Confira as respostas às dúvidas mais comuns
Dados divulgados em dezembro de 2020, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que nos últimos dez anos aumentou cada vez mais o número de mulheres que decidem ter filhos após os 30 anos. Neste período, entre aquelas de 35 e 39 anos, o aumento de gravidezes foi de 63,6%. Entre 40 e 44 anos de idade, a alta no número de partos foi de 57% e, na faixa etária dos 45 aos 49 anos, de 27,2%. Até mesmo entre as mulheres com mais de 50 anos, a alta foi de 55%.
Não é novidade que mulheres vêm adiando cada vez mais uma
gravidez em nome da carreira e da estabilidade financeira. Em outros casos,
elas simplesmente não encontraram o parceiro e veem
o tempo passando. Há também aquelas que irão começar um tratamento de
quimioterapia, por exemplo, o que provavelmente irá prejudicar as chances de
engravidar no futuro.
No
entanto, quando a pandemia foi decretada oficialmente, muitas mulheres que
estavam pensando em engravidar, ficaram cheias de dúvidas, como, por exemplo:
se eu engravidar e for contaminada, meu bebê será afetado? A Covid-19 pode
alterar algo na minha fertilidade? As respostas, infelizmente, ainda não são
totalmente claras. Assim, congelar os óvulos se tornou a melhor opção e a busca
pelo procedimento aumentou cerca de 40% nas clínicas de reprodução humana.
Como
muitas mulheres ainda têm dúvidas e receios sobre o tema, o ginecologista e responsável técnico do Centro de Reprodução
Humana do IPGO, Arnaldo
Cambiaghi, responde algumas questões, confira:
1- Quais mulheres
devem considerar a opção do congelamento de óvulos?
O Congelamento de óvulos é
benéfico para todas as mulheres que desejam preservar a fertilidade para o
futuro. As indicações para o procedimento são:
I) Mulheres solteiras com pouco menos de 35 anos preocupadas
com a diminuição progressiva de sua fertilidade: embora os constantes avanços da ciência
tenham ajudado casais a alcançarem o sonho de
ter filhos, a realidade ainda está longe de evitar o envelhecimento dos óvulos.
Se no passado o início da maternidade era aos 20, hoje a média de idade do
primeiro filho supera os 30 anos, com tendência a aumentar. Atualmente,
observa-se que um em cada cinco nascimentos é de mães com idade superior a 35
anos. Algumas situações e mitos podem confundir as mulheres ainda mais, por
exemplo:
•
a ideia de que, atualmente, 40 anos equivalem aos 30 de antigamente;
•
todo mundo fala que ela esta ótima para a sua idade;
•
achar que a tecnologia e a ciência são capazes de resolver todos os problemas
da fertilidade, independentemente da idade da mulher;
•
achar que é improvável ser infértil por que teve um bebe há cinco anos;
•
veio de uma família fértil e seus avós tiveram um novo filho após os 45 anos;
•
usa pílula por muitos anos e por não ter ovulado neste período acredita que
seus óvulos foram preservados;
•
faz exercícios frequentemente, tem uma dieta saudável e uma boa qualidade de
vida, logo, imagina que quando desejar ter filhos não terá dificuldades;
•
teve um aborto há dois anos, quando tinha 43 anos, por isso tem certeza de que
pode engravidar;
•
acha que como pessoas conhecidas tiveram filhos com mais de 40 anos, ela também
pode;
•
sente-se muito jovem para entrar na menopausa.
II) Mulheres com histórico familiar de menopausa precoce
III) Fertilização in
vitro (FIV): em ciclos de FIV, algumas vezes pode haver
excesso de óvulos e o casal preferir evitar um número excessivo de embriões, o
que implicaria em problemas éticos e pessoais de “descarte”. O congelamento de
óvulos resolve estes problemas, pois óvulos são células, não são seres vivos, e
podem ser descartados se não forem utilizados.
IV) Mulheres que
serão submetidas a tratamentos oncológicos
V) Programa de banco de
óvulos: com a vitrificação de óvulos, hoje é
possível que
pacientes que desejam doar seus óvulos não precisem aguardar que se encontre
uma receptora.
2- Como é a técnica
do congelamento de óvulos?
Embora o esperma e os
embriões revelaram-se fáceis para congelar, o óvulo é a maior das células no
corpo humano e contém uma grande quantidade de água. Quando congelado, forma
cristais de gelo que podem destruir a célula. Ao longo dos anos aprendemos que
devemos desidratar o óvulo e substituir a água com um “anticongelamento” antes
de congelá-lo, a fim de evitar a formação de cristais. Aprendemos também que, porque
a casca do ovo endurece quando congelado, o esperma deve ser injetado com uma
agulha para fertilizar o óvulo usando uma técnica padrão conhecida como ICSI
(injeção Intracitoplasmática de espermatozoide).
