Para quem sofre com a anorexia, todos os pensamentos e planos
giram em torno da perda de peso
A adolescência é uma fase delicada, de muitas mudanças.
Adolescentes enfrentam um momento em que o corpo e a mente deixam de ser
infantis ao entrar em uma transição gradual para a fase adulta. A puberdade muda drasticamente a aparência física e, com
isso, alguns jovens desenvolvem visões distorcidas e problemáticas sobre si
mesmos, principalmente quando influenciados negativamente pelos padrões de beleza midiáticos.
Muitas vezes esse tipo de transtorno está associado
à baixa autoestima, à inclusão em um contexto de julgamento e
à idealização corporal. Ter vivenciado experiências traumáticas também pode
representar um fator precipitante para o desencadeamento do problema.
Anorexia: o que é?
A anorexia é
caracterizada por uma restrição alimentar patológica que leva a um emagrecimento
expressivo e potencialmente perigoso para a saúde. O início desse transtorno
geralmente envolve a adoção de uma dieta rigorosa e um profundo temor de ganhar
peso. O passo seguinte costuma ser a realização de um controle obsessivo das
calorias ingeridas no dia, que pode incluir também a recusa de alimentos, com o
risco de afetar as funções vitais do corpo.
Pacientes anoréxicas tendem a
pesar menos do que o adequado para sua altura e idade e, apesar de se olharem
no espelho constantemente em busca de encontrar a imagem de um corpo ideal,
jamais recebem o retorno esperado. Isso porque a visão distorcida do próprio
corpo é uma característica marcante da doença em questão. “O retrato que essa
pessoa tem de si mesma é totalmente irreal e diferente do que os demais
percebem quando a veem, e essa autoimagem distorcida é que leva ao transtorno
de anorexia", explica a psiquiatra do Hospital Águas Claras Carolina
Tajra.
Vale destacar que essa doença afeta principalmente
meninas entre 12 e 20 anos, mas os meninos também podem ter anorexia.
O que pode acontecer com o corpo de uma pessoa
anoréxica?
Várias consequências acometem o organismo se ele
estiver em um estado de fome por muito tempo. Para economizar energia, ele
começa a “desligar" diversas funções importantes. “Os sintomas de
transtornos alimentares em geral não são de fácil observação. Não é infrequente
o paciente ou seus pais só procurarem ajuda quando já existem outras
complicações clínicas associadas", explica a médica.
Claro que os impactos vão depender da gravidade e
do curso da doença, mas, de qualquer forma, é esperado que ao menos alguns dos
desdobramentos mais comuns, abaixo listados, se manifestem nesse paciente.
- Diminuição da frequência cardíaca
- Queda drástica da temperatura
corporal
- Pressão arterial mais baixa do que
o normal, podendo causar tontura e desmaio
- Piora da qualidade da circulação
sanguínea
- Maiores chances de desenvolver
problemas de osteoporose
- Interrupção das funções normais do
cérebro, o que abre espaço para a chamada atrofia cerebral, isto é, a
perda de tecido cerebral
- Enfraquecimento dos músculos
- Mau funcionamento do coração e dos
rins
- Diminuição do metabolismo
- Sensação constante de cansaço
- Deficiência de várias substâncias
de que o corpo necessita. Um exemplo recorrente é a falta do ferro, que
pode originar um quadro de anemia e ainda interromper/tornar irregular a
menstruação nos pacientes do sexo feminino
- Problemas gastrointestinais, como
dor de estômago, prisão de ventre e gases
- Pele e o cabelo podem se tornar
extremamente secos.
- Maior tendência à acne.
Felizmente, na maioria das vezes, os efeitos da
anorexia no corpo desaparecem conforme a pessoa com anorexia começa a se
alimentar de forma correta e recupera um peso saudável. Em alguns casos, porém,
a pessoa continua apresentando determinadas complicações mentais e/ou somáticas
significativas.
Tratamento para a anorexia
Se você está se perguntando se a anorexia tem cura, a resposta é ‘sim’! “O mais importante
para um diagnóstico e tratamento precoce", explica Carolina, “é a atenção
para recusas alimentares frequentes, perda de peso, preocupação exagerada com o
corpo e idealização de padrões corporais anormais. Apesar disso, por ser uma
doença heterogênea, não existe uma forma única de tratamento que seja eficaz
para todos os pacientes".
O primeiro passo na buscar por auxílio profissional
é pesquisar e se informar o máximo possível sobre a anorexia e como ela é
tratada. Depois desse momento e diante do interesse do paciente que sofre com
essa doença em ser ajudado, é hora que consultar um psicanalista ou psiquiatra
competente e experiente que conheça bem a natureza e o curso dessa doença. O
tratamento envolverá, claro, mudanças na maneira de se alimentar, mas também
nas formas de lidar com outras emoções difíceis. Em alguns casos é preciso
aliar a terapia com recomendações e programas dietéticos específicos por parte
de um nutricionista. “Afinal, é de extrema importância promover também uma
recuperação nutricional do paciente", relata a especialista. Medicamentos
antidepressivos também podem ser incluídos no processo se o especialista julgar
seguro e necessário.
Além disso, todos os pacientes devem ser submetidos
a um exame abrangente, em que as condições médicas, psicológicas e sociais são
mapeadas de forma completa, para avaliar e incrementar sua saúde e qualidade de
vida. Determinados exames são essenciais para conhecer a situação metabólica do
doente e para descartar outras condições médicas.
Com toda a certeza, o ponto mais importante desse processo é
o desejo de continuidade e a perseverança do paciente, construídos diante de
uma boa aliança terapêutica com o profissional responsável e de uma rede de
apoio na família. Os mais próximos da pessoa nessa condição precisam ter
atenção aos sinais de sofrimento, oferecendo ajuda de forma acolhedora e não
crítica. “Pacientes com transtornos alimentares já se julgam demais para
receber mais julgamentos", finaliza a médica.
Hospital Águas Claras
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