Se a obesidade
pode agravar infecção causada pelo novo coronavírus, por sua vez,
desdobramentos da pandemia podem piorar a obesidade
O Dia Mundial da Obesidade é no próximo 4 de março.
O Brasil tem motivos de sobra para olhar com atenção para esta data e refletir
a respeito da doença que se alastra como uma epidemia no país e no mundo. Para
ser ter uma ideia do crescimento da obesidade em solo brasileiro, entre
2014-2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou a
primeira edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), na qual foi constatada que
20,8% dos brasileiros estavam obesos. Cinco anos depois, em 2020, lançou a
segunda edição da PNS, e a porcentagem de brasileiros com obesidade havia
saltado para 25,7%.
Por si só, estes números são alarmantes. Em tempos
de pandemia pelo novo coronavírus, o quadro acima descrito causa muito mais
preocupação, já que a obesidade é um dos fatores de risco para agravamento da
covid-19. O médico endocrinologista, especialista em tratamento de obesidade,
Rodrigo Bomeny, explica que desde o início do espalhamento da doença, na China,
estudos daquele país já demonstravam que pacientes obesos apresentavam maior
risco de desenvolver quadros.
Posteriormente, conforme Bomeny, com o avançar da
doença na Europa e nos Estados Unidos, foram desenvolvidos novos estudos que
também atestavam isso. “Recentemente, foi publicado um estudo francês, com uma
análise retrospectiva dos pacientes que tiveram quadro de covid-19 e
constatou-se que quem tem obesidade apresenta um risco cerca de oito vezes
maior de ventilação mecânica”, diz.
Tal fato não significa, contudo, que todas as
pessoas com obesidade, se contraírem a covid-19, desenvolverão quadros graves.
A idade avançada continua sendo o maior fator de risco. Jovens, que em
condições normais, são menos suscetíveis ao agravamento da doença, correm mais
risco quando são obesos. Em relação ao gênero, homens têm mais chances de
necessitarem de internação e ventilação que mulheres.
A obesidade é uma doença multifatorial, mas um dos
aspectos de maior relevância para seu desenvolvimento é a alimentação. No
artigo “Obesity and Covid-19 in Latin-America: a tragedy of two pandemics”, em
português, “Obesidade e Covid-10 na América Latina: uma tragédia de duas
pandemias”, publicado na Obesitu Review, a mais influente revista científica do
mundo com foco na obesidade, a Federação Latino-Americana de Obesidade (FLASO),
afirmou que nos últimos anos a América Latina viu um crescimento acentuado da
doença entre as classes menos favorecidas. E um dos motivos, conforme o artigo,
parecer ser a má alimentação, já que também foi constatado um aumento do consumo
de alimentos ultraprocessados nessas classes.
Além de engordativos, por terem mais calorias, os
alimentos processados ainda são pouco nutritivos, o que em contexto de pandemia
de covid-19, torna o quadro ainda pior, podendo tornar a saúde da pessoa mais frágil
e, consequentemente, mais vulnerável a complicações.
Se a obesidade é o fator de risco para agravamento
da infecção causada pelo novo coronavírus, por sua vez, os desdobramentos da
pandemia (isolamento social, crise econômica e perda de empregos) podem ser
agentes causadores e de piora da obesidade. Isto porque acarreta ao maior
consumo de alimentos industrializados, processados e ultraprocessados, grosso
modo, mais caros.
“Manter o peso saudável já é difícil em tempos
normais, mas parece ter ficado muito mais difícil em meio às mudanças radicais
durante a pandemia”, enfatiza o médico endocrinologista. De acordo com Bomeny,
o resultado de uma pesquisa online no Reino Unido atesta a dificuldade. No
levantamento, feito com mais de 800 adultos, 63% dos entrevistados relataram
dificuldade em manter o peso durante a pandemia.
O médico endocrinologista cita os principais
fatores de risco associados ao ganho de peso durante a quarentena, inerentes ao
isolamento social, ao confinamento, à rotina de home office e ao estado de
ansiedade gerado pela doença. São eles: sono inadequado; lanches após o jantar;
falta de restrição alimentar; alimentação em respostas ao estresse; e redução
da atividade física.
Estar ciente de que a obesidade é morbidade que
contribui para complicações no quadro infeccioso da covid-19 não significa de
que se deve culpar o paciente obeso, como se quisesse dizer que a
responsabilidade é só dele. Bomeny ressalta que a obesidade é uma doença.
“Crônica e recorrente, ela resulta de alterações hormonais, sendo influenciada
diretamente por questões ambientais e comportamentais”, explica.
Conforme Bomeny, reconhecer obesidade como doença é
importante para pacientes se sentirem mais confiantes em buscar tratamento e
para que medidas públicas mais eficientes sejam implementadas pelos governos. A
obesidade é uma pandemia que não deve ser lembrada somente durante outra
pandemia. Trata-se de condição que é fator de risco para muitas outras doenças,
como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares, esteatose hepática (gordura
no fígado) e síndrome metabólica.
Rodrigo Bomeny - Especialista
em emagrecimento, Rodrigo Bomeny é graduado em Medicina pela Universidade de
São Paulo (USP), com residência em clínica médica e em endocrinologia e
metabologia pela mesma instituição de ensino.
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