Transformando suas aulas em verdadeiros ritos sacrificiais, certos professores imolam a política, a filosofia e a história com o objetivo final de apequenar as mentes e conquistar os corações dos alunos para “a causa”.
Exagero? Infelizmente não. A Educação em geral e as universidades em particular
são um cacife político importantíssimo, no Brasil como em Cuba. Quantos atos de
formatura dão prova pública do que afirmo? Estes tempos de covid-19,
suspenderam tais solenidades. No entanto, até 2019, como legado dos anos de
hegemonia revolucionária, formaturas foram virando comícios políticos. Os
convidados, engravatados por respeito ao ato solene, enfrentavam o calor do
verão em homenagem a formandos que aproveitavam o público para desabafarem suas
animosidades políticas. Era festejado como triunfo o que deveria ser
interpretado como confissão de culpa do sistema e expressão ruidosa da
obstinada imposição de silêncio à divergência. O pluralismo e a universalidade
deixaram de ser inerentes a muito ambiente acadêmico.
A dita “defesa da autonomia”
deve ser entendida, principalmente, como defesa da hegemonia. Para isso,
mobilizam-se as universidades federais com o intuito de impedir que o
presidente da República exerça prerrogativa a ele conferida pela lei e escolha,
de listas tríplices, os nomes de sua preferência. Preservação da autonomia?
Não, mecanismo de autoproteção porque é ali, como bem observou José Dirceu, que
se conquistam os corações e as mentes.
***
Apenas portais e
sites católicos noticiaram o fato que dá título a este artigo. Uma estudante
foi obrigada pela fiscal do ENEM a retirar o escapulário e uma dezena do
rosário que trazia ao pulso como condição para poder participar da prova.
Alegação lacradora: “A prova é laica!”. Li a notícia no excelente Tribuna
Diária, acrescida da informação: “A Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público acionou o MP/SP para que instaure representação por crime de
preconceito religioso, etc.”.
Pois foi exatamente sobre esse tipo de objetivo político/ideológico que escrevi
o artigo “Sem virtudes, sem valores e sem vergonha” (1). Para arrastar a
sociedade de um país essencialmente cristão na direção de um regime totalitário
é necessário investir contra o cristianismo presente no espaço público, em nome
da laicidade do Estado. Por quê? Porque convence as pessoas de que a fé é
inerente ao indivíduo e tem dimensão privada, incompatível com o Estado e os
espaços públicos. Na sequência, facilitado por esse “entendimento”, ganham
caráter relativo e subjetivo também os princípios e valores correspondentes a
essa fé, que perderiam, assim, o direito de se manifestar publica ou
politicamente.
Como consequência, questões envolvendo princípios e valores morais se tornam
prerrogativa do Estado (confiram com as falas de ministros do STF). Tal receita
nos leva em marcha batida à perda das liberdades e ao totalitarismo. Ele já se
expressa, entre nós, na rejeição ao Direito Natural e no silêncio imposto a
Aristóteles, Tomas de Aquino, Francisco Suárez e a tantos filósofos
conservadores e liberais contemporâneos. A toda divergência, enfim.
É o laicismo assumindo-se como artefato bélico da revolução cultural, cujo
objetivo é bem conhecido.
* Publicado originalmente em Conservadores e Liberais, o site de puggina.org
(1) https://www.puggina.org/artigo/sem-virtudes,-sem-valores-e-sem-vergonha__17352*
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
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