Nutricionista da
clínica Origen BH fala sobre doenças correlacionadas à obesidade e excesso de
peso e a importância da abordagem da reeducação alimentar
Estudos recentes demonstram que a fertilidade
feminina é negativamente influenciada pela obesidade e pelo sobrepeso. Mulheres
com elevado percentual de gordura estão mais predispostas a ter irregularidade
menstrual, ciclos oligoanovulatórios (ovulação irregular ou ausente) e
infertilidade. Mas como então essas pacientes podem realizar o sonho de se
tornarem mães? A nutricionista da clínica Origen BH, Bárbara Dora Alves
Fernandes, explica que a maioria de pacientes com esse perfil convivem com
hábitos alimentares ruins, além de sedentarismo.
De acordo com a nutricionista, o excesso de peso na
mulher é associado também a resultados menos satisfatórios no tratamento da
infertilidade e outras complicações. “Muitas pacientes com excesso de gordura
corporal e que apresentem a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ou a
endometriose podem ter maior taxa de abortos espontâneos e maior risco de
complicações na gravidez (como diabetes gestacional, doença hipertensiva da
gravidez, parto pré-termo e alterações do crescimento intrauterino do bebê)”,
exemplifica.
Segundo Bárbara, estudos e ensaios clínicos sugerem
que vários fatores estejam possivelmente envolvidos na interação entre
obesidade e infertilidade. Caso da leptina, hormônio produzido pelos adipócitos
(células de gordura) e que atua no cérebro controlando o apetite, além de
possuir outras funções no gasto energético do metabolismo. “Pesquisas indicam
que quanto mais gordura no corpo, mais leptina é produzida e, quando em
excesso, o controle do apetite é bloqueado e o metabolismo energético se torna
mais lento e menos eficiente. Estudos in vitro sugerem que a leptina
aumentada também pode afetar os ovários e reduzir a produção dos hormônios
estrogênio e progesterona, dificultando a receptividade endometrial e
implantação embrionárias”, diz a nutricionista.
Insulina - Outro problema que pode ser
gerado pelo elevado percentual de gordura no organismo é a resistência
insulínica devido ao excesso de glicose no sangue, comumente verificado na
obesidade. A insulina é o hormônio responsável por mobilizar a glicose para
dentro das células, que a utilizam para produzir energia. “Excesso de glicose
sanguínea favorece uma hipersecreção de insulina e desencadeia uma resistência
das células na sua ação. Além deste estado de hiperinsulinemia inibir a síntese
de proteínas ligadoras de hormônios (SHBG) e das relacionadas à replicação
celular (IGFBP), há aumento da produção dos hormônios estradiol, testosterona e
progesterona. Essas alterações conduzem à secreção anormal de outros dois
hormônios, o LH e o FSH, que afetam negativamente a maturação folicular e a
ovulação. Além disso, a baixa de IGFBP pode interferir no desenvolvimento
embrionário”, explica a nutricionista.
Bárbara Fernandes lembra ainda que o excesso de
gordura pode dificultar a fertilidade por meio da lipotoxicidade – um efeito
tóxico de moléculas de gorduras livres no sangue (conhecidas como radicais
livres) em células reprodutivas, causando uma inflamação crônica de baixo grau
nos folículos, aumento de insulina, triglicérides, lactato e proteína C-reativa
(PCR) –, que afeta também o oócito (célula reprodutiva feminina) ou o próprio
embrião.
Reeducação alimentar - Normalmente,
a primeira abordagem na Origen à paciente obesa que quer fazer o tratamento de
reprodução assistida é feita pela perspectiva de reeducação alimentar, com
aumento da ingestão de alimentos in natura, ricos em nutrientes que
podem favorecer a saúde reprodutiva e uma possível gestação. As estratégias
para redução de peso e gordura corporal, principalmente baseadas em mudanças no
estilo de vida e na alimentação, favorecem o restabelecimento da fertilidade,
assim como a melhora dos resultados de tratamentos de reprodução assistida em
mulheres com SOP e endometriose, além da redução das complicações obstétricas.
“Por tudo isso é fundamental que a paciente com
sobrepeso ou obesa que sonha em ter filhos e apresenta a dificuldade da
gravidez natural tenha uma orientação profissional feita por equipe
multidisciplinar, não apenas com a nutricionista, mas com psicólogo (a), equipe
de enfermagem e médico (a) especialista em reprodução
humana, pois é por meio de um planejamento global que vamos proporcionar a ela
a melhoria nas condições nutricionais, psicológicas e fisiológicas para que o
tratamento da gravidez tenha mais chances de obter o sucesso esperado”,
acrescenta Bárbara Fernandes.
IMC - O atendimento nutricional é focado em otimizar as
chances de resultado positivo no desfecho dos tratamentos e preparando o
organismo da paciente para uma possível gestação, corrigindo possíveis
deficiências nutricionais e desestimulando o consumo de alimentos
ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras. São avaliados o histórico de
saúde, por meio de um questionário nutricional, além do índice de massa
corporal (IMC) – que considera sobrepeso o IMC ≥ 25 e obesidade o IMC ≥ 30,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Exames bioquímicos podem ser
solicitados para complementar a avaliação. Há ainda outros métodos adotados,
como bioimpedância ou dobras cutâneas (que classificam percentual de gordura
corporal), que juntos são capazes de dimensionar a proporção de gordura e massa
magra do peso total.
“Importante verificar também as possíveis carências
vitamínicas, principalmente as que são lipossolúveis (solúveis em gorduras),
pois o excesso de adipócitos reduz a disponibilidade delas para o metabolismo
reprodutivo – vitaminas A, , E e K. Além dessas, pode haver deficiência de
vitamina C, zinco, magnésio e cálcio – possivelmente relacionada ao aumento do
estresse oxidativo celular/inflamação na obesidade”, acrescenta.
Para cada mulher é feito um planejamento
específico. Podem ser utilizados alimentos com capacidades funcionais, como
gengibre, cúrcuma, própolis, chás de frutas vermelhas e cítricas, folhosos e
vegetais, para ajudar no controle da inflamação. Muitas vezes é necessária
também a suplementação para corrigir deficiências, contribuir no controle do
apetite, atenuar inflamação e minimizar o estresse oxidativo celular”,
complementa.
Clínica Origen de Medicina Reprodutiva
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