Em tempos de redes
sociais, filtros e exagerados procedimentos estéticos, vemos uma sociedade cada
vez mais exigente com a aparência, tornando-nos em escravos de padrões.
Todo mundo conhece alguém que, em busca da
excelência, obteve como resultado problemas emocionais que culminaram em alguma
doença, transtorno ou quadro depressivo. É comum que as pessoas foquem em
resultados baseados em padrões muitas vezes irreais.
Quando o assunto é beleza, há cada vez mais opções.
De acordo com a dermatologista Paula Sian, a tendência das harmonizações
faciais, por exemplo, trouxe para seu consultório pessoas que, embora tivessem
um rosto lindo, demonstravam uma imensa insatisfação com sua fisionomia.
“Muitos dos meus pacientes descobrem durante minha consulta que na verdade não
estão insatisfeitos com a sua aparência, mas sim influenciados pela avalanche
de informações que recebem a todo instante” – Explica a dra. Paula.
A médica, que além de dermatologista se
especializou em medicina chinesa e acupuntura, procura focar seus atendimentos
não apenas no corpo, mas também na mente, investigando causas físicas e
emocionais que podem ter resultado em problemas dermatológicos e até mesmo
relacionados com a aparência. Segundo ela, buscar cuidados com o corpo e com a
beleza apenas baseados em padrões causa muita frustração, uma vez que é
impossível se transformar no outro. “Entendemos como perfeição sermos algo que
pertence ao coletivo. As pessoas não visam ser elas mesmas, querem se
assemelhar muitas vezes a figuras públicas, tendências, etc. A busca por ser
outro individuo bate na não aceitação de si mesmo, gerando angústia, ansiedade
e estresse e consequentemente em doenças físicas, principalmente
dermatológicas” – afirma a especialista.
Paula explica que após ouvir as queixas dos seus
pacientes, inicia uma investigação que inclui perguntas pessoais sobre o meio
em que vive, relacionamentos, infância, entre outras questões que apontam
muitas vezes uma necessidade de fundo emocional. “Só após entender todo esse
contexto é que partimos para o atendimento clínico e sugerimos os procedimentos
que atendam a necessidade dele” – explana.
O método de atendimento da dermatologista foi
definido por uma experiência particular que a fez mudar todo o seu estilo de
vida. Em meados de 2020, não deu atenção ao quadro de acne, queda de cabelo,
insônia e palpitação. E em pouco tempo, sofreu uma crise de pânico, com choro
incontrolável, medo e necessidade de fuga. Tudo isso foi desencadeado só de
pensar em ouvir a voz da sua chefe. Ou seja, sintomas físicos para uma
deficiência emocional. Não demorou para o diagnóstico aparecer, Paula estava
sofrendo uma crise de Burnout, justamente pela insistência de se encaixar em um
padrão de perfeição quase que impossível – a esposa, profissional e mulher
perfeita, seguindo o modelo que a sociedade impõe para as mulheres.
Depois desse episódio, ela ressignificou sua vida e
mudou seus atendimentos. De acordo com a médica essa busca pela perfeição
trouxe uma profunda infelicidade, sentimento de solidão e angústia, porque
nunca era o suficiente. “Quando comecei a entender o que estava fazendo comigo
mesma, comecei a galgar esse processo de individuação. Hoje me aceito mais,
e me cuido para me sentir bem. Não para que me admirem!” - finaliza a
dermatologista.
De acordo com a médica, esse processo de
individuação é de extrema importância para que o paciente inicie sua cura. A
tecnica foi descrita pela psicoterapeuta Marie-Louise von Franz
e diz que o amadurecimento psicológico que cada um percorre
durante a vida, inicia-se enxergando-se como um indivíduo separado dos pais. A
partir disso, a convivência com outras pessoas e situações coloca a pessoa em
uma perspectiva de conflito e aprendizado, entendendo o ser como membro de uma
sociedade, mas ainda assim, como indivíduos únicos.“E entender que somos
membros da sociedade, mas que não podemos nos esquecer de respeitar nossos
próprios limites. A questão não é ser egoísta e só pensar em si, mas pensar em
como poder viver em harmonia consigo mesmo e com os demais” explica.
Engajada em contribuir com a saúde mental e
consequentemente física de outras pessoas, a médica escreveu um livro sobre sua
experiência – “Um burnout para chamar de seu” que narra com riqueza de detalhes
as características do Burnout - gatilhos, sintomas, crise, tratamento e
principalmente as ações para uma nova vida.
Quando a busca pela aceitação dos outros, da
perfeição passa sobre os limites pessoais, fazendo com que a pessoa não se
aceite, não respeite sua natureza e tenha como modelo comportamentos que não
condizem com seus valores, inúmeros problemas físicos e emocionais podem
surgir. Esse é o primeiro sinal do processo de violência consigo mesmo, que não
tratada, torna-se cada vez mais frequente e intensa, repleta de privações e
anulações. “Precisei vivenciar a experiência de fundo do poço para entender que
nada do que eu vivia era, de fato, importante para mim. E hoje em dia, percebo
que eu vivia irritada, aflita, estressada, reativa. Nada era natural. Nada
vinha com naturalidade e espontaneidade. A vida de se adaptar ao outro gera
isso” finaliza Paula.
CRM: 111963-SP RQE Nº: 38348
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