atual governo brasileiro.
A ênfase do Brasil em temas como justiça social,
sustentabilidade e reforma institucional pode ser vista como uma tentativa de
reposicionar o país como líder na agenda de desenvolvimento e ponte entre o
Norte e o Sul globais. Essa postura alinha o Brasil a outras nações emergentes
que buscam uma ordem internacional mais multipolar e representa uma crítica
indireta à forma como as economias desenvolvidas têm tratado questões de
desigualdade e meio ambiente. A estratégia brasileira de fomentar discussões
inclusivas e envolver a sociedade civil — como na iniciativa do "G20
Social" — reforça seu posicionamento como defensor de uma governança global
mais democrática e acessível, ao menos em teoria.
Entretanto, essa pauta para a presidência do G20
pode parecer inconsistente frente à participação brasileira nos BRICS — que
recentemente expandiu-se para incluir regimes autoritários com baixo comprometimento
com os direitos humanos. A postura do Brasil reflete uma tentativa de
equilibrar sua influência em dois blocos com ideologias e visões distintas: o
G20, mais alinhado com democracias liberais e valores ocidentais, e os BRICS,
um agrupamento diverso que inclui Estados que desafiam normas de direitos
humanos e governança.
Do ponto de vista realista, a aproximação com
regimes autoritários pode ser vista como uma estratégia pragmática em que o
Brasil busca maximizar seus interesses nacionais, diversificar alianças e
ampliar sua influência global. Contudo, essa postura coloca o país em uma
posição ambígua, especialmente ao se apresentar como defensor da democracia e
dos direitos humanos em fóruns como o G20. Críticos observam que, ao estreitar
relações com governos que violam direitos civis e políticos, o Brasil arrisca
diluir sua credibilidade em pautas democráticas, comprometendo sua imagem de
defensor de valores dados como universais. Um exemplo crescente é o reconhecimento,
pelo partido do presidente Lula, da vitória do ditador venezuelano Nicolás
Maduro, em eleições amplamente contestadas.
Geopolíticos como Zbigniew Brzezinski argumentam
que alianças com regimes autoritários podem resultar em afastamento de aliados
ocidentais e marginalização em fóruns que priorizam os direitos democráticos.
Ao se aproximar de países como Irã, Arábia Saudita e Rússia, o Brasil pode
perder parte do apoio das potências ocidentais em temas como sustentabilidade e
desenvolvimento inclusivo, gerando uma tensão entre seus discursos sobre
justiça social e o apoio a regimes opressivos.
Independentemente da presidência brasileira e sua
postura ambígua, o G20 enfrenta desafios e limitações. Como fórum informal,
suas decisões, embora influentes, não têm poder vinculante. A implementação das
resoluções depende da vontade política e da capacidade dos países membros,
limitando a eficácia do G20 na resolução de questões globais urgentes, como o
combate às desigualdades econômicas e às mudanças climáticas, já que seus
compromissos se baseiam no consenso, sem garantias de cumprimento.
Além disso, as crescentes tensões geopolíticas
entre os membros do G20, como a rivalidade entre Estados Unidos e China e as
questões ligadas à invasão russa da Ucrânia, representam obstáculos à
construção de consensos. As diferenças políticas e econômicas, bem como os
interesses divergentes entre economias desenvolvidas e emergentes, dificultam
soluções conjuntas para desafios globais. Apesar dessas limitações, o G20 permanece
um fórum influente, cuja presidência o Brasil parece não aproveitar plenamente
para estreitar laços comerciais com outras nações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário