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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Em 10 de outubro, véspera do Dia das Crianças, médicos realizam mutirão de alerta às grávidas no Terminal Rodoviário Santo Amaro

SAF (Síndrome Alcoólica Fetal) compromete o desenvolvimento cerebral e provoca anomalias congênitas, como problemas cardíacos e fenda do palato, entre outros males à saúde

 

Em 10 de outubro, das 7h às 13h, haverá um mutirão da saúde do bebê no Terminal Rodoviário Santo Amaro. Médicos e profissionais de saúde transmitirão para as futuras mamães informações e orientações sobre a SAF (Síndrome Alcoólica Fetal) e os riscos da ingestão de álcool durante a gestação.

A ação integra a campanha #gravidezsemalcool, encabeçada pelo Instituto Olinto Marques de Paulo (IOMP), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Paulista de Medicina (APM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

 

Presentes para as futuras mamães

As grávidas que circularem pelo Terminal Rodoviário Santo Amaro, entre 7h e 13h, serão presenteadas com as pulseiras #gravidezsemalcool, reforçando o combate ao álcool durante a gestação, ganharão flores, folhetos informativos a respeito da doença e mais surpresas.

Artistas circenses especialmente convidados farão performances para atrair os populares, enquanto compartilharão mensagens de conscientização. Quem passar por lá, poderá conferir ainda a exposição de artes "Infância, eu abraço", com obras de artistas de São Paulo.

No terminal, uma grande faixa será aberta no corredor central e os pontos de ônibus receberão cartazes com dicas para uma gravidez segura.

Ainda no dia 10 de outubro, à tarde, haverá uma formação para agentes de saúde e serão distribuídos cartazes e folder´s para 508 unidades, como: AMA, UBS e UPA.

 

Em debate políticas públicas para conter a SAF

Já em 11 de outubro, segunda-feira, das 10h às 15h,, a subprefeitura de Santo Amaro fará uma mobilização e entrega de pulseiras #gravidez sem alcool no Largo 13 de Maio/Praça Floriano Peixoto, para conversar com a população e esclarecê-la quanto à Síndrome Alcoólica Fetal.

         No dia 18, quarta-feira, às 19h, sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, promoverá debate entre especialistas intersetoriais e autoridades visando a construção de políticas públicas de enfrentamento à SAF.

 

Sobre a Síndrome Alcoólica Fetal

         O consumo pesado de álcool – caracterizado pela ingestão de quatro ou mais doses - cresceu 4,25% entre as brasileiras na última década, segundo levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), com dados do DATASUS 2021. Em uma sociedade em que a bebida é praticamente onipresente, uma doença faz de crianças vítimas para toda a vida antes mesmo do nascimento: é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).

         Especialistas são categóricos: à luz de evidências científicas, informam que não há nível seguro de consumo durante a gestação. A SAF provoca problemas como retardo de crescimento intra e extrauterino, dismorfias faciais. Disfunção do sistema nervoso central também pode afetar o bebê.

Dada a importância do alerta, desde 1999, é destacado anualmente o Dia de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal. Em outubro, mês das crianças, há sempre ações de instituições de saúde e da educação para disseminar informações confiáveis sobre a doença.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, já se estimou a prevalência da SAF em um caso para cada 1.000 nascidos vivos. O número, entretanto, é provavelmente bem maior, em virtude da subnotificação em boa parte consequência do desconhecimento sobre a doença até entre médicos e profissionais de saúde, da dificuldade de diagnóstico e ainda do crescimento do consumo de bebidas alcóolicas entre as mulheres.

 

A campanha #gravidezsemalcool

A campanha permanente #gravidezsemálcool tem como embaixadoras e embaixadores celebridades Patrícia Abravanel, Alinne Moraes, Mariana Ferrão, Deborah Secco, Carla Diaz, Filipe Bragança, Fernanda Machado, Filipe Cavalcante, Paloma Bernardi e Murilo Becker, só para citar alguns.

A busca por mais parceiros e apoios ocorre por meio do Instituto OMP e Grupo de Trabalho sobre os Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-nascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

instituto-omp.org.br/gravidezsemalcool

 

Testemunho de uma mãe com filho portador da Síndrome

         Quando Cleísa Cartaxo e Cleiver Lima conheceram sua filha, ela tinha nove meses, mas o tamanho de uma recém-nascida. Pelas condições da bebê, não demorou até que o casal de adotantes de Rio Branco, Acre, obtivesse a guarda provisória e começasse a correr em busca do diagnóstico médico. Também foi rápida a escolha do nome; para uma menina que atravessava obstáculos, nada mais adequado do que Ana Victória.

“Suspeitavam de SAF, mas não havia confirmação da genitora quanto ao consumo de álcool durante a gravidez. Não é um diagnóstico tão simples, até Síndrome de Down chegamos a cogitar, mas foi descartada pelos exames genéticos. Os efeitos do álcool sobre o desenvolvimento do feto, por serem inúmeros, podem se confundir com os de outras drogas e com outras síndromes e transtornos”, relata Cleísa.

“Decidimos procurar ajuda em São Paulo, e assim como a geneticista em Rio Branco, outros três profissionais diferentes também identificaram a síndrome. Além de não conseguir se sentar ou rastejar e de trazer uma fenda no céu da boca que a impedia de ganhar peso, a fenda palatina, Victória tinha os olhinhos pequenos e afastados, e microcefalia, características daquilo que no Brasil chamamos de SAF ‘clássica’ ou completa.”

