Mudança de cenário com a redução dos profissionais nos plantões Covid-19 deve aumentar consideravelmente a concorrência por uma vaga de residência nas próximas provas
O
Brasil tem cerca de 500 mil médicos ativos e 24.587 deles se formaram no ano
passado, em plena pandemia da Covid-19. Neste cenário, antes mesmo de buscar a
aprovação na residência médica, muitos recém-formados foram trabalhar nas
emergências dos pacientes com Coronavírus. Com a redução dos leitos de UTI em
todo o Brasil, médicos e médicas começam a repensar suas carreiras e enfrentam
um número limitado de vagas para residentes.
Enquanto
são quase 25 mil médicos formados por ano e mais de 38 mil vagas de graduação,
temos apenas 17 mil vagas de residência médica. Temos 44% mais médicos saindo
da faculdade do que vagas para especialização e isso interfere diretamente no
pensamento de carreira deste profissional, impactando também no serviço de
saúde oferecido no país. Para o médico, professor da Sanar e especialista em
futuro das Carreiras de Saúde Vinícius Cogo, o fim dos plantões de Covid-19
traz um grande desafio para um perfil profissional que rapidamente se acostumou
a ter ganhos financeiros altos. “É um momento de recomeço para muitos médicos e
médicas uma coisa é certa: a permanência como generalista é um caminho
ingrato”, desabafa.
A
fala de Destefani, que lida com alunos de cursos preparatórios para residência
médica na startup Sanar, está dentro de um contexto cada vez maior de
concorrência para conseguir o título de especialista. “É preciso buscar algum
caminho, seja pela residência médica, com uma concorrência enorme, ou com um
curso de pós-graduação”, explica. Ele alerta ainda que alguns profissionais têm
buscado o caminho dos postos do Programa de Saúde da Família. “O que precisa ficar
claro é que os PSFs têm pagamento bem menores que os plantões da Covid-19. Ou
seja, para garantir remunerações maiores, é preciso se especializar e seguir
focado nos estudos”, completa.
Especialistas
ganham mais
A
residência médica é um dos caminhos para especialização dos profissionais da
área e algumas especialidades somente podem ser acessadas por este caminho de
formação, seja pela complexidade do ensino ou pela necessidade de alta carga
horária prática. “Especialistas tendem a ganhar em média 30% a mais do que
generalista, o que acaba tendo uma influência bem relevante na qualidade de
vida do médico e na construção do seu patrimônio material”, analisa Vinícius
Destefani. As perspectivas do mercado é que os espaços fiquem ainda mais
disputados daqui pra frente. “A estagnação das vagas de residência e o aumento
dos formandos já são um problema e temos ainda o incremento dos recém-formados
que não fizeram a prova neste ano por atraso de calendário ou por terem ido
direto para emergência. A concorrência deve aumentar muito em 2022 e quem optar
por permanecer generalista deve enfrentar uma redução de plantões e de
remuneração”, finaliza.
Os
dados citados no texto são do estudo Demografia Médica no Brasil (2020),
produzido pela USP e pelo CFM.
Vinícius
Destefani - médico graduado
em medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (2011). Residência
Médica em Pediatria pelo HC-FMUSP com titulação pela Sociedade Brasileira de
Pediatria. Residência em Cardiologia Pediátrica pelo Instituto Dante Pazzanese
com titulação pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Fellowship em
Hemodinâmica e Intervenção em Cardiopatias Congênitas pelo Instituto Dante
Pazzanese. Coordenador Médico e Arquiteto de Novos Negócios Médicos na Sanar.
Tem se dedicado ao estudo e análise da carreira médica.
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