3-Quanto tempo demora
este processo ?
Para se obter os óvulos, a
paciente passa pelo mesmo processo de estimulação dos ovários que se realiza na
fertilização in vitro, isto é: medicamentos injetáveis são aplicados
para que aumentem os números de óvulos recrutados. Esta fase dura de 8 a 12
dias. No fim deste período, os óvulos estarão maduros e serão aspirados
(removidos) com uma agulha colocada na vagina sob orientação ultrassonográfica.
Este procedimento é feito sob sedação endovenosa e não é doloroso. Os óvulos
são imediatamente congelados após sua retirada, ao invés de serem fertilizados.
E só quando a paciente desejar serão descongelados, fertilizados e os embriões
“colocados” (transferidos) no útero. O processo todo demora de 4 a 6 semanas.
4-Como é feito, passo
a passo?
Resumo:
Estimulação ovariana
Os melhores resultados do congelamento são obtidos quando coletamos os óvulos
já maduros, pois só estes são possíveis de fertilizar. A maturação in vitro
dos óvulos é possível, mas não obtém ainda os mesmos resultados. A estimulação
dos ovários tem o objetivo de produzir um número maior de óvulos maduros para
serem congelados. É feita com medicamentos orais que aumentam as gonadotrofinas
endógenas e/ou por meio de injeções subcutâneas de gonadotrofinas exógenas.
Bloqueio hipofisário
Tem o objetivo de impedir que a ovulação ocorra antes do momento da captação
dos óvulos e de garantir a maior precisão no acompanhamento do desenvolvimento
folicular.
Aspiração e recuperação dos óvulos
Sob sedação endovenosa, os folículos são aspirados por meio de uma agulha acoplada
a um transdutor de ultrassom transvaginal e o líquido imediatamente encaminhado
aos embriologistas para separarem os óvulos do conteúdo aspirado.
Congelamento
propriamente dito
*Veja o vídeo (clique
aqui)
5-Quanto tempo os
óvulos podem permanecer congelados?
Não há limite. Os óvulos
ficam armazenados da mesma maneira que os embriões, utilizando uma temperatura
de congelamento de -196º graus. Com base em evidências científicas, bem como a
nossa experiência de conseguir a gestação com embriões, há segurança que o
armazenamento de longo prazo de óvulos congelados não resulta em qualquer
redução na qualidade.
6-Quantos óvulos
devem ser congelados para conseguir uma gravidez?
Com base em dados
preliminares, do nosso estudo e de outros, as taxas de degelo do óvulo é de 75%
e taxas de fertilização de 75% são esperadas em mulheres de até 38 anos de
idade. Assim, se dez ovos são congelados, sete devem sobreviver ao
descongelamento e, de cinco a seis, são esperados para fertilizar e se tornar
embriões. Geralmente três a quatro embriões são transferidos em mulheres acima
de 38 anos de idade. Recomendamos, portanto, que pelo menos oito óvulos sejam
armazenados para cada tentativa de gravidez. A maioria das mulheres de 38 anos
de idade ou menos pode esperar para colher de 10 a 20 óvulos por ciclo.
7-Quais as taxas de
sucesso?
O quadro abaixo demonstra as
chances de sucesso de acordo com idade da mulher. Estes resultados têm nos
encorajado, cada vez mais, na indicação deste procedimento.
As taxas de gravidez de
óvulos congelados vão depender da idade no momento em que os óvulos foram
congelados, e não na idade em que serão implantados. Portanto, a possibilidade
de gravidez futura em mulheres com idade superior a 38 anos no momento do
congelamento é menor do que a observada para as mulheres mais jovens. Embora as
taxas de sucesso sejam menores em idades mais avançadas, é sempre bom lembrar
que isto não significa a impossibilidade e, muitas vezes, esta é a única
alternativa no momento.
9-O congelamento de
óvulos é seguro?
Milhares de bebês nasceram de
óvulos congelados e nenhum estudo demonstrou aumento da taxa de defeitos
congênitos, quando comparados à população geral nem aumento das taxas de
defeitos cromossômicos entre embriões oriundos de óvulos congelados em
comparação com embriões derivados de óvulos frescos.
10-Quais são os
custos?
Os custos para o congelamento
de óvulos correspondem aproximadamente a 80% de uma fertilização in vitro
convencional. Esta estimativa inclui monitoramento, medicamentos e congelamento
de óvulos. A paciente deverá pagar uma taxa anual de manutenção deste congelamento.
Os exames investigativos laboratoriais prévios para avaliar o potencial e a
saúde reprodutiva da paciente estão excluídos deste orçamento e poderão ser
feitos pelo plano de saúde.
Arnaldo Schizzi
Cambiaghi - responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista
obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da
European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de
Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois,
EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.
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