         A SAF “clássica” é o transtorno mais grave dentro do espectro de desordens fetais alcoólicas (Fetal Alcohol Spectrum Disordes - FASD). Mesmo que não sejam diagnosticadas com a SAF completa, crianças com FASD também manifestam problemas na infância, explica o pediatra e neonatologista Hermann Grinfeld, médico colaborador do Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD) no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq – HC FMUSP) e vice-presidente do Grupo Álcool e Gestação da SPSP.

         “Trata-se de uma doença multifacetada, que acarreta alterações de natureza física e comportamental. As mudanças físicas nem sempre ocorrem, as comportamentais são mais comuns. Algumas delas são atrasos de memória, fala, audição e atenção, dificuldades na aprendizagem, em especial em matemática, e no relacionamento interpessoal, o que só se identifica mais tardiamente. O diagnóstico, portanto, é complexo. Não existe um exame laboratorial que detecte a síndrome, a confirmação da mãe continua sendo essencial”, pontua o dr. Hermann.

Adultos, por sua vez, tendem a apresentar problemas de saúde mental e de comportamento, tais quais desrespeito às leis, conduta sexual inadequada, dependência física e emocional, dificuldades com o emprego e consumo de drogas. Esses são os casos mais numerosos. Estima-se que para cada indivíduo com a SAF completa, existam ao menos 10 com outras desordens. Isso corresponde de 1% a 3% da população geral.

         Ao atravessar a proteção da placenta, a bebida diminui a quantidade de oxigênio enviada ao embrião, prejudicando o desenvolvimento cerebral e a formação óssea. Crianças expostas ao álcool no útero podem ser afetadas de várias maneiras: por anomalias faciais, como fissura palpebral pequena e borda vermelha do lábio superior fina; por restrição de crescimento, como baixo peso ao nascer e baixo peso relativo à altura; por alterações de neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, como microcefalia e dificuldades motoras finas; por anormalidades comportamentais inexplicáveis, como fraco desempenho escolar e dificuldade de linguagem; e por anomalias congênitas, como problemas cardíacos e fenda do palato.

Bebidas ainda são desaconselhadas após o nascimento da criança, pois põem em risco o aleitamento materno. Entre 30 e 60 minutos após a ingestão, o álcool é transferido para o leite por difusão passiva. Além disso, o cheiro e o sabor podem ser alterados, levando o bebê a recusar o alimento, e a produção pode ser reduzida, pois o álcool inibe a fabricação do hormônio “prolactina”, responsável por ela. Sonolência, sudorese, sono profundo, fraqueza e, por conseguinte, ganho anormal de peso, diminuição do crescimento linear e outros riscos rondam os pequenos.


Prevenção é a receita  

Apesar de não existir uma cura ou um tratamento específico, com os cuidados certos é possível minimizar os impactos da doença e contribuir para uma vida com mais qualidade. Como no caso de Ana Vitória, é fundamental que pais e responsáveis busquem atendimento médico o quanto antes – de preferência já no berçário, a partir dos aspectos faciais do bebê - para que o diagnóstico precoce seja feito. Afinal, embora o dismorfismo facial seja amenizado à medida que a criança envelhece, permanecem o retardo mental, os problemas na motricidade, o comprometimento das funções nervosas e musculares do corpo, as dificuldades de relacionamento e outras características que demandam grande atenção da família.

“Passamos por fonoaudiólogos, fisioterapeutas, musicoterapeutas por uma série de terapias”, conta Cleísa. “Quando conhecemos nossa menina, ela não tinha perspectiva nem de se sentar, de acordo com os médicos que a atendiam no SUS. Visualizávamos nossa filha acamada para o resto da vida, mas hoje, já uma mocinha, com um bom tratamento, Victória não só se senta como anda, brinca, anda de bicicleta, de patinete, vai à escola.”

“Ela tem altos e baixos, regride e progride, é uma montanha russa. Em alguns dias, se comporta como uma criança de onze anos, está bem-humorada, interage; em outros, age como se tivesse dois, resmunga, faz birra. O que não muda é sua personalidade extremamente carinhosa. Victória é doce a ponto de distribuir beijos e querer abraçar as pessoas e os bichos na rua. Eu, Cleiver e nossa outra mocinha, Maria Clara, somos sortudos. Temos uma filha e irmã maravilhosa.”


Divulgar, conscientizar e esclarecer

Uma das articuladoras do coletivo Famílias SAF Brasil (FSAFB), Cleísa se tornou não só no em seu estado, mas em todo o país, um símbolo da luta por mais visibilidade para a síndrome. “Estamos falando de uma doença que se pode prevenir, mas esbarramos na falta de informação das pessoas, que a desconhecem, e na má formação dos profissionais, que nem sempre são capazes de fazer um diagnóstico correto.”

Junto com o marido, a agrônoma conquistou o apoio do Ministério Público do Acre e da Câmara Municipal de Rio Branco na empreitada. Graças ao seu trabalho incansável, foi criada, por exemplo, a Lei Municipal n° 2.275, de 10 de janeiro de 2018, que dispõe sobre diretrizes para a conscientização a respeito da SAF.

“Uma data não é o bastante, precisamos continuar avançando. São necessárias políticas públicas que prevejam a inclusão do tema nos currículos dos cursos de medicina e na capacitação dos profissionais do SUS. E campanhas, muitas campanhas, como as que são feitas em relação ao cigarro: alertas explícitos nas embalagens e cartazes afixados em áreas de venda, mesmo com a indústria do álcool esperneando. O acesso à informação é um direito de quem gesta ou gestará. Ainda assim, culpabilizar a mulher, que muitas vezes não sabe o que fazer, foi abandonada pelo parceiro e se vê sozinha, sem recursos, com a barriga crescendo, não é o caminho”, enfatiza.

 

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