Professor explica como a inversão da pirâmide etária vai influenciar no mercado de trabalho, nos hábitos de consumo, no lançamento de produtos e no setor de serviços
O
Brasil “envelheceu”. O percentual de pessoas abaixo de 30 anos de idade caiu
5,4% e a de idosos – com 60 anos ou mais – saltou de 11,3% para 14,7%.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNADC/IBGE) indicam que o país enfrentará mudanças no mercado de trabalho, nos
padrões de consumo e nas relações sociais.
Até 2060, o número de aposentados será superior ao de trabalhadores ativos e a
proporção deve ficar em 24 jovens para cada 63 aposentados. Para evitar que
esse desequilíbrio cause problemas, o estudioso nas áreas de Marketing,
Branding e Planejamento Estratégico Sérgio Czajkowski Júnior explica que as
mudanças precisam começar agora.
O mercado de trabalho deve ser um dos mais impactados por conta da inversão na
pirâmide etária.
“Os avanços da medicina melhoraram as condições de saúde e qualidade de
vida da população em comparação com o que se via há 50 anos. Hoje, as pessoas
se mantêm produtivas por mais tempo, o que levará as empresas a manterem ou a
recontratarem profissionais seniores”, diz o especialista.
A tendência é que o Brasil siga o exemplo de outros países, como os Estados
Unidos, que aproveitam a experiência dos profissionais na prestação de serviços
de consultoria.
“É óbvio que nem todos terão a mesma capacidade que tinham na juventude e
quem trabalhou a vida inteira merece descansar. A questão é que, para muitos
idosos com saúde e disposição, a aposentadoria pode ser frustrante”, lembra o
professor de Marketing, Branding e Comportamento do Consumidor do UniCuritiba –
instituição que integra a Ânima Educação, o maior ecossistema de ensino
superior privado do país.
Comportamento do “novo” consumidor
Consultor nas áreas de Planejamento Estratégico, Vendas e Marketing, Sérgio
Czajkowski Júnior diz que a divisão dos grupos de consumo não se dará mais por
idade e sim pelo estilo de vida. Setores de serviço, lazer, turismo, varejo e
mercado imobiliário serão diretamente impactados pelo envelhecimento da
população. “A questão etária não será totalmente descartada, mas,
mercadologicamente, o comportamento do consumidor vai se sobrepor à idade.”
No caso da indústria alimentícia e farmacêutica, o foco deve se ampliar para
além de suplementos vitamínicos ou alimentos com melhor digestibilidade.
“Hoje, os idosos estão mais ativos e economicamente independentes,
especialmente quando continuam trabalhando. Em muitos casos, eles conseguem
elevar o poder de compra, pois já criaram os filhos e toda a renda é para seu
único sustento.”
Para satisfazer aos novos interesses desse público, o mercado precisará pensar
em produtos e serviços que fujam do estereótipo do idoso dependente e doente.
“Sabendo que vão viver mais tempo, muitos profissionais apostam, inclusive, em
mudanças na carreira depois dos 40 ou 50 anos”, comenta o professor.
Mercado imobiliário, turismo e lazer
Se o varejo já começa a enxergar a terceira idade com outros olhos, o mesmo
vale para o mercado imobiliário e as áreas de turismo e lazer. Sérgio
Czajkowski Júnior, que há anos estuda Marketing, Branding e Planejamento
Estratégico, diz que as construtoras e incorporadoras já ampliaram o foco.
Em cidades como Curitiba, os student living – imóveis para jovens
universitários – deixaram de ser tendência e já dividem o cenário com outra
categoria: o senior living. Imóveis adaptados para a terceira idade e
condomínios com infraestrutura e serviços para este público vêm ganhando
espaço.
Outra característica de casais idosos é a troca de residências amplas por
apartamentos compactos, funcionais, confortáveis e com acessibilidade. “É
natural que os pais procurem residências menores depois que os filhos saem de
casa. Essa ‘migração’ provoca mudanças no mercado imobiliário e obriga a
indústria da construção civil a se manter atenta às necessidades dos clientes”,
alerta o professor do UniCuritiba.
Para o setor de turismo, lazer e entretenimento, a dica é a mesma: é preciso
oferecer viagens, atividades e eventos pensados para este público que, ao se
manter economicamente ativo, viaja com mais frequência.
Relação com a tecnologia
Ainda que os idosos tenham dificuldades para se adaptar às transformações
digitais, é importante que o mercado invista na inclusão digital.
O especialista em Comportamento do Consumidor, Sérgio Czajkowski Júnior,
reforça que a indústria não precisa retroagir para facilitar o acesso dos
idosos à tecnologia de ponta. “Há um nicho para o desenvolvimento de soluções e
estratégias que ajudam o público sênior a se adaptar às transformações
digitais, com tecnologias intuitivas e de fácil acesso.”
A adaptação a tantas mudanças em diferentes setores econômicos, finaliza o
professor do UniCuritiba, requer conscientização e respeito à experiência e à
história de vida de quem envelheceu, mas ainda tem muito a dizer e a ensinar.
“Não vamos vencer o etarismo da noite para o dia. O processo é paulatino, mas
já tivemos avanços importantes para assegurar o direito dos idosos. Fomos,
durante muito tempo, uma nação jovem e chegou a hora de mudar a visão que temos
a respeito da pessoa idosa.”
UniCuritiba
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