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Com ajuda da
inteligência artificial, a técnica permite recriar a imagem e voz humana,
possibilitando aos cibercriminosos se passarem por outras pessoas. Ataques a
empresas podem deixar executivos em saia justa
Começou como fofoca, evoluiu para fake news e agora falamos de
deepfakes. Assim como o verbete foi se modernizando, o jeito de narrar e
espalhar algo falso também está se modificando.
No folclore das fake news, o hambúrguer do McDonald's usaria
carne de minhoca e a Coca-Cola teria ratos em seu conteúdo. A Pepsi também já
foi apontada por usar células de embriões humanos na composição das suas
bebidas.
No caso do McDonald's, a história começou com a visita de
jornalistas à fábrica da empresa, ainda nos anos 1980, quando um deles comparou
a maneira como a carne saía do moedor ao formato de uma minhoca. Isso bastou
para tornar uma brincadeira em lenda - até hoje.
São muitas as marcas que carregam polêmicas, e que em alguns
casos, até promoveram ainda mais a empresa. Mas, nem sempre é assim. Crises,
guerras e doenças têm despertado um grande fluxo de informações que se
multiplicam de forma acelerada e em um curto intervalo de tempo. Nessa seara,
um novo termo tem habitado as redes sociais: deepfakes.
O jargão descreve substituições, normalmente faciais, em
conteúdos de vídeo usando algoritmos de inteligência artificial (AI). Na
prática, coloca-se o rosto de uma pessoa em qualquer tipo de conteúdo
preexistente. O resultado varia do mais simples, feito em smartphones, até
simulações refinadas que usam centenas de horas de material em vídeo para o
“treino” da substituição com AI.
A tecnologia tem evoluído a passos largos, e muitos
especialistas acreditam que em pouco tempo será muito fácil gerar resultados
indiscerníveis aos olhos do grande público. Além da eterna ameaça de
desinformação, esse movimento gera dúvidas na população.
Embora pareça papo de ficção científica, isso é muito real.
Basta uma imagem e uma gravação de cinco segundos da voz de qualquer pessoa
para criar um avatar perfeito. Em meados de 2022, um substituto sintético de
Elon Musk passou a promover uma nova plataforma de criptomoedas, a Bitvex,
que mais tarde descobriram ser uma fraude. Mas até lá, os vídeos falsos usando
o rosto e a voz de Musk já tinham feito muita gente cair no golpe.
Há pouco mais de um mês, uma foto do Papa Francisco vestindo um
casaco Balenciaga chocou o mundo. A imagem foi postada no site Reddit e, embora
parecesse real o suficiente para enganar muitas pessoas, na verdade, foi criada
por uma ferramenta de IA generativa chamada Midjourney, que transforma texto em
imagens.
O mesmo pode atingir qualquer marca e alavancar uma verdadeira
crise de imagem. Chad Steelberg, executivo-chefe da Veritone, fornecedora
americana de tecnologia de inteligência artificial, explica que enquanto
golpistas trabalham formas de usar suas informações para se passar por uma
empresa, os grandes executivos devem estar focados em estabelecer um elo de
conhecimento com seus consumidores.
Para além da marca registrada de um negócio e do reconhecimento
instantâneo de um produto em meio a outros, vale apostar também nas
vulnerabilidades de uma empresa. Isso significa se posicionar, apresentar
propósitos e divulgar condutas, inclinações, ações e até dados financeiros que
impeçam a manipulação de qualquer cliente.
Em um artigo recente, Chad destaca que criminosos geralmente se
aproveitam de situações que possam gerar dúvidas. "Estar alerta e ser
transparente são defesas contra a desinformação e uma segurança para os
clientes, que terão oportunidade de desconfiar de qualquer informação duvidosa
e daquilo que a empresa nunca faria ou diria."
Estar próximo e criar uma relação de amizade com o consumidor
também fortalece a imagem de qualquer empresa em momentos de crise, segundo
Luiz Augusto D’Urso, coordenador-geral do Conselho de Segurança Cibernética e
de Dados Pessoais (CCIBER).
Diferentemente do "falem mal, mas falem de mim",
D'Urso esclarece que as deepfakes são conteúdos altamente bem elaborados e
normalmente surgem em formato de áudio ou vídeo - e que, portanto, se proteger
disso seria praticamente uma missão impossível.
E se uma empresa se torna vítima dessa manipulação, o advogado
destaca que a solução, nesse caso, não será baseada em tecnologia, mas sim em
comunicação.
O mais indicado, de acordo com o especialista, é deixar claro
para o consumidor que todas as críticas verdadeiras serão bem aceitas,
analisadas e geridas. E, portanto, ter o esclarecimento como reação imediata
pensando na preservação da imagem da marca e sua credibilidade, para em seguida,
tomar as medidas legais cabíveis.
RECLAMAR É DIFERENTE DE OFENDER
Outro ponto de atenção para empresas se dá nas plataformas de
avaliação. É bastante comum ver ofensas contra empresas em redes sociais e
páginas de serviços, como a do Google Meu Negócio, que geram inúmeros prejuízos
à empresa que pode ficar malvista em seu meio de atuação.
O advogado Jonatas Lucena, especialista em direito digital,
defende que divulgar fatos e comentários com agressividade, em redes sociais,
tem potencial de alcance público e, portanto, pode lesar o patrimônio imaterial
de pessoa jurídica, e gerar indenização.
O mais indicado, segundo Lucena, caso uma pessoa faça uma
reclamação sobre sua empresa, principalmente se for de forma anônima, é
ingressar judicialmente com uma ação de quebra de sigilo. Ao identificar quem
publicou a ofensa, cabe entrar com uma ação indenizatória. Além de pagar a
indenização, o cliente também poderá responder criminalmente por isso.
Em geral, as empresas tentam evitar esse tipo de confronto, mas
o advogado alerta que se a companhia não fizer nada, pode passar a impressão de
que assumiu o erro, ainda que não tenha errado.
"E se você é empresário, administre bem as redes sociais de
sua empresa para ficar sempre atento ao que surge a respeito de seus produtos
ou serviços", diz.
Por outro lado, o advogado penal Euro Bento Maciel Filho explica
que a publicação desses conteúdos, por si só, não é caracterizada como crime no
Brasil, desde que essa conduta não acabe se adequando a um crime já previsto em
legislação. No entanto, existem diversos projetos de lei tramitando no
Congresso para que essa conduta passe a ser punida.
"É fato que esses conteúdos podem provocar ofensas a honra
ou reputação de determinada pessoa, e isso é tipificado no Código Penal como
injúria, difamação ou calúnia. Por ora, esse é o caminho”, diz.
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/deepfakes-e-o-que-a-sua-marca-nunca-faria
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