Depois da luta pela sobrevivência enfrentada por tantas vítimas da covid-19, surge outra ameaça ao bem-estar dos pacientes: as lesões pós-covid. Isso porque nós, terapeutas de reabilitação, percebemos a ocorrência frequente de doenças neurológicas entre pessoas convalescentes da infecção por coronavírus.
Trata-se de uma constatação ainda passível de verificação e
comprovação científica, mas que chama a atenção. Após um número elevado de dias
de internamento, seguindo protocolos estritos de posição do corpo para melhor
aproveitamento respiratório, os pacientes podem apresentar lesões neuropáticas
por compressão dos nervos.
As lesões nos nervos ulnar, mediano e radial com frequência têm reflexos
neurológicos. Outras síndromes podem aparecer ou ser agravadas pela lesão no
internamento. A compressão, por exemplo, pode deixar o paciente sem a função da
mão – ainda que temporariamente – e com isso surge a necessidade de avaliação
por um terapeuta ocupacional.
Quando há a secção total do nervo, é necessária a reconstrução
cirúrgica. E quando temos o edema, é necessária a descompressão desse nervo
para o retorno da sensibilidade. Já algumas lesões ocasionam o total rompimento
entre nervo e cérebro, e o paciente perde o uso do membro.
Sabe-se que a “síndrome do garrote” tem relação ao tempo em que o
paciente permanece com esse instrumento em compressão no hospital, e isso pode
trazer a lesão do nervo, lesão neurocervical ou afetar a área de informação do
cérebro.
Para mim, nada disso parece definitivo, pois quando voltam os
movimentos, volta também a sensibilidade – e 50% da atividade motora se refere
a sensibilidade.
Trata-se de um ciclo: quando o paciente não sente a mão, não mexe
a mão; e quando para de mexer a mão, deixa de senti-la.... os mundos sensitivo
e motor caminham juntos.
Além disso, nos casos leves da covid-19, percebe-se, muitas vezes,
a ocorrência de falta de memória e o pensamento mais letárgico – resta ainda
saber se o próprio vírus teria relação com ela ou o tratamento. Outras
ocorrências posteriores ao tratamento incluem a dificuldade em respirar e
cansaço excessivo.
Tudo isso é muito recente, existem pesquisadores tratando do tema,
mas é importante atentarmos para a ocorrência de tais lesões nos pacientes
pós-covid-19.
Syomara Cristina Szmidziuk - atua há 30 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros.
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