Evitar a solidão é uma das principais recomendações a quem busca recuperação, e, durante a pandemia, os grupos de apoio tiveram de de se reunir no ambiente virtual
Christian
Montgomery sofreu com a dependência química ativa por 20 anos, João Lima, por
22. Ambos se viram perto da morte por conta do vício, mas conseguiram se
reerguer e hoje estão limpos. Um dos motivos: o apoio psicológico de
especialistas e de pessoas que entendem o que eles passaram e ainda passam.
Umas
das recomendações essenciais para quem está em recuperação da dependência
química é evitar a solidão. É por isso que os grupos de apoio são tão
essenciais. Mas em época de isolamento social, como fazer isso?
A
pandemia do novo coronavírus afetou a vida de todos. Casos de depressão,
ansiedade e estresse aumentaram, ao mesmo em tempo que o consumo de álcool e
cigarro, por exemplo, também cresceram.
E
agora, quando achávamos que a situação estava sob controle, os casos de
Covid-19 voltaram a aumentar. Novamente, a principal recomendação é a de
distanciamento social.
Internet
passou a unir adictos em recuperação
Uma
coincidência mais que feliz foi o lançamento do aplicativo gratuito Anonymo,
lançado pouco tempo antes da quarentena ser decretada no Brasil. Ele é uma
comunidade digital de milhares pessoas que se ajudam diariamente na luta contra
dependências: álcool, drogas, cigarro, jogos, comida, pornografia, por exemplo.
A
ideia de criar um meio de apoio que esteja disponível para as pessoas 24 horas
por dia, 7 dias da semana, foi de Christian Montgomery, que tem a certeza de
que os grupos de apoio foram essenciais para sua recuperação.
A
única diferença do Anonymo é que esse apoio ocorre de forma virtual. O app não
substitui os encontros presenciais e o tratamento com especialista, mas é uma
forma de mostrar aos adictos e outros dependentes que eles não estão sozinhos,
mesmo quando isolados ou distantes.
Além
de motivar a pessoa a continuar no processo de recuperação, o aplicativo também
possui exercícios práticos com base em reuniões digitais diárias sobre diversos
temas relacionados à dependência. Além disso, os usuários do app também podem
participar das reuniões sem expor a identidade.
Um
ajuda o outro
João
Lima já está limpo há mais de três anos, mas se interessou pelo aplicativo e
começou a acompanhá-lo desde o começo. Gostou tanto da ideia que se ofereceu
para ser coordenador. Hoje, ele é responsável por três reuniões por dia no
Anonymo.
Sua
experiência de vida prova como esse apoio é essencial para a vida dos adictos.
Seus
mais de 20 anos de dependência ativa o levaram até para o chamado “tribunal do
crime”. Ali, na frente de seus familiares, decidiram se Lima iria continuar a
viver ou morrer. O espancaram quase até a morte.
Esse
episódio fez com que Lima decidisse parar. Após conseguir ficar limpo, passou
também a ajudar outros com dependência. Viu no app Anonymo mais um meio de
conseguir demonstrar apoio àqueles em recuperação, e encontrou nele uma ponte
para também ser ajudado.
A
dependência química não escolhe cor ou classe social, e, inspirado pela
história de Lima, um dos participantes da comunidade digital com melhor
situação econômica decidiu ajudá-lo a se formar na escola ao pagar seus
estudos. Após conseguir ficar limpo, após se dedicar a ajudar outras pessoas,
agora, Lima vai também terminar o Ensino Médio.
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