A história do tabagismo e sua ascensão é longa e bem complexa.
Algumas décadas atrás, éramos bombardeados com inúmeras propagandas, com belas paisagens
e pessoas bonitas, incentivando o uso de cigarros. Minimizava-se os riscos, e
era comum familiares/amigos fumantes desconhecerem os malefícios e incentivarem
a prática. A “pressão”, as influências ou
a aceitação social eram os principais fatores que favoreciam o início de um
hábito viciante e letal. Hoje, muitos que começam, especialmente os mais
jovens, são atraídos por novidades como o cigarro eletrônico e
aqueles com sabores.
Por ser um vício silencioso, muitas vezes se desenvolve de forma gradual
e progressiva. No início, é comum a justificativa de se fumar ocasionalmente
mas, com o tempo, o consumo aumenta sem se perceber o nível de dependência até
decidir, voluntariamente ou não, pela supressão. Mesmo associado a uma série de
problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, câncer de pulmão,
doenças respiratórias e vários outros problemas, muitos utilizam o tabaco como
um mecanismo de enfrentamento, para lidar com estresse, ansiedade, depressão ou
regulação do humor. Pois sentem que, embora temporariamente, o ato de fumar
tende a melhorar o seu estado de ânimo e proporcionar a sensação de prazer e
recompensa, e com isso reforça o desejo contínuo de repetir o comportamento,
tornando o indivíduo cada vez mais dependente da mesma sensação (elevação da
dopamina).
Há ainda comportamentos associados a situações específicas, como
fumar após as refeições, café, sexo, em meio à interação social, pausa no
trabalho, o que pode ser definido como um hábito ritualizado. Com o tempo, esse
hábito pode gerar uma dependência psicológica. À medida que o uso do fumo se
torna um abono diário, cria-se um ciclo de comportamento em que fumar não é
apenas um desejo físico, mas também uma necessidade emocional e comportamental.
Mesmo que se torne um ato ritualizado, alterar ou interromper o
hábito pode ser particularmente desafiador, mas nunca impossível. Então,
escolha um dia específico para parar de fumar e comprometa-se a não adiar.
Identifique os momentos e situações que desencadeiam o desejo de fumar e desenvolva
estratégias para lidar com esses gatilhos sem recorrer ao cigarro.
Substitua o ato de fumar por atividades saudáveis, como:
caminhadas e corridas, natação, ciclismo, meditação, leitura; passar tempo com
amigos e familiares pode melhorar o humor e reduzir o estresse; ou até mesmo
participar de atividades de voluntariado, dedicar-se à jardinagem, à música ou
a aprender técnicas de relaxamento, que ajudam a desviar a mente do desejo de
fumar.
Informe seus amigos, familiares e colegas sobre sua decisão de
parar de fumar. O apoio de pessoas próximas pode fornecer motivação e
encorajamento. Se necessário, busque suporte especializado, como terapia
comportamental, que ajuda a reconfigurar o sistema de recompensa do cérebro e
auxiliar na superação de vícios e comportamentos compulsivos. Outra estratégia
é participar de grupos de apoio ou programas de cessação do tabagismo, para
ajudar na transição e criar novos comportamentos.
Atualmente, com informações do Ministério da Saúde e do Instituto
Nacional de Câncer, a Fundação João Paulo II oferece acolhimento/orientação
psicológica e encaminhamento ao PRAD (Programa de recuperação Alcoolicos e
Drogadictos) àqueles que se sentem confortáveis para discutir suas intenções de
parar de fumar e buscar apoio sem medo de estigmatização ou discriminação. Além
de realizar campanhas internas de conscientização sobre os riscos do tabagismo
e os benefícios da cessação por meio de palestras e eventos de saúde.
Abandonar o consumo de cigarro é um processo que exige paciência e perseverança, porém traz como recompensa a preservação ou melhora da saúde física e mental, além da longevidade.
Kelli Aparecida da Silva Pontes - psicóloga e
pós-graduada em saúde mental. Atua como psicóloga clínica e organizacional na
Fundação João Paulo II.
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