Não é de hoje que o mundo corporativo vem se preocupando com medidas mais sustentáveis e sociais. Há anos, líderes internacionais debatem maneiras menos prejudiciais para realização da exploração da atividade econômica em relação ao meio ambiente e que, ao mesmo tempo, tornem as empresas mais resilientes, inovadoras e sustentáveis em suas operações – o que evidenciou o surgimento de estratégias dedicadas a este fim e que precisam ser melhor fomentadas no nosso país, como é o caso do ESG. Um ótimo cenário para as empresas interessadas em realizar esses investimentos é que existem instrumentos de fomento que podem contribuir com essa demanda.
O conceito, criado em 2004 pela ONU em seu
relatório “Who Cares Wins”, é resultado de uma iniciativa que propunha
diretrizes e recomendações sobre como contemplar questões ambientais, sociais e
de governança na gestão de ativos, serviços de corretagem de títulos e
pesquisas relacionadas ao tema entre as empresas. Esses pilares forem enviados
às principais instituições financeiras globais, na missão de construírem
mercados financeiros mais fortes e resilientes por meio do desenvolvimento
sustentável.
Desde então, stakeholders e investidores
institucionais ao redor do mundo têm demandado, cada vez mais, opções de
investimentos mais sustentáveis nos mercados financeiros. A crise da Covid-19
evidenciou ainda mais o papel do ESG na gestão de riscos das organizações, apontando
esses pilares como essenciais na nova era pós-pandemia.
Um estudo realizado pela Amcham Brasil mostra que
82% dos executivos brasileiros defendem que os CEOs devem liderar ativamente a
agenda ESG no país. Contudo, 48% dos respondentes apontam que a conscientização
e capacitação das equipes e lideranças é o maior desafio.
O consumidor também está atento. Segundo dados
expostos pela consultoria Walk The Talk by La Maison, 94% dos brasileiros
esperam que as empresas façam algo sobre ESG e acreditam que elas têm obrigação
de se envolver com essas questões. Porém, apenas 17% acreditam que as
corporações efetivamente fazem.
Há uma nítida e imensa lacuna entre a expectativa
do consumidor e a realidade presente no mercado perante esses investimentos. Na
maioria dos países, não existe ainda uma obrigatoriedade de divulgação de
informações em ESG. No Brasil, inclusive, a avaliação do ESG ainda é subjetiva
e variável, sem uma padronização clara, o que vem demonstrando, gradativamente,
a necessidade de mais pesquisas frente a essas responsabilidades, não apenas
visando a conservação do nosso ecossistema, como também a solidificação de
pilares fundamentais pautados por essas práticas sociais e de governança,
resultando em estratégias capazes de aperfeiçoar as ponderações de
risco-retorno a longo prazo.
As que direcionam esforços nessas ações são
contempladas com benefícios passíveis de serem obtidos como forma de incentivo
do governo a favor do desenvolvimento econômico corporativo – além, obviamente,
do intuito de promover práticas mais sustentáveis e responsáveis, como
incentivar a adoção de tecnologias limpas e a redução das emissões de gases de
efeito estufa.
O financiamento público para inovação é uma dessas
importantes ferramentas do governo para incentivar as empresas a desenvolverem
projetos de PD&I, alinhadas as práticas de ESG. Eles podem ser realizados
por meio de empréstimos públicos subvencionados, com taxas mais baixas em
comparação aos financiamentos em bancos comerciais.
Dentro desse contexto, alguns dos melhores
financiamentos e que vêm crescendo gradativamente no mercado nacional incluem a
Lei do Bem, a qual regulamenta a concessão de incentivos baseados nos gastos em
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), promovendo inovação e a agregação de
valor social por parte das empresas em torno do ESG; assim como o Programa
Mover, o qual estimula investimentos em novas rotas tecnológicas e
descarbonização dos veículos brasileiros através dessas pesquisas, além da
expansão de investimentos em eficiência energética, reciclagem na fabricação de
veículos e compromisso com o desenvolvimento sustentável, em toda a cadeia
automotiva.
Ainda, diante de um contexto no qual a inovação
tecnológica é frequentemente associada a taxas de crescimento positivas da
produtividade e ao desenvolvimento econômico e social, temos também a Lei de
TICs Brasil, que promove a concessão de incentivos destinados a empresas que
desenvolvam bens de tecnologias da informação e da comunicação, exigindo, como
prerrogativa, o investimento em atividades de PD&I.
Por fim, as empresas também podem contar com uma
extensa gama de ramificação de linhas de crédito provenientes do BNDES, tais
como o BNDES Finem, o qual visa a redução do uso de recursos naturais e
materiais, recuperação e conservação de ecossistemas e biodiversidade,
planejamento e gestão ambiental; e o BNDES Finame, voltado para a aquisição de
máquinas e equipamentos com maiores índices de eficiência energética ou que
contribuam para a redução da emissão de gases do efeito estufa.
Embora as práticas ESG sejam importantes para
investidores que buscam empresas sustentáveis e com boas práticas, é
fundamental destacar que sua adoção deve ser um compromisso dos empreendimentos
em relação a sociedade e ao meio ambiente, e não apenas uma estratégia de marketing
ou de investimento – devendo, portanto, ser adotadas como parte de toda a
cultura organizacional.
Uma marca que, verdadeiramente, incorpora esses
pilares, não irá apenas elevar seu valor de mercado, mas principalmente
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Rafael Costa - diretor do FI Group Brasil, consultoria especializada na gestão de incentivos fiscais e financeiros destinados à PD&I.
FI Group
https://br.fi-group.com/
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