A política, assim como a filosofia, surgiu na Grécia
por volta do século VI a.C. Foi quando o homem expandiu o foco de interesse,
deixando de entender a realidade por meio de mitos para atentar ao que
acontecia aqui e agora, e entre quem lhe era semelhante. Havia, sim, uma
atitude filosófica a ponto de a política ser considerada como o ápice da
existência humana, a principal qualidade do homem livre.
Porque a política, para quem vivia na
Grécia Antiga, tinha por fim último a justiça comum. E justiça, enfatize-se,
era a ordem natural que governava o mundo. Os tempos são outros, com certeza. A
tal ponto que, em um país como o Brasil, um dos assuntos que mais atrai a
atenção do Congresso Nacional, instituição que representa o Poder Legislativo,
é o tamanho da assistência financeira aos partidos políticos -- em especial, em
ano de eleições como o de 2022.
O Fundo Eleitoral, também conhecido por
Fundão, foi criado em 2017, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para dar
cobro à dinheirama que corria solta pela falta de regras no financiamento
empresarial das campanhas políticas. A iniciativa do STF deu em nada, contudo.
Porque o Fundão, agora composto essencialmente de dinheiro público -- ou seja,
dinheiro que se origina dos impostos pagos pelos brasileiros nos produtos que
consomem --, tem alcançado montantes estratosféricos a cada nova eleição.
Em miúdos: do total de R$ 1,7 bilhão aferido no pleito (presidencial) de 2018, o Fundão passou a ser de R$ 2 bilhões em 2020 (eleições municipais) para ser contabilizado em R$ 4,9 bilhões por causa das eleições gerais de outubro próximo. Consequência? O Brasil domina, absoluto, o ranking mundial entre os países que mais gastam dinheiro público com campanhas eleitorais.
E pensar que essa montanha de dinheiro poderia ter
outra finalidade, como, por exemplo, financiar Bolsa Família para 12 milhões de
lares brasileiros; construir 245 mil salas de informática nas escolas Brasil
afora; erguer 30 mil moradias populares; ou, ainda, bancar o programa de
Combate à Fome por dez anos!
Fazendo isso, a classe política
mostraria que se preocupa em encontrar respostas às necessidades prementes da
população -- e não em defender a própria reeleição com unhas e dentes.
Afinal, que país desejamos construir? Tem-se de pensar no que é melhor para os brasileiros que nos colocaram aqui, quatro anos atrás. E reencontrar o caminho virtuoso, apontado pelos gregos, que faz da política a essência do homem.
Não é papel do Estado financiar campanhas eleitorais;
o Estado tem de cuidar do cidadão que paga a conta e está sofrendo com a falta
de gestão. O Partido NOVO é contra receber o dinheiro do Fundão. Por isso, a
cota a que o partido tinha direito, cerca de R$ 87 milhões, acaba de ser devolvida para o Tribunal Superior
Eleitoral que, por sua vez, deverá repassar ao Tesouro Nacional para ser depois
investido -- oxalá! -- em Saúde, Segurança e Educação.
Não fizemos nada além do que é obrigação.
Adriana
Ventura - deputada federal e professora de
gestão e empreendedorismo na FGV-EAESP
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