Escolas são mais
vivas com crianças
Quando em março de 2020, o diretor-geral da
Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, declarou que o mundo
vivia uma pandemia do novo coronavírus, não poderíamos imaginar que as escolas
brasileiras chegariam a ficar mais de dez meses fechadas. Toda a comunidade
escolar foi pega de surpresa com algo nunca antes vivido – alunos, familiares,
professores, coordenadores e muitos outros funcionários fundamentais para o bom
funcionamento do ambiente escolar foram afetados.
Já em 2017, uma pesquisa da Universidade de Essex,
realizada com 40 mil famílias em diferentes épocas do ano e divulgada no jornal
The Economist, do Reino Unido, anunciava que as crianças são mais felizes
quando estão na escola que durante os longos períodos de descanso. Essa
tristeza foi explicada pela ansiedade da separação, causada pelo distanciamento
dos amigos. Um estudo mais recente, da Universidade de Oxford, realizado com
mais de 12 mil pais e analisados por uma equipe de psicólogos, concluiu que o
comportamento das crianças da escola primária piorou durante o isolamento
social, com um aumento de acessos de raiva e discussões.
Nos jovens, isso se refletiu com períodos de
inquietação e não cumprimento das ordens dos adultos. O estudo concluiu que a
saúde mental das crianças e jovens, incluindo o comportamento e a capacidade de
prestar atenção, melhorou depois que retornaram à escola. Assim, o isolamento
social revelou um crescimento nunca antes visto de transtornos emocionais, como
ansiedade e depressão, nas crianças de idade escolar.
Mas não podemos deixar de citar que esse período
trouxe também sérias consequências para o aprendizado dessas crianças. Primeiro
porque muitos estudantes e professores não estavam preparados tecnologicamente
– e esse tempo de adaptação atrapalhou todo o calendário letivo. Segundo,
porque o ambiente escolar foi substituído por mesas de jantar, escrivaninhas
apertadas no quarto escuro, cadeiras muitas vezes sem apoio para os braços ou
até para as costas – isso quando o ambiente de estudo encontrado não foi um
espaço compartilhado com outros membros da família, no qual a concentração e o
aprendizado são extremamente prejudicados.
A escola, por outro lado, sem as crianças, perdeu o
seu brilho, a sua luz, a sua vida. O barulho no recreio, as crianças correndo e
se trombando, o movimento pulsante… tudo parou. E a escola viveu períodos de
inutilidade. Um elefante branco com carteiras, quadros e gizes inúteis. Agora,
nada será como antes. A utilização da tecnologia - que pegou muita gente de
surpresa e, até mesmo, despreparada – veio para ficar. As aulas remotas não vão
acabar em 2021 e nem depois disso, elas serão parte do aprendizado,
intercalando com as aulas presenciais – o que chamamos de ensino híbrido.
Ao voltar a receber alunos, seja em partes ou em
sua totalidade, a escola volta a ter vida. Mas uma vida que foi profundamente
modificada por um vírus invisível. Os professores terão que rever os seus
papéis, os estudantes terão que retomar conteúdos perdidos ou incompreendidos
para acompanhar os colegas, os gestores terão que flexibilizar o currículo,
adaptar a infraestrutura e implementar protocolos de segurança que deverão ser
seguidos por todos.
Cada um dos personagens dessa história terão que,
juntos, encontrar uma forma de recuperar o tempo perdido, de voltar a vivenciar
o que de melhor a vida escolar sempre ofereceu, conciliando com os avanços que
a pandemia também trouxe. Vida nova para as escolas que, para voltarem a viver
em sua plenitude, precisam estar cheias novamente.
Celso Hartmann - diretor
geral do Colégio Positivo.
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