É fato que a participação da indústria, e especialmente da indústria de transformação, no PIB do Brasil e no PIB da indústria mundial, vem caindo. Outro fato é que temos dado pouca importância ao impacto disso no crescimento e no desenvolvimento do país, apesar das inúmeras evidências que aí estão.
O ranking global de valor adicionado da indústria
de transformação – MVA (Manufacturing Value Added) publicado pela Unido (United
Nations Industrial Development Organization), mostra que a participação da
indústria brasileira no PIB em 2021 foi de apena 10,2%, contra a média de 22,9%
do grupo de economias industriais de renda média ao qual pertencemos, e o MVA
per capita do Brasil, de US$ 875, representa só 42% do valor do mesmo grupo de
países industrializados de renda média. E mais, a participação da média e alta
intensidade tecnológica no MVA do Brasil foi de 33,7% em 2021, contra 39,3% no
grupo de países de referência acima citado. Resultado, em grande parte, da
queda de investimentos na indústria de transformação, cuja participação no
investimento total na economia caiu de 28% em 2008 para 15% dez anos depois.
O economista Samuel Pessoa chama a atenção para o
quanto o nosso sistema tributário penaliza a indústria. O setor paga muito mais
impostos do que a agropecuária e os serviços. E diz que esse jogo tem que ser
equilibrado. Do ICMS arrecadado, por exemplo, a indústria de transformação paga
50% e o agronegócio 10%. Também o manicômio tributário brasileiro penaliza
muito mais a indústria que tem cadeias produtivas longas e por isso precisa
conviver com diversos regimes tributários especiais. Assunto para a Reforma
Tributária que está no Congresso Nacional.
A indústria pode ajudar muito mais o país. A cada
R$ 1,00 que ela produz, são gerados R$ 2,43 na economia brasileira segundo a
CNI. É quem mais investe em pesquisa e gera os empregos mais qualificados. Foi
a indústria que catapultou a China de economia agrária rudimentar para maior
economia do mundo em termos de paridade de poder de compra, em poucas décadas.
A indústria de transformação é responsável por 60% das despesas de Pesquisa
&Desenvolvimento no mundo e é o setor que tem o maior impacto na
produtividade da economia e no desenvolvimento de serviços sofisticados.
Segundo o economista Paulo Gala, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), os países
são ricos porque tem domínio tecnológico, e nenhuma nação chegou à fronteira
tecnológica sem possuir um setor industrial forte. E cita Alemanha, Suécia,
Coreia do Sul, Suíça, Estados Unidos, Finlândia e Dinamarca por sua altíssima
produção industrial per capita.
Mas a nossa indústria de transformação precisa ter
condições de competir com seus pares internacionais. E o Custo Brasil, estimado
pela CNI em R$ 1,5 trilhão anual, é uma pedra no caminho. Torna o país pouco
competitivo e hostil para quem quer empreender e investir. Certamente não é por
incompetência do empresário brasileiro que a nossa indústria está encolhendo. É
pelos entraves que são colocados. Para superá-los, empresários próximos ao
poder buscam proteção ou compensação. Empresas pequenas buscam isenções e
apoios. Quem está no meio do caminho precisa fazer milagres para sobreviver e
crescer. E se quisermos aproveitar pelo menos as sobras do processo de
redesenho das cadeias mundiais de suprimentos, os chamados nearshoring,
safeshoring,
friendshoring
ou simplesmente reshoring, não devemos demorar a agir. Senão a indústria
caipira definitivamente vai ficar para trás e o país também.
Carlos Rodolfo Schneider - empresário
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